Ao longo da minha vida profissional e até às vezes ir como diretor de uma instituição me deparo com uma observação que a princípio estranhava mas que hoje já entendo perfeitamente o seu sentido: “Ah! Mas, a sede de vocês é aqui? Eu pensava que era em São Paulo…”
Antigamente eu pensava que isso era um preconceito, aos poucos fui entendendo que na verdade trata-se de um traço forte da cultura nordestina. Tudo que é bom vem de fora! Ou em outras palavras, vem da “corte real” como acontecia no passado. Lamentavelmente, parece que não conseguimos nos libertar ainda desse traço cultural.
Recentemente conversando com executivos de algumas empresas genuinamente sergipanas eles me levantaram essa mesma questão e me citaram vários exemplos.
Comecei a pensar por que isso acontece e me lembrei das atitudes desmobilizadoras do pensamento criativo e uma delas fala o seguinte: por sermos oriundos de um país colonizado, costumamos a acreditar que tudo que é bom vem de fora e, por esse motivo, acreditamos que a criatividade não está em nós e sim nos outros e de preferência nos estrangeiros, nos mais espertos, nos vencedores.
Este é um papel que costumamos a assumir para não sairmos dos nossos limites, da nossa zona de conforto. Agindo desta forma o que acontece é que muitas vezes, por não acreditar na nossa capacidade de sermos indivíduos criativos deixamos de aproveitar a nossa criatividade e consequentemente de gerar muitas oportunidades de negócios e serviços.
Outro exemplo clássico disto é de praxe em grandes eventos festivos trazermos artistas conhecidos para “abrilhantar” o evento e na maioria das vezes a prata da casa, sempre faz o “aquecimento” do evento para em seguida os grandes “astros” se apresentarem. Isso ficou muito evidente no “Rock in Rio” quando os grandes artistas brasileiros sempre se apresentavam antes dos nomes internacionais.
Trata-se de um fato tão sutil que a maioria de nós não percebe. Um dia destes conversando com uma pessoa amiga que tinha comprado um determinado aparelho eletrônico a mesma logo argumentou: “É muito bom, foi comprado no estrangeiro”.
Como se trata de um traço cultural muito forte, o caminho mais fácil para a solução é justamente pela educação e pelo esclarecimento. Cada um que tem o seu talento mostrar e comprovar que é bom e que pode ocupar esses espaços.
Isso leva algum tempo, mas, lamentavelmente não tem outro caminho, cada um de nós seja empresa ou pessoa que tenha o seu talento tem que mostrá-lo. É necessário se fazer com que as pessoas entendam que nem sempre o melhor é o que vem de fora, que a criatividade está em nos mesmos e não apenas nos outros.
(*) Fernando Viana