A vanguarda do atraso e o renovado apetite escravagista.

Que me perdoem os ingênuos, os saudosistas, os que vêem o mundo pelo ângulo da muriçoca, do mosquito da dengue, da urtiga, da água viva, do xiquexique e da taboca.  Este é o mundo contra o homem. Porque a natureza não é a favor do homem. Fosse assim o rastejar humano não exigiria a proteção que sua cabeça define e previne.

 

Não fosse assim, possuir cabeça para pensar, o homem seria pior que o boi, o rinoceronte, sem sua força, sem seu chifre, sem seu casco. Porque até o boi só existe nas pastagens feitas pelo homem e para o homem. Por isso, louvemos as churrascarias, com picanhas sangrantes entupindo gozosamente as nossas veias. Que elas morram abarrotadas e felizes, ora essa!

 

Mas alguns homens teimam em louvar a natureza, como se esta fosse sábia e plena ao seu favor. Quando a natureza tem regras imutáveis, e missão do homem é descobri-las e domá-las em seu benefício. Um encargo que deve ser cumprido a risco sem temer cansaço, porque no mesmo lado, ou quase perto, estarão os que dela se servirão para a destruição e manipulação do próprio homem, ou dos homens de uma determinada casta, tribo ou crença.

 

Porque a coisa mais importante no homem, em sua criação e conquista foi experimentar a liberdade, foi sentir a ausência do temor de convenções, regras ou determinações de doutos, santos e iluminados. Vitória surgida do iluminismo, do racionalismo, da demolição dos dogmas, repelindo superstições, manipulações com o além-homem, por exemplo, com os castigos eternos, em outros exemplos de fogueiras e danações, ditadas por místicos, mistificadores e alucinados.

 

Uma alucinação que se utilizava da fraqueza do homem perante a dor, o sofrimento e a morte, para afirmar que lhe cabia aceitar tudo, até com autoflagelação em expiação da própria imperfeição.

 

Ora, se somos imperfeitos desde a criação, disso não seremos culpados, jamais! Difícil é ser eu na minha deficiência perante o sonho, a vontade e o desejo, instigados em mim sem asas para vôos, nem barbatanas para mergulhos profundos. E assim, o Deus criador, supremo, onipresente e sabedor de tudo, tem que ser bem maior que toda a miserabilidade humana, sobretudo no perdão, como exigência da criação.

 

Que os homens se amem uns aos outros, mas que não se queiram tolos achando que sem a força, a vontade, a luta, será possível a vida em plenitude com tantas carências de energia e proteína.

 

Não existe maná, desde Moisés no deserto, atravessando o Mar Vermelho a pé enxuto. Não existe desfruto de multiplicação de peixes e pães desde Jesus e seus apóstolos. Também não existe vinho licoroso fermentado em odres de águas de lavabos, sem levedos e sem açúcares, desde as bodas de Caná, na Galiléia.

 

Porque na nossa vã prosopopéia, nesta nossa vida ganga, rebatida na bateia, não há lanche gratuito e o ouro só ressurge do cascalho com o homem roendo a pedra como formiga, ou arando e plantando a estéril terra, com suor catingoso e sob o sol cancerígeno.

 

Porque a natureza é bruta em suas regras e composição. Mesmo que ela, a natureza, seja bela, pareça sorridente e transpareça azul. Porque também é uma característica humana, exclusivamente dos filhos de mulher, cantar o belo, admirar o riso e o amanhecer, e com isso se embasbacar com o arco-íris, em aliança com a criação.

 

Quando o arco-íris sem sonhos de ternura é, em realidade, apenas a dispersão luminosa nas gotas de chuvas em sua dioptria e geometria. Tudo desvendado pelo homem, estudado pelo homem, repetido pelo homem, em conquista e missão de continuidade da criação.

 

E mais! Fosse o homem, todo ele, cego, a natureza lhe seria a mesma. E só por isso, ser-lhe-ia menos favorável. Continuar-nos-ia bem maior em desafio e luta. Porque o nosso casco não é igual ao do caprino, nossa casca não é reforçada como a do quelônio, e nossas presas não apresentam amoladura leonina

 

E assim, é preciso separar o romantismo de ingenuidade. Missão do homem é buscar o saber, é dominar o minúsculo, o maiúsculo, e tudo que os recheia e preenche em vazios de pausa, e em acordes de fortíssimo.

 

É preciso perquirir a sonoridade dodecafônica. É necessário dominar os espaços vetoriais além do tri dimensional rotineiro, para tentar entender o tempo como variável inexorável, desembestada e sem brida.

