A pedagogia de um golpe

Décadas de estudos produzidos no pós segunda Guerra Mundial, pesquisadores das áreas das Ciências Sociais, Econômicas, entre outras áreas de pesquisa para explicar fenômenos como o surgimento e consolidação do nazismo, do fascismo, movimentos políticos cujos seguidores viviam numa espécie de idolatria e obediência a uma figura de líder supremo com discurso que remetia a um inimigo construído para causar alienação e revolta. Acharam parecido com alguma coisa?

Pois bem, discursos extremistas e fundamentalistas não são uma novidade no mundo, tais discursos são muito utilizados como armas eficazes de poder, uma vez que é através da manipulação de grupos que o poder alcança grandes proporções, sobretudo quando há fragilidades endêmicas no sistema político já existente, como é o caso de nosso país. Vale pensar também que aliar a religião à política é uma tática muito antiga e comum a muitos desses movimentos radicais para convencer de forma irrefutável quem quer que faça parte de círculos de fé. Além da manipulação de uma sociedade através de seus representantes nas esferas de poder através de discursos que pregam um antagonista para odiar com base na fé, há também, nos discursos radicais, a alusão a uma ordem que só pode ser garantida através da força policial. Ou seja, somente uma intervenção militar seria capaz de manter a ordem na comunidade, com frentes de polícia e forças armadas atuando para combater qualquer tipo de infração à lei, à moral e aos bons costumes das famílias tradicionais.

Bom, já conhecemos e vivemos esse cenário, o que me espanta não é a criação do antipetismo, da associação do Partido dos Trabalhadores (PT) e seus membros como símbolos da corrupção extrema num país em que a corrupção é estrutural e institucionalizada em todas as esferas sociais, o que me espanta são instituições de ensino e pesquisa apoiando um golpe militar e um comportamento quase como o dos apoiadores do pastor Jim Jones, aquele que induziu o suicídio de aproximadamente 900 pessoas, convencidas por seu discurso tão bem articulado, que escondeu todas as suas falhas de caráter, a exemplo de casos de corrupção em que ele esteve envolvido, como relata Laura Kohl, autora de um livro sobre este caso.

É curioso que existam instituições de ensino que saibam que a Ditadura Militar, apesar de ter contribuído para a expansão do ensino, fez cortes significativos na educação, o que favoreceu e muito para o cenário de defasagem de ensino e aprendizagem que se reflete ainda hoje em tantos espaços educacionais, sigam defendendo um golpe militar e o fim da democracia. Mais curioso ainda quando são instituições de ensino superior que tem o curso de Direito em seu leque de opções. Quando vejo tais representantes em manifestações antidemocráticas pedindo pela volta da ditadura, me questiono sobre a credibilidade de tais instituições no que tange à formação de bons profissionais, já que desconhecem a história do país, do que representou o período militar para a educação brasileira, e do quanto se perde quando se questiona um sistema eleitoral que nunca apresentou falhas desde a implementação das urnas eletrônicas, modelo para todo o mundo.

Mas, o silêncio e a falta de punição para os crimes de apologia e crimes contra a constituição e o poder da democracia são os que mais me afetam, pois é o atestado de que nossa sociedade não é ignorante, a nossa sociedade é perversa, é a sociedade que não quer direitos iguais porque não permite que abusos aconteçam, direitos iguais não permitem subordinação, assédio, ameaças, pois com melhor qualidade de vida da população, como essa pequena parcela de pessoas economicamente poderosas irá subordinar as pessoas às suas vontades? Como o brasileiro poderoso irá sobreviver sem empregadas que descasquem suas frutas e tire seus pratos da mesa? Como irá sobreviver sem poder cometer inúmeros delitos e pagar por isso com um cheque, um emprego, uma propina? Como os grandes empresários irão apoiar melhoria de direitos à população, se com isso, eles estão perdendo dinheiro ao assinar uma carteira e garantir um FGTS?

Por isso, torço por uma rede de ensino público cada vez mais fortalecida, pois, infelizmente, algumas instituições privadas de ensino esqueceram que a função básica de uma universidade é garantir a aprendizagem de conhecimento, não negligenciando o mesmo com base em desinformação, sobretudo acerca da do documento mais importante de nosso regime democrático que é a Constituição Federal. Além disso, peço, encarecidamente, que a sociedade, e me incluo nela, obviamente, eduque as suas crianças para saber perder e respeitar os resultados, entendendo que nem sempre ganhamos o que queremos, e nem sempre o que achamos melhor é o que deve prevalecer a todo custo, para que a gente não tenha mais casos de gente pendurada em capô de caminhão e cantando Hino Nacional para pneu.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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