Lisboa, 25 de julho de 2005 Caros amigos de Sergipe: Estou construindo um pequeno prédio de apartamentos na apresível cidade de Cascais, o objetivo do investimento é, evidentemente, obter uma renda extra com a locação das referidas moradas aos bons inquilinos que hão de vir após a tão aguardada conclusão da obra. Esta semana, porém, a empreitada teve que ser interrompida temporariamente por força de decisão judicial. Ocorre que Manoel, um dos meus pedreiros prediletos e dono de uma inteligência privilegiada foram vítima de um grave acidente de trabalho. A indenização reclamada à seguradora ficou bastante alta e a companhia entrou na Justiça alegando “uma enorme quantidade de faturas jamais dantes vistas em um mesmo acidente”. O sinistro aconteceu após o gajo verificar que ao término de sua jornada de trabalho haviam sobrado 250 quilos de tijolos no sexto andar, onde estava trabalhando naquele dia. Manoel teve então a brilhante idéia de colocar todos eles num mesmo recipiente, no caso um barril que estava no térrio. É importante esclarecer que a cavalgadura estava sozinho naquele momento e havia uma corda com uma roldana na parte externa da construção, usadas normalmente para o transporte da argamassa com a qual são assentados os tijolos. Manoel então desceu ao térrio e amarrou a corda no barril e subiu para o sexto andar de onde puxou o dito cujo para cima, colocando os tijolos no seu interior. Retornou em seguida para o térreo, segurou a corda com força, segundo ele “para que os tijolos descessem lentamente”. É importante esclarecer que o peso do referido pedreiro oscila em torno de 80 quilos. Surpreendentemente, porém, sentiu-se violentamente alçado do chão e perdendo sua característica, presença de espírito, esqueceu-se de largar a corda. Acho desnecessário dizer que o pobre homem foi içado do chão e grande velocidade. Nas proximidades do 3º andar, deu de cara com um barril que vinha a descer. Resultado: fraturas no crânio e nas clavículas. Manuel continuou a subir a uma velocidade um pouco menor. Somente parando quando os seus dedinhos ficaram entalados na roldana. Felizmente, nesse momento, Manuel recuperou a sua presença de espírito e conseguiu, apesar das fortes dores continuar agarrada a corda. Simultaneamente, no entanto, o barril com os tijolos caiu ao chão, o que partio seu fundo. Sem os tijolos, o barril pesava aproximadamente Como podem imaginar, a anta começou a cair vertiginosamente agarrada à corda, sendo que próximo ao terceiro andar, quem o encontrou? Isso mesmo, o barril, que vinha a subir. Resultado: fraturas nos tornozelos e lacerações nas pernas. Felizmente, a redução da velocidade da descida, veio minimizar o sofrimento da cavalgadura, que caiu em cima dos tijolos, o que lhe causou apenas a fratura adicional de três vértebras. No entanto, lamentavelmente houve ainda um pequeno agravamento do sinistro, pois quando Manoel se encontrava caído sobre os tijolos e vendo o barril em cima dele, partindo-lhe finalmente as pernas. Como empregador do pobre diabo, estou arrolado como testemunha e como tal, devo confirmar a sua versão. Mas afinal, diante de tamanha inteligência quem haveria de negar seus argumentos? Haja presença de espírito! Volto semana que vem! Um abraço do Apolônio Lisboa.
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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