 

Parametrizar o provisório e o atemporal em nosso favor, jamais em desfavor de taumaturgos, messiânicos e mistificadores. Porque o além-homem e o além-túmulo sempre existirão e não pode ser um bem material de fruição pessoal, uma espécie de orgasmo masturbatório e solitarista, refém de uma pregação maniqueísta a ensejar medos e covardia, sem falar da eterna mofa que enseja; os santos zombando dos pecadores.

 

A ser assim, melhor aceitar a própria imperfeição sem pusilanimidade. E seja o que Deus quiser!

 

Mas eu não quero falar das coisas de Deus. Também não quero falar dos saltos medrosos dos que medram na fé, nem dos pulos atrevidos no vazio e no desvario da desfé.

 

Quero falar desta nova fé, desta nova religião obscurantista que, abolindo deuses e vãs parusias, vem se apoderando da ciência tentando parar o mundo porque o desvendaram febril em avanços e fastígios. E isso logo desperta o farisaísmo que abomina o bom consumo como sonho do viver humano.

 

Porque o comunismo não mais empolga desde que caiu derrubado pela máquina de lavar, pelo liquidificador e pela força do motor. E no seu lugar, como quimera de ilusão e utopia, eis que surge como sonho de república anti-proletária, querer parar tudo em nome do gafanhoto, do mucuim e do caramujo peçonhento, porque a diversidade tem que ser maior que a humanidade. E assim eis a nova palavra de ordem sem contestação: sustentabilidade!

 

Thomas Malthus (!766-1834) pregava um crescimento contido da população, mediante moderação reprodutiva.

 

E a sustentabilidade não vê e não pensa no nosso extravagante crescimento populacional em prolificidade de coelhos. Não relembra quão sábio estava Thomas Malthus, duzentos anos passados, levantando a questão geométrica na progressão da população.

 

Quando Malthus só receitava e preceituava a sustentabilidade em pregação de parcimônia; que os homens praticassem menos sexo, casassem mais longevos, e fizessem menos filhos. Mas aqui o sol é tépido e a fruta é colhida em tenra flor, e assim sua pregação foi rejeitada, mesmo agora, quando a camisinha já existe e há tantos que a demonizam!

 

Mas, sem pensar nos milhões crescentes de famintos, na proteína a ingerir e no papel a higienizar a dejeção progressiva, defende-se a sustentabilidade para arrefecer a produção agrícola e industrial, aquilo que tem sido um sucesso na criação humana.

 

Querem parar tudo para discutir o que fazer, porque novos messias ressurgiram aos milhões pregando um desenvolvimento que amorteça o lucro, que impeça o capital de fomentar e forjar riqueza, algo que dificulte por decreto, que se plante e se colha energia, como a do álcool, por exemplo, ralo sucesso brasileiro retumbante, e do átomo sendo visto com sobrolho, sem falar da oposição corrosiva a tudo que represente modernidade como células tronco embrionárias, alimentos transgênicos, fusão nuclear, etc.

 

E até as nossas quedas d’água, um sucesso da nossa engenharia! Querem que as cachoeiras como Belmonte permaneçam como paisagem luxuriosa e imperiosa, em apagão e escuridão!

 

E logo virá, por pregação, a abolição das omeletas para a conservação dos ovos!

 

E ninguém fala disso. E acha que a pregação da sustentabilidade, que ninguém sabe o que é, e deseja, empolgou meio mundo de gente; vinte milhões para ser exato!

 

Será a nossa esperança de mudança; esta vanguarda do atraso!? A louvação da coceirinha do pé, no chulé e do bicho de porco; romântico, poético, em sonhos de bom selvagem rousseauniano, com a sovaqueira mantida por não contida pelos poluentes antitranspirantes em líquidos ou bastões ou pelos aerossóis desodorantes e desozonisantes?

 

Um retorno à medicina natural, quem o sabe? Não faltará bem logo uma pregação de faquir indiano, recomendando a cura por ingestão da própria urina como remédio e tempero?

 

Quando, por intermédio e por destempero, no cerne desta discussão, em amorável osculação ecologicamente correta, está o velho saudosismo equivocado da ojeriza ao capital. Simplismo e simplicidade derivados da velha inveja em olhar gordo para o bem sucedido? Ou então porque no campo das ideologias mínguém renega sua fé, e o que foi continuará a ser, mesmo com o muro de Berlim derrubado e não mais lembrado.

