Lisboa, 10 de fevereiro de 2008
Caros amigos de Sergipe:
Depois do reencontro de Zenóbia, minha ex-patroa sexagenária, com a minha carnavalesca pessoa, fui convencido a voltar com ela para Portugal. Primeiro porque os taxistas da cidade andaram reclamando que Zenóbia forçava muito a suspensão do lado do passageiro. Fiquei solidário, e ela grata com o meu apoio. E depois porque lembrei que todas as minhas empresas de fachada estão em total bancarrota.
Ainda ficamos uns dias em Recife. Certa manhã resolvemos ir à Praia de Boa Viagem. Lá, imediatamente alugamos uns pés de pato e máscaras, meu quindim queria fazer mergulho submarino. Mas o que deveria ser apenas um passatempo, amigos, transformou-se numa confusão dos diabos.
Uns surfistas que estavam esperando onda perto da arrebentação, confundiram Zenóbia com um tubarão martelo e acionaram a Guarda Costeira. Os rapazes da Guarda chegaram mais próximos da área com barcos e arpões, mas felizmente um deles teve a presença de espírito de avisar que Zenóbia não era tubarão coisa nenhuma, ora bolas!. Fora um rebate falso:
-É só um boto cor de rosa! Avisou aos colegas mandando baixar as armas pois o animal está em extinção.
Depois do constrangedor mal entendido, embicamos rumo à agência de viagens à guisa de marcar as passagens. O taxista, de cara emburrada, denotem bem. Marcamos a viagem para o mesmo dia.
Antes de irmos ao Aeroporto, porém, fomos jantar num restaurante com música ao vivo, onde ela cismou de dar uma canja, a fim de aliviar a tensão. Dar não, cometer.
O gerente achou a performance tão ruim que pagou a nossa conta antes mesmo dela terminar de cantar o “Tico Tico no Fubá” no empolgante ritmo da Pisadinha.
Pensei cá com meus botões: se outras casas de show também adotarem a mesma sistemática, vamos economizar uma baba em jantares e mesas de bar. Foi daí que me veio a brilhante idéia de estimulá-la a dar mais canjas em bares.
Zenóbia se empolgou e já quer virar cantora da noite. Quer adotar o nome artístico de Zen, a ‘Pimentinha Lisboeta’.
Já a minha carreira de escritor supimpa é que vai de vento em popa. Quarta feira que vem, por exemplo, estarei em Cabo Verde para o lançamento do meu último livro intitulado “Conflitos de Identidade nas Relações Sexuais com Pôneis e Congêneres”. Espero cansar a mão direita de tantos autógrafos que darei. Já tenho experiência nisso (não em dar tantos autógrafos assim, mas em cansar a mão direita). O único problema é que, contando com o presidente Cabo Verde só tem treze leitores.
Mas, mesmo assim aproveitarei a viagem para fazer uma segunda lua de mel com Zenóbia. É amigos, chega uma hora na vida que todo homem faz uma reflexão profunda e sente inevitavelmente o desejo de mudar. Eu não sou exceção.
Quero mudar de vida, quero ir para uma casa muito maior com closet, vista para o mar e quadra de squash. Doravante serei um homem inteiramente dedicado ao recanto sacrossanto do meu novo lar, ao lado da minha veneranda patroa sexagenária e de Sulamita, a secretária bilíngüe e boazuda. Ninfetas lésbicas, nunca mais!
Depois dessa empolgante lua de mel, embicarei rumo à Cuba. Lá entre charutos e margueritas, pretendo concluir meu novo livro, intitulado provisoriamente de “As Aventuras de Conchita Calderon Pelos Canaviais da Ilha”, brochura sobre a qual me debruçarei numa próxima carta.
Ah, o que seria do mundo sem a boa literatura? É o que vos pergunto.
Até semana que vem.
Um abraço do
Apolônio Lisboa