A Ponte, a Matriz e o Paço: Aracaju no tempo de Pedro II

                                                                     Luiz Antonio Barreto

                            

A Ponte
O Ancoradouro, ou Ponte de Desembarque, especialmente construída em fins de 1859, recebeu em Aracaju o vapor Apa, da Companhia Brasileira de Paquetes a Vapor, comandado por Francisco Pereira Pinto, com a comitiva imperial, em sua visita a Sergipe, de 11 a 21 de janeiro de 1860. Debaixo dos vivas e das palmas do povo, o Apa ancorou às 17 horas do dia 11, mas o Imperador Pedro II somente deixou o navio às 18:30 horas, sendo recepcionado por uma comissão de mulheres, pela Comissão do Recebimento (Organizadora da visita) e pela Câmara Municipal, recebendo as Chaves da Cidade, do seu Presidente,  atravessando o Arco da praça do Palácio (Fausto Cardoso), toda ela ornada para as festas,  e onde um papagaio, bem treinado, gritava Vivas ao Imperador. Pedro II andou, ouvindo os gritos de boas vindas, um trecho da rua do Barão de Maroim (João Pessoa), atravessando o Arco feito por Horácio Urpia, Vice-Consul de Portugal em Sergipe,  e foi assistir, na Casa de Oração São Salvador (Igreja do Salvador), ao Te Deum, após o qual saiu pela rua do Salvador (Laranjeiras), tomando a rua da Aurora (Rio Branco) até a praça,  alojando-se no Palácio Provisório, transformado em Paço Imperial (Delegacia Fiscal), onde deu beija-mão aos sergipanos.

 

A Ponte do Desembarque transformou-se, no tempo, em Ponte do Imperador, passou a ser o maior dos ícones da cidade e capital de Sergipe. Ainda que sua denominação suscite discussão, se ancoradouro ou atracadouro, ou ponte, não resta dúvida quanto ao símbolo que passou a ser, depois da visita imperial. É que antes de ser construída, as pessoas que chegavam a Aracaju desciam dos navios para pequenos barcos e destes chegavam em terra firme nas costas dos estivadores, naquela época escravos, em sua maioria. Não ficava bem que o Imperador Pedro II, sua mulher Tereza Cristina Maria de Bourbon e todos os ilustres integrantes da comitiva imperial tivessem que descer, um por um, nas costas dos trabalhadores do cais. Durante décadas, a Ponte do Imperador serviu mesmo de atracadouro, utilizando-se das laterais para receber os barcos de pequeno e de médio porte, que entravam no estuário do rio Sergipe. Ainda hoje, vez por outra, um vaso de guerra da Marinha brasileira ancora na velha Ponte do Imperador.

 

Com a resistência de um jovem, contava 34 anos quando esteve em Aracaju, o Imperador Pedro II desceu fogoso do vapor e entrou na praça, misturando-se com o povo para cumprir uma programação que, durante dez dias, mostrou a Província – Aracaju, São Cristóvão, Laranjeiras, Maroim, Estância, o canal do Pomonga, o engenho Escurial – complementando a visão que ele teve de outros pontos de Sergipe, principalmente Vila Nova (Neópolis) e Propriá, quando navegou pelo rio São Francisco, para visitar, em outubro de 1859, a Cachoeira de Paulo Afonso. Seu programa diário de visita em Aracaju significou uma vistoria das obras que estavam em curso na cidade, desde a mudança da capital, em 17 de março de 1855. Um relato completo da visita foi feito por Luiz Álvares dos Santos, médico, professor e jornalista baiano, atendendo ao Presidente da Província Manoel da Cunha Galvão, e publicado na Bahia, pela Tipografia do Diário, em 1860.

 

A Casa de Oração
A Casa de Oração São Salvador, mandada construir pelo Presidente Inácio Barbosa e concluída pelo Presidente Salvador Correia de Sá e Benevides, que lhe deu o nome, serviu de Matriz por alguns anos, e por isto o Te Deum para Pedro II foi lá. No púlpito estava o padre José Gonçalves Barroso, o afamado Vigário Barroso, considerado grande orador sacro, nascido em Laranjeiras, mas com larga atuação em São Cristóvão, onde também foi professor e diretor do Liceu Sergipense, fundou a Biblioteca Pública, e foi deputado provincial, manifestando-se, contrário a mudança da capital. O Vigário Barroso fez a exegese do Salmo 137, versículos 13 e 17, para um pequeno mas atento grupo. Entre os assistentes, por fazer parte da comitiva imperial, estava o Capelão Antonio José de Melo, nascido em Sergipe, ordenado na Bahia, Cônego da Catedral do Rio de Janeiro,Vigário Geral,  Capelão das duas viagens de Pedro II.  A Casa de Oração, que com a construção da Igreja Matriz (Catedral) passou a ser uma capela, ou uma pequena igreja, também é ícone de Aracaju, tendo já completado 150 anos de construída.

 

A comitiva imperial foi hospedada no Palácio Provisório, mandado construir também no tempo de Inácio Barbosa, na praça do Palácio, esquina com a rua da Aurora. O prédio passou por  uma adaptação, com acréscimos, e uma decoração especial para aqueles dez dias de delírio da nascente sociedade aracajuana. Pinturas, quadros, móveis, objetos de decoração, quase todos fornecidos pelo comerciante argelino José Narboni, fizeram do improvisado Paço Imperial um símbolo de luxo, digno da nobreza brasileira e naqueles dias um centro de manifestações festivas.

 

O Paço
Foi lá, no mesmo dia 11 de janeiro de 1860, que Pedro II enfrentou a fila do beija mão, hábito que ainda perdura no Brasil, e em Sergipe. Era comum, no dia 31 de dezembro, que formassem filas no andar superior do Palácio Olímpio Campos, para os cumprimentos ao Governador. O velho beija mão do Imperador sobreviveu em Aracaju. O prédio continuou servindo, por algum tempo, de Palácio da Província, mas foi substituído pelo novo Palácio, que na primeira década do século XX recebeu o nome do sacerdote e político Olímpio Campos, morto na chamada Revolta de Fausto Cardoso. O prédio que mais tarde foi ocupado pela Delegacia Fiscal é, igualmente, outro ícone da cidade, mantendo suas formas e guardando esse capítulo especial da história de Sergipe, que foi a festiva visita imperial.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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