 

Porque se o vermelho de ontem não mais ilude, com o endeusamento do proletariado e a busca utópica de uma sua república, perfile-se outra bandeira. O proletariado já não mais crê no principado a ele oferecido, não fruiu a propriedade do estado dito seu, não sorveu a cidadania em promessa e sonhos e rejeitou a mais valia de uma ditadura, opressora e violenta a quem lhes pensasse diferente.

 

Eis então a nova moda em evidência; ser intolerante conservacionista em missão fanática de salvação do planeta.

 

Igual a ontem, agora verdejando as bandeiras, numa renovada niquelagem da antanha pílula oxidada, para o engodo e a deglutição.

 

Por outro lado, na ânsia de “fichas-limpas” em nova contaminação febril, eis agora as novas bandeiras verdes exibindo a velha intolerância totalitária em pureza de intenções e em imiscibilidade com o erro. Eis de novo uma velha “santidade” de tantas siglas em nascedouro, nesta nossa república sem permanência de regras e de costumes. Democracia de experimentação, de escolha aleatória, em ensaio e erro, onde valem mais a garganta do orador de ocasião, como Marina Silva agora com seus milhões de adeptos, e as dezenas de partidos que já querem gravitar no seu derredor, para gastar bem e melhor o fundo partidário sustido pelo erário.

 

Tudo para que, em exposição de melhor santidade e maior bondade, empolgar os ingênuos e os tolos de sempre que só veem o mal no Tirica espremendo pústulas!

 

Porque os broncos, lerdos e infantis aplaudem os mesmos discursos, quando estes lhes louvam a bonomia, a despretensão e boa fé, a sua incompetência mediana, como se isto fosse o melhor mérito, perante um mundo hostil, desumano, maldoso, explorador e corrupto. Mundo em que sempre é o outro quem suja, e nunca somos nós próprios os embostelados, os emporcalhados e os fedidos.

 

Mas há outra falácia; ela é ressurgente do não menos antigo apetite insaciável escravagista: “pagamos muitos impostos!” Eis o grande grito dos ricos, dos impostores abastados, que os pobres repetem abestalhados como eco.

 

“É preciso retirar os encargos sociais da folha da empresa!” – dizem ainda. “É preciso abolir a senil legislação Getulista!” Eis o ressaibo da saudade escravocrata, em pleno terceiro milênio, desafiando a Princesa Isabel, desde Eusébio de Queiroz e Saraiva – Cotegipe!

 

Que encargos retirar; férias, décimo terceiro salário, adicional de férias, hora-extra, adicional noturno, periculosidade, vale transporte, fundo de garantia, tudo que tem sido um ganho conquistado na luta obreira?

 

E diante de tanta miséria e pobreza, será possível erradicá-las sem a sensibilidade do Estado para retirar daquele impassível bem aquinhoado, mediante impostos, em distribuição de renda aos mais carentes? O mercado resolverá tudo em diálogo de pescoço contra o machado?

 

“Ah, mas o problema da pobreza não é meu”, diz o pagador de impostos que sonega muito e deveria contribuir bem mais, sobretudo com tabelas progressivas no imposto de renda, e mediante aportes hoje já permissíveis pela informática, como é o caso do imposto do cheque, uma necessidade a ressuscitar sem caráter provisório.

 

E quando alguém vier nos dizer com meiguice, ternura e carinho, que um mundo será possível com a mera tomada do poder sem a mudança geral dos homens, com todo mundo vivendo melhor e com menos impostos a pagar; desconfie! É mentira!

 

E se alguém vier falar também do aquecimento global como algo verdadeiro, insofismável, cientificamente indiscutível; É mais um pulha, um obscuro falsário, como tantos surgidos na humanidade e já esquecidos.

 

E ainda, se é um novo partido político entre tantos nesta nossa esbórnia democrática, que se diz imune aos erros dos homens, lembremos das outras siglas, arcas de Noé de ocasião, para onde migraram tantos indivíduos “fichas sujas” de ontem, e de quantos se abrigarão amanhã.

 

Missão do homem é humanizar-se. É saber conviver com o outro. É não poluir, não sujar. Tratar seus esgotos para não empestear a vida. E no mais, saber gerir a natureza ao seu favor, gerando riquezas, trabalho, alimento e energia para o conforto da vida; os mais fortes amparando os mais fracos.

 

Como os homens não são santos, cabe ao Estado dirimir as diferenças. Evitar substituir e tolher a iniciativa privada, com regulamentações abusivas, ditadas pela ecofobia alarmista, e não possuir a vergonha de garimpar novos impostos na redução das desigualdades.

 

É preciso, com veemência e coragem, rebater cientificamente a vanguarda do atraso e repelir o deletério apetite escravagista, sempre renovado e jamais vencido.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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