Acabou mais um capítulo da nova novela da vida: Eleições 2004. Fechadas e registradas as atas, cumprem-se agora novos rituais, mais voltados à campanha eleitoral propriamente dita. Entre os mortos e feridos desta velha etapa escaparam poucos. A maioria ficou perdida entre coligações fechadas de última hora. Mas, depois de tantos lances estratégicos e surpresas, como a diminuição das vagas em algumas Câmaras Municipais, têm-se, agora, um esboço mais definido, deste quadro que se forma pela disputa das vagas proporcionais e mandato majoritário de prefeito. É a busca pelo poder. De antemão, tem-se garantido um grande vencedor, que, se confirmada algumas tendências no decorrer do período que ainda resta, poderá ser considerado um fenômeno. Trata-se do atual vice-prefeito de Aracaju Edvaldo Nogueira (PCdoB), que após atravessar mais de 1.500 colinas, chegou inteiro numa das posições mais confortáveis que alguém poderia almejar nesta eleição. Se ferimentos ocorreram pelo caminho, foram na alma e não no corpo, porque, aparentemente, as coisas se sucederam sem deixar grandes cicatrizes. Mas, saber de verdade o que teve que passar para ficar onde está, só ele mesmo. Claro que deve ter valido a pena, afinal, o posto prorrogado como candidato a vice, pode lhe oferecer grandes oportunidades dentro de um projeto que, se vingar, vai colocá-lo na história. Uma coisa é certa: não foi de graça esta conquista. Ninguém ganha a simpatia política de figuras como a do senador Antônio Carlos Valadares (PSB), do deputado federal Jackson Barreto (PTB) e de outras importantes lideranças – mesmo as que espernearam – sem que tenha conseguido angariar para si, uma característica das mais importantes, e raras, na política, que é a confiança. Edvaldo Nogueira vem conquistando este espaço no decorrer do tempo. Devagar e sempre. Começando pelo próprio prefeito Marcelo Déda, PT, que sempre delegou tarefas políticas e administrativas importantes para seu vice e recebeu em troca o exato cumprimento dos atos e ações, evidentemente que pré-acordados. Este processo veio numa crescente, que acabou contaminando os aliados e resultou na sua indicação. Muito mais por esta característica, do que pelo peso de seu partido ou do número de eleitores que ele poderia angariar para a coligação. E olha que estas são uma das principais atrações que um pretendente a vice deve ter: peso político e voto nas urnas. O PCdoB se coligou com o PT em 20 capitais do país, entre as 26 aonde o Partido dos Trabalhadores vai disputar. Isto por si só já reflete o grau de entrosamento entre as siglas, que foram companheiras em muitas lutas, inclusive na redemocratização do país, e são também parceiras nas agruras de estarem no Poder sem saber direito o que fazer com ele. Ou seja: na tristeza e na alegria e, por enquanto, até que a morte os separe. Em Sergipe, suas trajetórias se confundem e o que ocorre hoje é uma conseqüência de um caminho trilhado ao longo de anos. Diferente do que se está acostumado a ver e do que aconteceu com as outras coligações, com parceiros feitos na conveniência eleitoral momentânea que pode se quebrar a qualquer momento. Um exemplo aqui bem perto disso é a chapa formada em Nossa Senhora do Socorro entre o deputado estadual Adelson Barreto (PTB) e o seu vice, o radialista Aélio Argolo (PT), que foi praticamente empurrado goela abaixo do parlamentar, numa união que já nasce para o fracasso. A não ser que haja muita boa vontade, de uma das partes, em não querer conflito. Mas voltando para Aracaju, o projeto do prefeito Marcelo Déda é claro em sinalizações. Ele administra Aracaju pensando no Governo do Estado em 2006. Pode negar à vontade. Dizer que não. Espernear e até chorar em frente às telas. Mas até por uma questão de carreira política, estes são os passos que serão seguidos naturalmente. Apenas se acontecer algo inesperado, muito inesperado mesmo, Déda sairá desta rota que já está traçada há muito tempo, como a viagem de um cometa ou de uma estrela. Se vai conseguir, são outros quinhentos. O caminho é