Andreza Maynard
Doutora em História
Pós-doutoranda em História pela UFRPE
Membro do GET/UFS/CNPq
Bolsista CNPq/Fapitec-SE em modalidade DCR
Em agosto de 1939 Darci Vargas esteve em Aracaju. O fato foi registrado pelo jornal local “Correio de Aracaju”. Autoridades foram cumprimentar a esposa do presidente Getúlio Vargas no aeroporto. No entanto, não houve tempo para preparar uma recepção mais festiva. Na verdade a primeira dama do país estava apenas de passagem. Ela seguia de avião para os Estados Unidos.
Darci decidiu viajar, mesmo desacompanhada pelo marido, depois que soube que sua filha Alzira Vargas e seu genro o comandante Ernani Amaral Peixoto, interventor do Rio de Janeiro, haviam sofrido um acidente automobilístico próximo a Kingston, Ontário, no Canadá. O carro deles se chocou com outro à noite. Os dois brasileiros iriam repousar alguns dias em Kingston e regressar a Nova York.
Vários jornais impressos do Brasil registraram o fato. E a Agência Nacional lançou uma nota oficial comunicando a respeito do acidente, mas também informando que os dois estavam bem. O próprio Getúlio registrou em seu diário, no dia 21 de agosto de 1939, que havia recebido um telegrama da filha comunicando sobre o “desastre”. Depois de esclarecer o ocorrido com o Itamarati e de ter certeza de que estava tudo bem, Vargas contou o episódio à esposa, que insistiu em ir ao encontro da filha para se tranquilizar e trazê-los de volta ao Brasil.
No dia 22 Darci partiu do Rio de Janeiro às 6h da manhã num avião da Panair em direção aos Estados Unidos. Varias autoridades estiveram presentes na estação de hidroaviões, incluindo o Ministro Gustavo Capanema e esposa, o diretor do Departamento Nacional de Propaganda, Lourival Fontes, e o chanceler Osvaldo Aranha, dentre outros. Às 14:10h o avião com a ilustre passageira pousou em Aracaju.
Darci Vargas demorou pouco tempo na cidade e sequer deixou o aeroporto. Sua estadia na capital sergipana se devia mais a uma necessidade logística da companhia aérea do que ao desejo de visitar a tranquila Aracaju. Ainda assim, uma comitiva de autoridades se deslocou ao aeroporto para prestar sua solidariedade à família do presidente. Estes eram os anos do Estado Novo e para além da lealdade política, fazia-se necessário dar demonstrações públicas de fidelidade incondicional a Vargas. Assim, na oportunidade a primeira dama recebeu o cumprimento do Interventor e esposa, Prefeito e esposa, Secretários do estado, Comandante do 28º BC, Capitão dos Portos e do chefe da sucursal da Agência Nacional no estado.
A viagem duraria aproximadamente três dias. Darci Vargas saiu do Rio de Janeiro dia 22 (terça) pela manhã, pousou em Aracaju à tarde. O “Correio de Aracaju” fez questão de destacar que da capital sergipana a primeira dama seguiria diretamente para Miami. Mas dificilmente o avião da Panair, um “baby-clipper”, teria autonomia para voar tanto tempo sem precisar ser abastecido. Era uma viagem com outras escalas. Contudo, o periódico sergipano tentou atribuir maior importância à passagem da primeira dama por Aracaju.
A data da chegada de Darci Vargas aos Estados Unidos no dia 25, sexta-feira, foi confirmada no diário de Getúlio. Na maior parte de suas anotações pessoais, Vargas informava sobre o que acontecia em seu expediente e compromissos públicos, como despachos e audiências com Ministros e Secretários. No dia 1º de setembro de 1939, por exemplo, ele escreveu que “Ao levantar, tive a informação de que começara a guerra, pelo ataque da Alemanha à Polônia”. Getúlio dava grande importância ao trabalho, muito embora deixasse escapar detalhes mais íntimos como passeios, partidas de golfe, idas ao cinema, preocupações com a saúde, a família e sentimentos um tanto quanto secretos.
No dia 11 de setembro de 1939 o chefe do Estado Novo brasileiro confessou suas preocupações com a doença dos dois filhos menores, com o filho mais velho que estava em Berlim, com o acidente de automóvel de Alzira Vargas e Amaral Peixoto. Darci que havia viajado para cuidar dos dois, também adoece e chega a ser internada num hospital. Outro motivo de preocupação era a própria saúde do presidente e outros “motivos sentimentais”.
O filho mais velho de Vargas, Lutero, estava em Berlim a convite de Hitler. Getúlio expressou alguma preocupação em seu diário diante da falta de vontade do rapaz regressar ao Brasil. Com a Alemanha em Estado de Guerra Vargas tinha razões para insistir no retorno do filho. Já Alzira Vargas e o esposo estavam de volta ao Rio de Janeiro no fim de setembro. Vargas registou em seu diário sua satisfação e alegria em abraçar a filha.
Por sua vez, a passagem de Darci Vargas por Aracaju não aparece nas anotações dos diários de Getúlio. Em parte o destaque dado pelo “Correio de Aracaju” ao fato se deve à atenção que o periódico oferecia ao cotidiano da cidade, mas também à necessidade de relacionar Aracaju a eventos de maior relevância e de mostrar que o periódico conferia grande importância à família do presidente.