A moda e a ressurreição de João Alves

Há uma frase, atribuída ao pensador George Santayana (1863-1952) segundo a qual “seria insuportável se a moda não mudasse”.

Parece, se as pesquisas eleitorais forem confirmadas, que o mofo deu naquilo que se intitulou novidade, e o eco restou vazio nas esperanças acenadas, por tantas satanizações proclamadas em regurgitações vazias, de azias e fobias, de quem não se contempla espelho.

E os espelhos, iguais ao papel não violado pelo ensaio ou opinião, tudo recebem, devolvendo sem distorcer, por reflexão regular, como assim diriam os estudiosos da Catóptrica, ramo da Física que reflete o choque da luz perante aqueles que lhe são opacos ou de rala permeação.

Se os espelhos, por permeação seletiva, pudessem refletir e maturar as ideias, sentimentos e desejos…

Se os espelhos pudessem opinar, discordar ou ponderar o verdadeiro diante do Narciso quisto, reflexo do cisto narcísico, que todos somos e nos felicitamos sem cansaço…

Se os espelhos fossem assim, iguais àquele de miragem preferida da Bruxa da Branca de Neve,…

Se os espelhos comparassem e decidissem,..; desespero e angústia seriam vastos a semear um amplo pensar homicida.

Porque se alguém resolver entender a ascensão de João Alves nas pesquisas eleitorais que se divulgam como reflexão verdadeira, espelhando a real vontade do eleitorado, ver-se-á que a Bruxa da Branca de Neve tem razão no seu arroto rancoroso; a Bruxa caiu de moda. Já era tempo!

Felizmente a moda envilece e desaparece.

Falaram muito mal de João!  Acusaram-no de tudo. Só não disseram que era boiola, porque nunca teve jeito pra isso, e porque muitos se louvam assim; por moda! E haja moda!

“Não tenha medo de ser feliz”, diziam. Em João denunciavam o cerne que a todos infelicitava, em óbice de sonho, impedimento à plena e geral felicidade.

Em nova utopia prometida, o mundo restaria melhor, se fosse entregue à gestão dos despreparados e dos eternos reprovados nos bancos escolares da vida.

Porque até aí João lhes fora diferente; por estudioso e pesquisador sem cansaço.

Seus livros refletindo a problemática sergipana, nordestina e brasileira, longe de fertilizar a ampla aridez do debate, suscitavam o apressado apedeutismo detrator: “Não li, e não gostei”.

Assim restaram dois estudiosos apenas: João Alves e José Carlos Machado, o ceboleiro inteligente de Itabaiana Grande.

Surgiu então a suprema ousadia. João e Machado, porque companheiros de lutas por décadas, construíram uma chapa puro-sangue; sem temer as armadilhas letais, as pichações venais e os linchamentos eleitorais.

Ora, o povo não é besta! A moda vem, a moda vai,…, e, felizmente, a moda cai.

Cai até o modismo de falar mal do velho, quando muitos são os jovens, que cedo apodrecem sem vingar e amadurecer.

“Envelheçam!” Dizia o genial Nelson Rodrigues aos tolos que o julgavam a caquético, senil e ultrapassado.

“Amadureçam!” Parece dizer o povo aos des-criativos marqueteiros que pensam vender bom prefeito, como se fora um Chester, aquele frangão de marca Sadia, que não é peru, nem é avis rara, mas é uma espécie de capão, por exuberância de asa e coxa, somente; em desserviço atroz a qualquer candidato.

Ora, se a caquexia não atinge os de grande labor, denuncia-se por maior demérito, que João Alves fora um prefeito biônico, suprema ironia de uma Ditadura de quem pintam todo mal.

Ah quantos biônicos inesquecíveis e não superados em correção, eficiência e zelo com a coisa pública; de Lourival Baptista ao exemplar Paulo Barreto de Menezes, continuando com o operoso José Rollemberg Leite e findando com Augusto Franco, cuja feliz bionicidade permitiu um dos melhores governos por Sergipe contemplado!

