Depois do Irmão Fêgo, considerado santo dos pobres, nas décadas de 1920/1930, um novo fenômeno de curas milagrosas chamou novamente a atenção dos aracajuanos para o bairro Siqueira Campos, em 1951, quando a pernambucana Ozita de Carvalho Lima, depois de 5 anos de práticas curativas pelo nordeste, desembarca em Aracaju, ocupando a casa nº 368 da rua Amazonas, também nas proximidades das Oficinas da Rede Ferroviária Leste Brasileiro. Casada, devota de Nossa Senhora da Conceição, Ozita de Carvalho Lima, que ficou conhecida como Santa Ozita, exibia como prova da eficácia dos seus milagres, as muletas, bengalas, bastões, pernas de pau, pendurados na parede, enquanto em outro cômodo da casa ficam óculos, recortes de jornais, objetos e cartas dos seus pacientes, que disseram estar curados graças aos procedimentos da Santa, que tinha por hábito apenas orar, sem passar remédios. O movimento de pessoas cegas, aleijadas, entrevadas pelo reumatismo, ou com dores diversas, deu ao bairro Siqueira Campos uma concentração nos três dias semanais que a Santa atende – terça, quinta e domingo –casa cheia, corredor repleto de doentes, ouvindo as preces e justificativas de Ozita, enquanto do lado de fora, numa barraca Dona Maria de Lourdes Santana, vinda de Boquim, vendia retratos e orações, como avulsos, visando ajudar no trabalho da curandeira, que também contava com uma vazilha para as esmolas, livres, dos consulentes. O processo de cura começava, quase sempre, com orações e leituras de textos bíblicos, seguindo-se sessões individuais, repetidas várias vezes, até que os sintomas dos reclamantes desaparecessem. Em Aracaju, em diversas ruas e bairros, não faltava quem prestasse depoimentos, comprovando os milagres da rua de Amazonas. A própria Maria de Lourdes Santana, que vendia os santinhos, dizia que esteve doente por muito tempo, acometida de úlceras e de problemas no fígado e nos rins, ficando curada sem nada tomar, somente com o contato com Santa Ozita. Maria Francisca Santos, moradora no Alto da Boa Vista, alquebrada pela velhice, atacada pelo reumatismo, foi tratada e curada. José Antero dos Santos, morador da mesma rua Amazonas, nº 571,e que andava de bastão desde 1945, depois de oito visitas dizia-se “quase curado”, sem o apoio de nada, tendo gasto com esmolas e orações cerca de 10 cruzeiros. Miguel Ramos, pedreiro e integrante do Sindicato da Construção Civil, que sofria de paralisia há 14 anos, declarava-se “melhor”, depois de buscar a cura com a Santa. Matias Gomes do Nascimento declarou ao repórter José Francisco Santos, da Gazeta Socialista, que sofria de asma há 35 anos e que após cinco visitas que fez, estava se “sentindo melhor.” Caso de grande repercussão foi o que envolveu João Evangelista, morador do Manoel Preto, que sendo paralítico há 31 anos foi levado numa carroça, e que atendido pela Santa Ozita voltou a andar, na primeira consulta. Ozita de Carvalho Lima confessava que “estava em casa com minha família, quando ouvi uma voz, mandando que me preparasse para curar cegos e aleijados”, aceitando e iniciando a missão, percorrendo vários Estados do Brasil, antes de fixar residência em Aracaju. Seu marido anotava, a partir de então, todas as consultas e curas num caderno, que fazia questão de mostrar aos curiosos, como uma comprovação dos milagres da sua Santa mulher. Havia crítica e desconfiança, mesclando a opinião de centenas de pessoas que freqüentavam a casa de Ozita, no bairro Siqueira Campos. Sem alterar a voz, ela sempre pedia aos doentes que freqüentavam a sua casa, para que todos rezassem “para os críticos e zombadores da minha grande verdade.” Os doentes, aquela legião de miseráveis, faziam o cinturão moral em torno da Santa Ozita, permitindo que ela conquistasse a confiança e a admiração da população pobre de Aracaju, muito embora atendesse a outras classes sociais.
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