Os indicadores que a realidade sergipana tem produzido, nos vários vetores da vida sergipana, são ainda os melhores e mais confiáveis referenciais, constantes ao longo da história, uma história que começa ao tempo do descobrimento e da ocupação territorial. Visto do mar, por onde entraram os europeus brancos e os africanos negros, a pequena porção de terra tinha vários rios: São Francisco, Japaratuba, Sergipe, Vaza-barrís e Real, para citar os mais importantes leitos de penetração, nas margens dos quais floresceu a economia e a sociedade. Parque Sergipe Industrial
O menor território tem os rios da história e com eles o gado, a cana de açúcar. a exploração da madeira, o ciclo mineral, começando pelo salitre que é matéria prima da pólvora. Não demorou muito e logo após a guerra da conquista e Sergipe tinha os melhores cavalos, dezenas de currais de gado, alguns engenhos de açúcar, e explorava as nitreiras na expectativa da instalação de uma fábrica de pólvora. Ao mesmo tempo crescia no imaginário da época a existência de minas de prata e de ouro nas serras de Itabaiana.
Os séculos assistiram a luta incessante em Sergipe para organizar uma economia, construir uma unidade política, lançando vista para o futuro. A prosperidade se espalhava pelas regiões sergipanas, como atestam os Relatórios das Freguesias, datados de 1757, que serão confirmados, em 1808, pela Memória sobre a Capitania de Serzipe, do antigo vigário da Freguesia de Jesus, Maria, José e São Gonçalo do Pé do Banco, hoje simplesmente Siriri.
A emancipação política de 1820, mais tarde confirmada, apenas referendou os avanços empreendidos por homens e mulheres nos vários campos de atividade. Depois de ter seu território desanexado do da Capitania da Bahia, Sergipe deu asas aos seus projetos e rumou para afirmar suas vocações, tanto no sentido da produção da riqueza, como na afirmação dos valores mais significativos da existência humana, como a liberdade, a cultura, a cidadania.
Pátria de filósofos, como foi reconhecido no século XIX, Sergipe fez da cultura uma bandeira e através de muitos dos seus filhos ofereceu uma contribuição singular, como não outra semelhante no resto do Brasil, ajudando a formação de uma sociedade esclarecida, que soube buscar a compreensão de todos os fenômenos da vida humana e da organização social. Graças a muitos vultos sergipanos o Brasil alicerçou as bases de sua cultura, mostrando-se ao mundo com sua capacidade criativa, mercê do jeitinho eclético de receber e processar, adaptar e sincretizar as contribuições de fora. Thales Ferraz
Vale sempre a pena, como exercício justo de reconhecimento e admiração, fazer a chamada dos varões ilustres, que fizeram e interpretaram a história e deram ao Brasil a base de sua cultura: Silvio Romero, João Ribeiro, Fausto Cardoso, Gumercindo Bessa, Tobias Barreto, Martinho Garcez, Jackson de Figueiredo, Felisbelo Freire, Laudelino Freire, Manoel Bonfim, Maximino Maciel, Justiniano de Melo e Silva, Bitencourt Sampaio, Horácio Hora, Cândido Aragonez de Faria, Pedro de Calasans, Silvério Fontes, Gilberto Amado e quase todos os seus irmãos, muito especialmente Gilson Amado,dentre muitos outros que marcaram os séculos XIX e XX, e que são verdadeiras unanimidades da crítica nacional.
Há uma geração de intelectuais, que embora não tendo a projeção nacional, mantiveram a mesma chama acesa e deram no estado o melhor testemunho do compromisso com os traços fundantes da sergipanidade. Pessoas como Manoel dos Passos de Oliveira Teles, Prado Sampaio, Carvalho Neto, Graccho Cardoso, Florentino Menezes, Augusto Leite, Artur Fortes, e mais recentemente José Calasans, Garcia Moreno, Orlando Dantas, José Rollemberg Leite, Lourival Bonfim, Gonçalo Rollemberg Leite, Maria Thetis Nunes, Mário Cabral, Manoel Cabral Machado, Santo Souza, Jackson da Silva Lima, para citar apenas uns poucos.
É possível buscar no passado, mais remoto ou recente, outros nomes de empreendedores que deram a Sergipe a visão de empresa, estabelecendo modos industriais e comerciais, que fizeram crescer as possibilidades econômicas, gerando conseqüências positivas para a sociedade e para a cultura. É da mais inteira justiça evocar os nomes de figuras contemporâneas, muitas delas próximas no cotidiano da vida sergipana, que investiram idéias e recursos em Sergipe e se tornaram grandes empreendedores, como João Rodrigues da Cruz e Tomaz Cruz, Sabino Ribeiro, Thales Ferraz, Gonçalo Prado, José Alcides Leite, Constâncio Vieira, Mamede paes Mendonça, Pedro Paes Mendonça, Oviêdo Teixeira, Gentil Barbosa, Augusto Barreto, Orlando Dantas, João Hora, Martinho Almeida, Josino Menezes, Bastos Coelho, Murilo Dantas, João Fonseca, Paulo Figueiredo Barreto, Albino Silva da Fonseca, Porfírio de Brito, Josias Dantas, Leopoldo Souza, Comendador Peixoto, responsáveis por muito do destaque econômico sergipano. Existem outros, muitos outros, nas mais diversas atividades, alguns até esquecidos no tempo, como o comendador Travassos, o Barão de Maroim e outros políticos , usineiros e fazendeiros que influíram no crescimento de Sergipe.
Thales Ferraz, filho do industrial José Augusto Ferraz, foi criado no ambiente de trabalho da Fábrica Sergipe Industrial, fundada em 1882, instalada em 1884, ocupando os trapiches de açúcar de Cruz & Irmãos. Estudou na Inglaterra, diplomando-se em Engenharia Textil em Manchester, grande centro produtor da Europa. De volta a Sergipe transmitiu, aos mestres e contra-mestres da Fábrica, o que aprendeu no velho mundo. Foi Diretor da Sergipe Industrial desde 1906 a 1927, quando morreu. Por todos os méritos Thales Ferraz pode ser mostrado como exemplo de empreendedorismo, pela visão moderna, atualizada, de industrial, e pela singularidade de sua administração voltada para a população operária. Os mais velhos guardaram de Dr. Thales Ferraz a melhor imagem, do homem que idealizou e construiu o Parque Sergipe Industrial, com suas mesas, cadeiras, seu cinema, seu palco, suas pistas, e mais campos de futebol, quadras de esportes, creche, escola, igreja, loja de mantimentos, enfim o maior complexo social e cultural de Aracaju, que tanto atendia aos empregados da Fábrica e seus familiares, como atraía a juventude aracajuana, com jogos, bailes, apresentações artísticas e atividades culturais. O enterro de Thales Ferraz foi uma demonstração de bem querer, tanto da Fábrica, quanto da sociedade aracajuana, carregando o caixão, na mão, até o Cemitério dos Cambuís, hoje da Cruz Vermelha, para sepultá-lo em cova rasa, como tinha sido do seu desejo.
As novas gerações, sem acesso a informação não conhece a história e nem a memória de Sergipe e dos sergipanos. Ainda estão na névoa da obscuridade outros nomes, na ciência, no magistério, nas artes, que igualmente projetam Sergipe guardando a tradição de inteligência e de cultura.
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