A mãe que habita em mim só quer um minuto de silêncio e paz

Tinha planejado escrever quatro textos ao longo do mês de maio, pensei em como começaria, os temas que abordaria em cada um deles. Todos seriam sobre a maternidade  e seus processos ao longo de cada fase, desde a gestação até o acompanhamento do desenvolvimento da criança. Porém, como sempre e que bom, a vida é imprevisível e ela arrebata você de sua zona de conforto para que assuntos tão complexos ganhem uma versão diferente.  Fui surpreendida pela discussão (de novo) sobre quem tem lugar de fala para se afirmar mãe, e me questionei: mas por que as pessoas estão brigando para ocupar um local de reconhecimento que é tão pesado e tão desconfortável socialmente? Será que as mulheres que reivindicam esse lugar de mãe de animais ou plantas já refletiram profundamente sobre as dificuldades que se sobressaem ao amor no duro cotidiano das mães (biológicas, adotivas etc.) de pequenos seres humanos?

 

Quando falo em refletir profundamente, não é acusar as mulheres de serem sobrecarregadas por uma escolha. Que as mulheres poderiam prever que seus companheiros poderiam não ser pais presentes, que sua família poderia não ser uma rede de apoio, que as pessoas não têm obrigação de cuidar de bebês alheios, que os métodos contraceptivos estão aí, engravida (a mulher) quem quer, que sabemos que tudo muda, que a carreira precisa desacelerar, que o corpo muda, mas, nós escolhemos isso, então, por que reclamamos? Por que as mães de bebês, crianças, reclamam tanto?  A equação é simples, mulheres reclamam de sobrecarga porque a sobrecarga existe e é cruel. Mulheres reclamam de sobrecarga, mesmo com tudo planejado porque em alguma esfera, ela será arduamente cobrada a agir como se não tivesse procriado, mesmo quando, sobretudo a partir dos 30 anos, toda a sociedade cobra dessa mulher que ela gere uma criança.

 

E como podemos ajudar? Mais simples ainda, não enchendo a paciência de mães que só querem um minuto de paz e que não estão nem aí para quem se intitula mãe ou pai de pet porque provavelmente estão ocupadas demais com inúmeras coisas como manter o seu bebê vivo numa pandemia, por exemplo, que, acreditem, é bastante desafiador e difícil. Ajuda muito quem não atrapalha, diz o ditado popular, e não atrapalhar é também evitar discussões e palpites desnecessários sobre como cada INDIVÍDUO e SUJEITO deve agir em relação a suas escolhas e processos. Quando a gente cuida de nossa vida, ela flui com muito mais leveza e amor, acreditem.

 

“Ah, quanto mimimi, também ninguém pode falar mais nada?”, vamos ler novamente: MUITO AJUDA QUEM NÃO ATRAPALHA. E não atrapalhar é justamente não falar desenfreadamente e de maneira ignorante sobre assuntos que não te dizem respeito e que não irão agregar na luta contra o machismo e na luta por equidade de gênero. O patriarcado segue vencendo enquanto continuarmos dando importância a discussões egocêntricas, afinal, por que você se importa tanto em ser reconhecida no dia das mães (uma data capitalista etc. e tal), como uma mãe de planta e pet por outras mães de seres humanos, enquanto todas nós, mulheres, seguimos sendo massacradas pelo sistema machista, que estruturalmente nos exclui a partir de sua própria pressão e vontade?

 

No mês das mães, eu só quero um minuto de paz.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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