Bionicidade abençoada também em João Alves como Prefeito de Aracaju, afinal ninguém, antes dele ou depois, por eleição direta inclusive, ninguém saiu do Palácio Inácio Barbosa em ampla realização e popularidade.

E olhe que muitos o quiseram afastar de sua obra, desqualificando-a, desmerecendo-a, apagando-a. Desde aquele tempo!

Mas, a passagem de João pela Prefeitura ficou para Aracaju como uma pregação de boa nova.

Debalde seria qualquer tentativa de calar o povo se isso fosse tentado; “as pedras por se só falariam”.

Assim, descontentando a tantos do seu governo, o Governador Augusto Franco foi buscar na oposição o nome de João Alves Filho para enfrentar as eleições diretas de 1982 para o Governo de Sergipe.

Era como se a perspectiva de uma derrota eleitoral iminente reeditasse o feito de Roma ameaçada pelas tropas de Aníbal Barca. Foi preciso buscar o general Publio Cipião no ostracismo em que se encontrava, para liderar e conduzir os exércitos em fuga.

Ah! É verdade! A história se repete!

Para Karl Marx, tal repetição é dupla; uma trágica outra farsesca, num testemunho de que lhe não era de agrado nem a primeira, nem a segunda, embora ambas exibissem ao seu modo, a grandeza e a pequenez dos homens.

Mas a história se repete ensejando também o riso por gozação de outro Marx, não o Karl raivoso, mas o Groucho, o mais inteligente dos Marx. Porque nas repetições históricas a calúnia ressurge quando o medo é superado.

Cipião, como Cincinato e igual ao Alves João, seria jogado no ostracismo pelos eternos asteroides do poder, estes astros sem luz e brilho, eternos áulicos, mestres no afago e no riso ao sol entronizado por plantão.

Para aqueles de então, João era apenas mais um “negão”, algo de desprezo, um meia-casta, como em Roma; com Cincinato e Cipião.

Indiferente àquele aconselhamento vazio e preconceituoso, João voltara para os seus estudos, o seu arar comum e quase prosaico.

Acontece que as eleições diretas de 1982 surgiam como tropas púnicas ameaçando a fragorosa derrota de Roma.

E foi lá junto ao seu arado, seu fazer corriqueiro, qual Cincinato ou Cipião, porque a história se repete em cachoeira sem exaustão, foi ali que João recebeu, sem golpe, força ou imposição, a liderança das forças situacionistas naquela que seria a primeira eleição direta, em prenúncio de Nova República.

Ou seja; se João foi um Prefeito biônico, como o deslustram seus detratores, foi também o primeiro Governador eleito. E mais: eleito várias vezes, sempre numa parceria vitoriosa.

Mas, introduzindo um contraponto à Groucho Marx: “O casamento é a principal causa do divórcio.” Se aquela parceria se repetiu vitoriosa, o divórcio aconteceu, e João, nos últimos anos, estava a curtir um ostracismo como se fora o único vilão.

Foi um tempo de se intentar tudo e mais alguma coisa contra João Alves, aí incluída a guerreira Maria do Carmo, em desrespeito até à sua fragilidade física, atentando contra seu mandato senatorial, e a José Carlos Machado porque resistiu no seu pensar.

Agora, à falta de ideias, marqueteiros pintam um João biônico prefeito e a Machado, um ser terrível, poderosíssimo, espécie de super-herói sergipano, alguém que vai cindir com os próprios dentes o espaço territorial de Aracaju.

Com tanto marqueteiro em aconselhamento bisonho, eu me amparo em Marx, o Groucho, aquele ser gozador e a graça advinda das pesquisas eleitorais: “Você prefere acreditar em mim ou em seus próprios olhos?”

Assim, se as pesquisas se confirmarem, ver-se-á que João, Machado e a guerreira Maria não foram esquecidos pelo povo.

Eis então muita gente morrendo de raiva se mirando no espelho da pesquisa. E não é porque a eleição está decidida! Não!

Foi porque a moda mudou. Já era tempo!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais