Sinceramente, o ser humano é um eterno insatisfeito. Tenho a impressão de que o Criador, de vez em quando, reclama dessa falta de compreensão e excesso de insatisfação de suas criaturas.
Por natureza, estamos sempre descontentes, somos uns “reclamões” inveterados, não nos conformamos quando nos falta alguma coisa ou quando a temos em pouca quantidade, o que, convenhamos, é natural. Mas, reclamar da abundância, parecendo que ela também incomoda, sinceramente, não é fácil entender.
Talvez, por eu já ter vivido mais de meio século, e testemunhado a escassez de muitas dessas coisas que hoje abundam, esteja muito incomodado com essa insatisfação generalizada com a fartura. O inconformismo, que às vezes presencio, chega a assustar. E digo para mim mesmo: “eles não entendem a falta que isso fazia há a alguns anos passados.”
Como exemplo, podemos citar a televisão, a diferença entre a tv de hoje e a que assistimos em épocas remotas. É quase inconcebível imaginar-se, nos dias atuais, que, há 40 anos pagava-se para ver televisão. Mas, era assim. Quem quisesse assistir a um programa de tv, naquela época, na Groaíras de minha infância, tinha que pagar entrada, pois a única televisão da cidade ficava no Salão Paroquial e eram cobrados ingressos e, cá pra nós, não eram baratos não. Eu mesmo só entrei duas vezes, embora, toda noite, superando o medo de almas e visagens, porém atraído pela grande novidade, viesse, quase sempre sozinho à cidade, posto que morava fora dela, com a maior vontade de ver os programas: Bonanza: (irmãos Cartwright), Telequete Montila, (Ted Boy Marinho, Índio Paraguaio, Verdugo, Caveira, Leopardo)… Ficava mesmo, eu muitos outros meninos e adultos, do lado de fora esperando pela saída de alguém que tivesse a disposição de nos contar as aventuras ocorridas naquele dia.
Era uma delícia para toda a platéia que, ficava de fora, escutar o amigo que teve a felicidade e, naturalmente, o dinheiro para pagar a entrada nos contando como tinham se desenrolado a trama, quem tinha ganhado as lutas de telequete etc.
Às vezes, aquela conversa ia até às nove horas da noite, quando era dado o primeiro sinal para desligar todas as luzes da cidade. Daquele instante a quinze minutos, tudo seria desligado e a cidade ficava quieta em absoluta escuridão, quebrada aqui e ali por uma luz mortiça de uma lamparina ou da “petromática” (Petromax) do Doutorzinho do Tio Abel, a única da cidade.
E hoje? Em todas as residências, graças a Deus há um aparelho de televisão. Eu estou dizendo um. Todavia, sabemos que existem casas que têm quatro, cinco, seis… Naquele tempo, poucas, muito poucas casas tinham e, quase sempre, só eram ligadas em horários preestabelecidos pelos donos das casas e, somente familiares assistiam aos programas televisivos. Naquela época, televisão era coisa de gente muito rica. A princípio, só existia um canal, o que, de certa forma, era até confortável, pois só íamos lá, no painel daquele aparelho, para ligar e regular o volume. Não tinha para onde mudar, então era operação fácil, a maioria dos membros da família sabia fazê-la.
Com o tempo apareceu outro canal. Aí já dava mais trabalho, pois toda vez que era necessário mudar de canal o cidadão tinha que se levantar, girar o seletor de canais (clec, clec, clec, clec…) até o número desejado, regular o som, pois havia diferença de volume na transmissão de um para outro canal, regular também as cores, os matizes, o contraste, o brilho, a nitidez, a sintonia fina e, sobretudo, o vertical: imagens repuxadas e, o horizontal: imagens “pulando” ou “rodando”. Dava um trabalhinho, perdiam-se sempre as melhores partes dos programas, mas, infelizmente, era essa a televisão daqueles tempos.
Como é hoje? Várias televisões: em casa, no carro, no bar, no ônibus, no avião, no computador, no celular, na Academia… Antenas potentíssimas que captam, diretamente do satélite, 50, 100, 200 e até mais canais e controle remoto que num toque muda de estação, regula e estabiliza todas as funções do aparelho. Pois é, mesmo com toda essa quantidade, qualidade e conforto o cidadão pega o controle vai do primeiro ao último canal numa fração de minuto e diz irritado: “não há nada pra se ver nesta porcaria”.
Há trinta anos reclamávamos da falta de telefone, pois era muito caro, tanto a assinatura que custava quase o preço de um automóvel, quanto a conta de consumo mensal, como se dizia “pela hora da morte”. Sem contar a dificuldade para se conseguir uma linha. Era necessário fazer uma inscrição, esperar, pagar e, esperar mais tempo ainda, até que fosse instalado. Se o cidadão, feliz proprietário de um telefone, mudasse de residência e esta outra casa ficasse noutro bairro era o fim, pois os números eram diferentes, – o que servia a uma parte da cidade não podia ser transferida para outro localidade.
E o funcionamento? Nem falar, dificuldade em concluir chamadas, linhas cruzadas, queda de ligação… Enfim, era um terror.