feito de pedras e cabe ao prefeito tirá-las sem tropeçar. Mas, de qualquer forma, Edvaldo Nogueira conseguiu fazer passar um camelo no buraco de uma agulha. Disputou espaço com grandes feras do cenário político sergipano, contornou milhares de pressões e venceu. Vem aí uma eleição, antigamente havia nas novelas as cenas dos próximos capítulos, e se ainda houvesse, ela enfocaria, neste caso, o pleito. Que será mais uma prova a que vão ser submetidos, ele e Déda. Caso consigam vencer, Edvaldo estará a um passo de conquistar dois anos como prefeito de Aracaju, com direito a reeleição. SAMPAIO O candidato a prefeito Renato Sampaio (PRP) acha que o prefeito Marcelo Déda perdeu o discurso: “não tem mais o magnetismo que defendeu em seu ideal”. Disse que ele agora substitui isso por cartões magnéticos de R$ 50, construindo, juntamente com Lula, a Rede Nacional da Miséria. COMPARAÇÃO Os cartões magnéticos que Renato Sampaio se refere são os distribuído pelo Governo Lula, para que os pobres retirem R$ 50 para sobrevivência. José Renato acrescenta que esse é o mesmo estilo dos coronéis nordestinos, que construíram a chamada indústria da seca. SILÊNCIO O prefeito Marcelo Déda está em Brasília e disse que não vai falar nada do candidato José Renato Sampaio. Vai preferir o silêncio. Lembrou que foi o único parlamentar a defender Sampaio da Tribuna da Câmara Federal: “vou rezar por Renato e que Deus o ilumine”. COM DIRCEU Marcelo Déda teve audiência com o chefe da Casa Civil, José Dirceu e disse-lhe o que diria ao presidente Lula, como ele pretendia, mas não foi possível. Mostrou que a chapa que disputará a sua reeleição foi fechada com partidos da base de apoio ao seu Governo e falou como vai ser a eleição. GENOINO Marcelo Déda também teve com o presidente do PT, José Genoino, e lhe pediu que a prioridade para a campanha de Aracaju não seja de retórica, mas na prática. Mostrou uma pesquisa de sua posição e fez uma análise de como a população vê os Governos Federal, Estadual e Municipal. JORGE O deputado federal Jorge Alberto (PMDB) disse a um colega que vai fazer sua campanha mostrando os recursos que liberou para a Estado, inclusive Aracaju. Considerou muito importante fazer retornar o PMDB para as disputas eleitorais e anuncia uma campanha movimentada e com propostas realizáveis. FONTES O deputado federal João Fontes (PSOL) disse ontem que o esforço concentrado da Câmara Federal e nada são a mesma coisa. Segundo João Fontes, não tem nada para fazer e os deputados apenas perambulam pelos corredores. Em três dias votaram apenas a MP do Confins. SUSANA Ontem à noite, a candidata Susana Azevedo (PPS) discutiu o plano de Governo e amanhã tem reunião com os candidatos a vereadores para traçar o ritmo de campanha. Susana já iniciou os contatos com lideranças e visitas aos bairros, mas só no dia 23 (número do seu partido) é que Susana fará uma grande passeata em Aracaju. VIAGEM O governador João Alves Filho viajou, ontem, a São Paulo, onde permanece por todo o dia de hoje e só à noite vai para a China. A comitiva que o acompanha também viaja hoje. Ontem, ao conversar com a candidata Susana Azevedo, disse-lhe que iria telefonar-lhe todos os dias, para saber do andamento da campanha. COLETIVA Na coletiva concedida pelo governador João Alves Filho, ontem, ele confirmou a demissão do secretário da Juventude, Genecildo Pereira (PDT). Disse que nada tinha contra o PDT. João elogiou o trabalho que vem sendo realizado por José Lima, no Ipês, e ressaltou a atuação do vereador Vovô Monteiro, quando esteve à frente da Secretaria. ALMEIDA O senador Almeida Lima (PDT) não acompanha mais o governador João Alves Filho, em sua viagem à China. Ele já tinha autorização do Senado para ausentar-se do Congresso. Almeida disse que não tinha clima, de ordem pessoal, “porque estou contrariado com João Alves”. O senador não concordou com a exoneração de Genecildo Pereira. TEMPESTADE Almeida Lima não gostou quando o governador João Alves Filho declarou que “estavam querendo fazer uma tempestade em copo d’agua”. E