A mãe tá ON!

Decidi voltar na semana em que se comemorou o dia de Oxum e de Nossa Senhora da Conceição, duas figuras femininas com arquétipos que por vezes se confundem em nossa cultura popular. Nossa Senhora da Conceição, santa católica, padroeira de Portugal e de Aracaju é uma santa ligada à maternidade, apesar de sua história ser marcada por sua característica como santa imaculada, livre da mancha de pecado, pura.

Oxum, divindade de origem nigeriana e iorubana, acho importante destacar as regiões, uma vez que a África é um grande continente, onde as expressões religiosas são distintas, chega ao Brasil com um arquétipo também voltado à maternidade, ao amor, porém, uma maternidade e amor que se distanciam dos que são ditos pelo catolicismo.

Esse texto não vem para comparar as duas, tampouco afirmar que são uma só figura. Estou refletindo sobre como Oxum, cujos itans – histórias- apresentam uma mulher estrategista, inteligente, com grande capacidade de articulação política, chega ao Brasil e é sincretizada com uma santa cuja história difere em tudo da sua.

A partir disso, reflito também sobre a importância do contar as histórias, sobre saber quem irá contar as nossas histórias e como essas histórias serão contadas. Quando continuamente reproduzo a importância de me sentir representada enquanto mulher em todos os espaços é para que no futuro, histórias como a minha ou a de outras mulheres, a exemplo de Conceição, Oxum, Cleópatra, não sejam contadas a partir de idealizações de um imaginário masculino e machista, que classifica as mulheres a partir da pureza ou do perigo.

Pegando emprestado os escritos de Chimamanda Adichie, eduquemos as nossas crianças para que elas contem suas histórias, para que sejam protagonistas de seus caminhos, e para que nossas narrativas, sobretudo de nós mulheres, não sejam reduzidas a padrões de beleza ou características emocionais, a exemplo da pureza de Nossa Senhora da Conceição, que certamente era muito mais do que sua pureza e castidade, e Oxum, que certamente é muito mais do que a Orixá da beleza, do ouro e da maternidade.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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