Como é hoje? Já escutei gente que, reclamando, dizia: agora, todo mundo tem telefone, qualquer um pode comprar, imagina que fulano, citava o nome e a profissão, tem dois telefones celulares, isso é um absurdo! Até, (cita uma profissão modesta), tem telefone, onde vamos parar?!
Ponderei: então você não acha bom que todos, democraticamente, possamos usufruir dessa tecnologia?
“Não”, respondeu. “Isso não é correto até os…” (citava outros profissionais, pessoas e lugares) tem, imagine aonde vamos chegar? Eu mesmo tenho quatro celulares, um de cada operadora, mas tenho um trabalho danado, quando vou ligar, me atrapalho e pago muito pelos impulsos, pois queria ligar por uma operadora e acabo ligando por outra… Sem comentários.
E as escolas? Por mais paradoxal que possa parecer tudo indica que há uma conspiração contra o surgimento de novas escolas. Quando é a criação de uma faculdade, a discriminação parece maior. A grande maioria das pessoas e, até instituições sérias, acredita que vai ser: “ mais uma fábrica de diplomas”, que não vai preparar ninguém, que os alunos formados por esse tipo de faculdade saem sem saber de nada etc… Certa feita, eu conversava com uma amiga que, na época, exercia a função de Secretária de Educação de um Município. Lá pelo meio da conversa ela disse com ar de deboche: você sabia que até aqui, neste minúsculo Município, está funcionando uma Faculdade?
Sem perceber a sua posição contra uma instituição de ensino, disse entusiasmado: “que maravilha, eu estou muito feliz e gostaria de conhecê-la, onde fica?”
Ela disse: “não vale à pena. Nós estamos denunciando ao MEC, pois já investigamos e constatamos que ela não está autorizada para funcionar na nossa cidade, as aulas que são dadas aqui acontecem como que ministradas na sua sede na cidade tal. Isso é ilegal. Ela dizia isso com uma felicidade que eu não entendi.
“Desculpe”, eu falei, “você é Secretária de Educação deste Município e está patrocinando o fechamento de uma escola? E está feliz com isso? Foi isso que entendi? Em vez de tentar e até ajudar na regularização está querendo expulsar uma instituição de ensino do seu Município? Perdoe-me, mas eu não estou entendendo”. Que você, o Prefeito, a Igreja e toda a população se interessem e se sintam bem em expurgar uma “boca de fumo” tudo bem. Mas uma escola! Sinceramente, não estou entendendo.
E, mais uma vez eu disse para mim mesmo: “ela não conheceu a falta que faz uma escola, como eu conheci. Pois no meu tempo de estudante, na minha cidade, havia apenas a gloriosa Escola Paroquial Pio XII, onde fazíamos apenas o curso primário, que, naquele tempo, terminava na quinta série. Quem quisesse continuar estudando teria que se mudar para outra cidade, fazer um pequeno vestibular, chamado “Exame de Admissão ao Ginásio” e seguir em frente. Há de se considerar muitas coisas que não se tinha naquela época: idade para morar sozinho, recursos financeiros, hotéis, pousadas, transporte etc. (nada disso existia) e, sobretudo, vagas nas escolas, pois mesmo nas maiores cidades havia muitas dificuldades devido à escassez daquilo que agora está chegando, mesmo contra a vontade daqueles que deveriam incentivar. Ouso dizer que, embora guardando as devidas proporções, nos dias atuais, comparando com aquele tempo, só não estuda quem, verdadeiramente, não quer. E, os formados quer seja nas Universidades Federais ou na Faculdade mais humilde, existente num canto qualquer, poderão ser grandes profissionais. Não são as escolas que são boas, ou melhores umas do que outras, somos nós, os alunos que fazemos a diferença. Não vejo diferença, a não ser na propaganda, no profissional formado por faculdade “A”, “B” ou “C”.
Tive a curiosidade de verificar, junto ao MEC, como andavam as Faculdades particulares no Brasil e constatei que apenas 34% por cento delas haviam obtido notas insatisfatórias no ano de 2009.
Os alunos de apenas 34% daquelas instituições não foram devidamente aprovados no ENADE – Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes.
Reconheço que 66% são um percentual baixo, quando se exige e se necessita de qualidade e quantidade. Porém, há de se indagar, com pouco de isenção e honestidade: o que é que funciona satisfatoriamente, acima desse índice de 66% aqui no nosso Brasil? Será a Segurança? A Educação? A Saúde? E a Infraestrutura? Todas Públicas. Será que apenas estas quatro obrigações do Estado atingiriam 66% de satisfação de toda a população?
Embora pareça conformismo, eu devo afirmar que o índice alcançado pelas Faculdades Particulares não chega a ser desprezível, pois, inserido no contexto do nosso País, mostra-se uma boa média.
Que venham mais escolas. Quanto mais, melhor, pois aumenta a competitividade, facilita a acessibilidade, estimula a qualidade e, sobretudo, dissemina o conhecimento e promove o desenvolvimento. Povo educado é povo desenvolvido. A grandiosa maioria dos problemas existentes será resolvida com a EDUCAÇÃO.
EU ACREDITO E VOCÊ?