No momento em que todas as atenções em Sergipe, no Brasil e no mundo, estão voltadas para o combate ao vírus Zika pela sua ligação com a microcefalia, outra doença, que já tem mais de 500 anos de existência e que, comprovadamente, pode provocar o nascimento de crianças com má-formação, continua aumentando no nosso estado e no País. Trata-se da sífilis, uma doença cujo agente causador é uma bactéria bastante antiga, denominada Treponema pallidum, cujo tratamento é feito com a tão conhecida Penicilina Benzatina para os adultos e Penicilina Cristalina para as crianças e tem como medida preventiva, nas relações sexuais, o preservativo masculino ou feminino amplamente disponível na rede pública e, no caso das gestantes, através da realização de um bom pré-natal, cujos testes rápidos também estão disponíveis através do SUS.
Pelo menos teoricamente, temos as ferramentas e conhecimentos adquiridos sobre a sífilis congênita capazes da sua eliminação. Porém apenas estamos conseguindo reduzir os casos em alguns municípios.
A Sífilis Congênita é a sífilis transmitida da mãe para o feto e pode causar aborto, má formação do feto e/ou morte ao nascer. Pode se manifestar logo após o nascimento, durante ou após os primeiros dois anos de vida da criança. Na maioria dos casos, os sinais e sintomas estão presentes já nos primeiros meses de vida. Ao nascer, a criança pode ter pneumonia, feridas no corpo, cegueira, dentes deformados, problemas ósseos, surdez ou deficiência mental.
Muitas crianças estão nascendo com sífilis congênita e poucos falam do assunto no Brasil. Em Sergipe, apesar de tantos investimentos do Governo Estadual em campanhas informativas específicas, os números continuam preocupantes. Terminamos o ano de 2.015 com 372 casos de bebês com sífilis, apenas 8 casos a menos que em 2.014.
Excetuando o município de Aracaju que já demonstra uma queda do número de casos notificados, os demais municípios estão registrando aumento das notificações. As piores situações continuam em Nossa Senhora de Socorro, São Cristóvão, Barra dos Coqueiros, Estância, Lagarto e Itabaiana.
Em uma das campanhas de Sergipe, tentamos mostrar que, enquanto não houver mudança de atitude dos gestores e dos profissionais de saúde dos municípios, o quadro da sífilis em crianças não vai mudar. Municípios faltando Penicilina Benzatina e agora, para piorar, no Brasil falta Penicilina para trata as crianças com sífilis. Orientamos os municípios que criassem um grupo de trabalho local para analisar cada caso de sífilis em gestantes e em crianças, com o objetivo de descobrir as falhas no pré-natal e as devidas correções. Praticamente, quase nenhum município está analisando as suas falhas do pré-natal e realizando as devidas correções. O tratamento do parceiro sexual da gestante continua um desafio.
Municípios que foram capacitados na realização dos testes rápidos estão ofertando pouquíssimos testes à população. Alguns se limitam apenas a realizar mobilizações, mas sem preocupação com a rotina na unidade básica de saúde, onde os testes rápidos deveriam ser ofertados às gestantes e seus parceiros sexuais, e para as populações vulneráveis. Existem até municípios que receberam recursos financeiros específicos do Ministério da Saúde para o enfrentamento à sífilis e outras infecções sexualmente transmissíveis, mas, na prática, a maioria não está utilizando o dinheiro.
O que tem em comum a microcefalia e a Sífilis Congênita?
Uma das prováveis causas da microcefalia é além da infecção pelo vírus Zika, a presença de outras infecções durante os primeiros meses da gestação. Uma delas é a sífilis congênita. Combater a microcefalia também passa pela melhoria no pré-natal, diagnosticando precocemente as gestantes com sífilis e realizando o tratamento junto com o parceiro. Infelizmente, em muitos casos, o diagnóstico da sífilis está sendo feito na maternidade, na hora da criança nascer.
O que esperamos é um maior empenho dos gestores municipais no enfrentamento à Sífilis Congênita. O nosso “pelotão” e a nossa “brigada” para combater a sífilis congênita são os médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde das equipes de saúde da família.
Precisamos de um “pelotão” de prefeitos e secretários municipais de saúde mais comprometidos com a melhoria do pré-natal nos seus municípios.
Precisamos de uma mídia que divulgue mais as consequências da sífilis no bebê, para que os casais que desejam ter filhos realizem os exames antes de a gravidez aparecer.
Precisamos que os profissionais de saúde envolvidos no atendimento às gestantes, realizem os testes rápidos, tratem as gestantes e parceiros que apresentam sífilis, divulguem a importância do uso da camisinha mesmo durante a gravidez e que busquem, na sua comunidade, as gestantes que estão sem pré-natal e aquelas cujos parceiros não realizaram exames para sífilis.
A eliminação da sífilis congênita depende de mudança de atitude dos prefeitos, secretários de saúde, profissionais de saúde e da população.