quando ele considerou a demissão uma rotina administrativa, porque os cargos de secretário pertencem ao governador: “não gostei disso”, falou. CONCEIÇÃO A ex-secretária de Ação Social de Aracaju e vereadora Maria Conceição Vieira Santos, consta na folha de pagamento da Prefeitura de Japaratuba, com salário líquido de R$ 808,36. Ela é professora, com salário base de R$ 329,00, ampliação de carga horária de R$ 197,00 e 50% de regência de classe de R$ 263,20, além de outras vantagens. CONVOCAÇÃO A Assembléia Legislativa será convocada dia 14, para tramitação e votação do projeto de reforma do Estado, proposto pela Fundação Dom Cabral. Os deputados devem aprovar uma redução drástica de órgãos do Estado, para diminuir gastos e cortar excesso. O projeto dará uma economia de R$ 2,5 milhões mensais. Notas RESPOSTA O deputado federal João Fontes (PSOL) respondeu à leitora que o acusou de abuso nos gastos de combustível. Revelou que os gasto de combustível e lubrificantes, do período citado entre janeiro a maio desse ano é falso: “qualquer cidadão pode ter comprovar isso, acessando o site da Câmara ( www.camara.gov.br.)”. João Fontes explicou, também, que a quantia não se resume somente “às minhas despesas pessoais, mas a toda estrutura de assessoria parlamentar, tanto em Brasília, como em Aracaju, além do serviço de gabinete”. SUGESTÃO João Fontes sugere ao Senador, que paga R$ 12 mil por mês de verba indenizatória, tivesse o mesmo procedimento da Câmara dos Deputados, para que opinião pública acompanhasse os gastos de cada um dele através de um site. Acha que essa forma torna mais transparente o que se gasta com cada parlamentar. O deputado federal João Fontes também lembra que a Assembléia de Sergipe repassa R$ 9 mil por mês a cada deputado e a Câmara Municipal de Aracaju destina R$ 7 mil por mês a cada vereador, sem que os gastos sejam comprovados. INTERNET Com o advento da internet, o aconselhável é que as notícias sejam sempre colocadas em tempo real nos sites. Entretanto, não é isso que vem acontecendo, pelo menos em certas instituições em Aracaju. A Câmara Municipal, por exemplo, está desatualizada desde o dia 5 passado, o que é injustificável. Entretanto a Assembléia Legislativa, que tem transmissão ao vivo pela TV a cabo, não atualiza o seu site desde o dia 1º deste mês. Mesmo com o recesso, seria bom que o noticiário fosse mantido em dia. É fogo Com a liberação do Tribunal Regional Eleitoral, já está começando a aparecer nas ruas a propaganda eleitoral dos candidatos. Os candidatos à Prefeitura, entretanto, ainda estão na base das reuniões e conversam com o pessoal de coordenação de campanha. Bem vestido, José Ribeiro Rola (Prona) estava na solenidade de transmissão de cargo de Ivan Paixão para Mendonça Prado, na Administração. José Ribeiro foi vetado como candidato a vereador e, se isso irritou Rola, serviu de alívio para que poderia imagina-lo com um mandato na Câmara Municipal. É muito perigoso criticar que Sergipe esteja recebendo um volume alto de recursos do Governo Federal. Isso é ótimo. Agora é preciso fiscalizar bem a aplicação desses recursos e como eles estão servindo ao povo. A questão será essa. O professor Esdras Valeriano (PFL) perdeu o comando do partido e ficou sem legenda para disputar a reeleição em Tobias Barreto. O prefeito Marcelo Déda estava, ontem, no plenário da Câmara Federal, conversando com o deputado Paulo Bernardo, relator da Comissão de Orçamento. Estava em busca de recursos e conseguiu liberar mais R$ 12 milhões de reais de emendas orçamentárias. O prefeito de Macambira, Carivaldo Souza (PSB), está dizendo que o secretário de Segurança, Luiz Mendonça, favorece ao seu adversário político. O crime de sonegação fiscal em Sergipe será punido de forma severa pela justiça sergipana, segundo convênio assinado pelo Governo. O Governo vendeu todos os três milhões de Letras do Tesouro que se dispôs a ofertar aos investidores em leilão realizado, gerando um volume financeiro de R$ 2,740 bilhões. Por Diógenes Brayner brayner@infonet.com.br