A poesia (Selecionada) de Mário Cabral

Mário Cabral
Mário Cabral, intelectual sergipano nascido em Aracaju, em 26 de março de 1914, reuniu numa seleta parte de sua poesia, oferecendo aos leitores uma rica e antológica visão de uma arte que tem, nos últimos tempos, perdido espaço na literatura brasileira. Múltiplo no seu fazer literário, como dele disse o romancista e crítico sergipano Armindo Pereira, Mário Cabral esbanja vitalidade na ante sala dos seus 95 anos, como um dos grandes nomes que o pequeno Sergipe deu ao Brasil.

Seleções
(Salvador, 2008) é o 15º livro de Mário Cabral, alguns deles reeditados, como Caderno de Crítica, Roteiro de Aracaju, Caminho da Solidão, Espelho do Tempo ,Juízo Final. Ainda que escrevesse poesia, contos e romance, pesquisasse a história, tratasse das suas memórias aracajuanas, Mário Cabral foi, antes e acima de tudo um crítico, como se pode ler no seu Caderno, livro de estréia, de 1944, e em Jornal da Noite, de 1997.

A carreira literária de Mário Cabral começa nos primeiros anos da década de 1930, como poeta e como crítico. Em 2 de março de 1934 publica, no jornal O Estado de Sergipe, o soneto inédito Jangada, e assina artigo rejeitando a retórica parcial de Agripino Grieco, desancando Tobias Barreto. Mais do que tomar a defesa de Tobias, com o ardor da sua juventude, Mário Cabral mostra-se aparelhado, maduro, preparado para os embates que iria travar, nas páginas dos jornais, nas conferências, nos livros, afirmando um pensamento crítico que valeu elogios de luminares da vida literária brasileira. Por todos os anos daquela década, em diversos jornais, Mário Cabral exerce seu ofício de crítico, tratando com especial atenção da obra de Jorge Amado, então exilado na Estância.


Um pequeno apanhado de opiniões, assinadas por Jorge Amado, José Lins do Rego, Pedro Calmon, Paulo Carvalho-Neto, Armindo Pereira, Gilberto Amado, citadas ba segunda orelha do novo livro, conferem à obra de Mário Cabral uma aceitação e um elogio sincero, como uma fortuna crítica consagradora, atualizada pelo correto texto de Wagner da Silva Ribeiro prefaciando Seleções. Mais do que apontar as qualidades estéticas do livro, Wagner Ribeiro reapresenta o autor aos brasileiros e muito especialmente aos sergipanos, oferecendo à bibliografia de Mário Cabral uma contribuição de excelência.


Um traço empolgante da biografia de Mário Cabral é seu apego a Aracaju, aos escritores sergipanos, a tudo o que tem relação com Sergipe. Morando na Bahia desde há mais de 50 anos, enfrentando adversidades, perdendo sua companheira Sylla, envelhecendo e arcando com o ônus que a velhice impõe, Mário Cabral vive saudoso, sem jamais deixar de acompanhar as gerações dos seus conterrâneos, a produção livresca, a ação cultural, a vida literária, atualizando-se continuamente, seja pela leitura dos jornais, pela correspondência que mantém com amigos, ou, ainda, pela rede de interlocutores, aos quais estimula com sua palavra sábia. Aracaju Bye Bye, de 1995, é uma declaração de amor do cidadão à cidade, fadado a ser eterno, como fonte de onde se pode tirar inspiração, para ornar todas as memórias.


Armindo Pereira comparou a obra de Mário Cabral, pela abrangência, à de João Ribeiro, e Paulo Carvalho-Neto lembra, com toda a razão, que depois de Silvio Romero foi o autor de Caderno de Crítica quem melhor tratou das coisas do povo, referindo-se, por certo, a pesquisa e aos estudos sobre o folclore das crianças de Aracaju, contido no livro Crítica e Folclore. Muito mais se poderia dizer de Mário Cabral, com sua vasta e competente obra, da qual Seleções é uma essência do seu dizer poético, como um patrimônio lúdico a ser partilhado na leitura, tanto hoje, como na posteridade, onde e quando o poeta figurará entre os grandes da terra.


É fantástico que Sergipe possa contar com Mário Cabral, que dentro de poucos dias fará 95 anos, e com Santo Souza, que no final de janeiro completou 90 anos: ambos produzindo, publicando, dando um exemplo sem precedentes, para honrar o útero rico da terra sergipana, com obras de qualidade estética.  

 

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  • Praia de Atalaia por Mário Cabral (Vultos e Vozes de Sergipe)
  • O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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