César Macieira fez o curso de medicina, mas sua vocação estava nas artes, criando, representando ou recitando, em voz alta, textos que deram vida a personagens e a atuações performáticas, tão ao seu gosto. E se é verdade que a ciência perdeu um médico, é igualmente verdadeiro que a arte ganhou um ator, consciente do seu papel nos palcos, e na televisão, protagonizando novelas, séries, conquistando um merecido destaque dentro e fora de Sergipe. Precoce em suas atividades culturais, César Macieira aventurou-se no Rio de Janeiro e fez sucesso como ator global. Mas, sem força para reagir à atração do retorno, que alguém já chamou de “praga do índio Serigy”, César Macieira largou a carreira futurosa e voltou para sua terra, para o convívio dos amigos, de todas as idades, e para conquistar platéias locais, embevecidas com sua capacidade de redescobrir os talentos sergipanos. Mais do que um ator, César Macieira ocupou microfones de emissoras de rádio, produziu e ajudou a produzir programas que tinham a literatura no centro, em evidências, renovando a memória sergipana e distribuindo textos de autores que nem sempre são reconhecidos, apesar da qualidade do que fazem. Inquieto, disponível, Cesar Macieira não deu à própria saudade a atenção que dava, diariamente, à arte e à cultura. Pouco a pouco foi definhando, adoecendo, perdendo resistência, até ser vencido pela morte, na manhã do dia 13. Sua morte não surpreendeu a família e nem os amigos, mas causou uma dor inconsolável, de uma perda que atinge a todo o Estado, pelo alcance do trabalho que o ator empreendia, incessantemente, como um jogral solitário, a espalhar poemas, textos, distribuindo visões que acalantam sonhos, esperanças, reconstruindo, todos os dias, as expectativas da vida. Grande número de amigos e amigas, fãs e admiradores, acorreram ao salão de entrada do Teatro Ateneu, onde ele revelou, certo dia, que queria ser velado, para uma última homenagem, representativa do apreço, da estima, da amizade para com o ator morto, o que valoriza, imensamente, sua vocação de artista, a serviço de causas que estavam na vanguarda das pessoas e dos grupos sociais. Somente a morte poderia mesmo calar a voz do ator, sua capacidade de representar, seu olhar, quase inquisitorial, lançado ao público, seus gestos pausados, sua pantomima diante de olhos e ouvidos atentos, em cenas muitas vezes repetidas, nos ambientes onde a arte e a cultura circulam, valorizadas. A morte do ator estanca um movimento que ganhava notoriedade, entre os sergipanos. Tristeza, saudade, emoção se misturam como sentimentos diante da morte de César Macieira. E se há algum consolo é constatar que César Macieira era tão artista que morreu num dia de festa do povo.
César Macieira, médico e ator, morreu aos 53 anos, em Aracaju, no último dia 13 de junho, dia de Santo Antonio. Nascido em 3 de maio de 1954, César Macieira foi, desde criança, um curioso com as coisas da vida e do mundo. Deixava o pai embaraçado com perguntas que não pareciam ser de criança. E assim cresceu, interessando-se por cinema e sendo realizador, na bitola do Super 8mm, de vários documentários e curtas, como o que registrou a Dança de São Gonçalo, no povoado Mussuca, em Laranjeiras, e que teve a orientação da professora Beatriz Góes Dantas. César Macieira e Pascoal Maynard
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