A SAÚDE QUE MERECEMOS

João dos Santos é pai de cinco filhos, todos menores de idade. Sua mulher é empregada doméstica, passa o dia no trabalho para garantir um salário mínimo. Ele é um cabra trabalhador, empregado numa dessas empresas que oferecem mão de obra barata para outras que não querem contratar diretamente, mas isso para ele não importa. Faz o trabalho direito, coisas simples, como simples é a sua vida.
Há 17 dias, subiu num coqueiro, no quintal de sua casa em um dos bairros afastados da cidade. Era experiente no assunto, uma coisa simples, não haveria de acontecer nada, mas aconteceu: uma queda livre de mais de quatro metros. Tentou se levantar mas não conseguia mexer as pernas. Cambaleante, gritou de dor, sofria muito. Levaram-no rápido para o Hospital de Urgência Gov.João Alves Filho. Sofreu um trauma na coluna com fratura de um vértebra lombar e compressão do canal raqui-medular. A cirurgia é o tratamento indicado, para evitar mal maior.
Hoje é 7 de abril –  Dia Mundial da Saúde, e já são passados 17 dias do acidente de João. Ele ainda não foi operado, mantido numa cama dura que já lhe produz escaras. Para alguns, o Dia Mundial da Saúde é um data que nem é percebida, preocupados que estão com seus afazeres diuturnos. Para muitos, no entanto, o melhor é não saber. É o caso de João dos Santos. Desprezado pelo poder público, teve sua cirurgia postergada por mais de uma vez, pelas graves deficiências que  se apresentam no dia-a-dia daquela unidade hospitalar. As causas para o  adiamento da cirurgia  são diversas: aparelhos quebrados, falta de material, ausência de médicos anestesistas disponíveis. E João, na sua dor e sofrimento, sem perspectiva de ver o seu problema resolvido com a necessária agilidade, é mais uma vítima desse perverso sistema, que discrimina as pessoas em função de sua condição social.
O “7 de abril”, para João dos Santos, trabalhador, pai de família, moço esforçado, é um dia como outro qualquer ou melhor, um dia para não ser lembrado.

NOTA DO AUTOR: após a publicação do artigo no blog fui pessoalmente ao Hospital constatar a situação de João. Ele permanecia em um leito-maca na ala verde, aguardando o desfecho de seu martírio. Mantive então contatos com seu diretor geral, Yuri Maia e o diretor clínico Augusto César Esmeraldo, que confirmaram alguns dos problemas citados para a suspensão da cirurgia, comprometendo-se ambos a encontrar uma solução defintiva nesta quarta-feira, 8 de abril. Percebi o interesse e o desejo deles em ver o problema resolvido. Agradeci. Mas ficou o sentimento de que os obstáculos poderiam ter sido superados se houvesse empenho e um pouco mais de humanismo na equipe que lhe prestou o atendimento. Se isso tivesse acontecido, João por certo já estaria em casa, fazendo sua fisioterapia e no aconchego de sua famíia.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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