A Venezuela depois de Hugo Chávez

Rafael Pinheiro de Araújo
Professor dos cursos de História e Relações Internacionais do Centro Universitário LA SALLE – UNILASALLE/RJ. Pesquisador do Laboratório de Estudos do Tempo Presente/UFRJ e doutorando em História pela mesma instituição. E-mail: rafa.ara@gmail.com

O falecimento de Hugo Chávez Frías (1954-2012) em Caracas no último dia 05 de março inaugurou um período de dúvidas na Venezuela e, principalmente, nos seus vizinhos sul-americanos sobre a continuidade do chavismo. A questão fundamental parecer ser a seguinte: é possível um chavismo sem Chávez? Bem, acreditamos que a ampla e impressionante mobilização popular demonstrada no velório do líder sul-americano (mais de dois milhões de pessoas passaram pela Capilla Ardiente) sugere que possivelmente o chavismo se perpetuará nos anos vindouros.

Deste modo, pensamos que o fenômeno do “chavismo” persistirá, assim como ocorreu com o varguismo no Brasil ou o peronismo, na Argentina. A liderança de Chávez era essencial e é muito pouco provável que Nicolas Maduro, o “herdeiro político” indicado por Chávez, Diosdado Cabello ou outra liderança do Parido Socialista Unido de Venezuela (PSUV) se aproximem do papel por ele cumprido nos últimos anos no cenário nacional venezuelano.
Antes de seguir para a última viagem do tratamento contra o câncer em Cuba no início de dezembro, Chávez indicou Nicolas Maduro como o seu sucessor. Ao nomear publicamente o seu herdeiro político, Hugo Chávez pretendeu claramente iniciar uma transferência de votos, mas também unir os integrantes do seu partido, o PSUV, evitando disputas pela sucessão entre Maduro e, principalmente, Cabello.

Além da designação del Comandante, há outros três elementos centrais para avaliarmos a unidade dos chavistas em torno de Maduro: 1) o apoio das Forças Armadas; 2) a preferência dos aliados latino-americanos, sobretudo os cubanos, em virtude do seu papel de Chanceler entre 2006-2012; 3) a pouca rejeição entre os militantes do PSUV.
Quem é Nicolas Maduro? é um chavista histórico, um dos homens de confiança de Chávez e alguém que dispõe de certa credibilidade internacional. Maduro começou a sua militância política na Liga Socialista, quando ainda era estudante secundarista. Na década de 1990 foi motorista de ônibus das unidades terrestres da empresa “Metrobus”, que complementava o serviço do metrô da capital venezuelana. Ainda nos anos 1990 ingressou no Movimento Bolivariano Revolucionário (MBR-200), encabeçado por Chávez, acabou tornando-se deputado constituinte em 1999, depois deputado do parlamento unicameral e, entre 2006-2012, tornou-se ministro de Relações Exteriores, cargo que ocupou até outubro de 2012, quando foi então designado vice-presidente.

Com a morte de Chávez, Maduro foi empossado presidente em oito de março de 2013, mesmo dia do funeral para os chefes de Estado, e as eleições foram convocadas para o próximo 14 de abril. Historicamente, o chavismo teve uma média de 54%-56% dos votos. O apoio ao chavismo e o clamor popular em torno do velório de Chávez indicam que, provavelmente, Maduro vencerá as eleições e poderá superar a média de votos do PSUV nos últimos anos.

Todavia, lembremos, Maduro não é Chávez. Ele é menos radical, representa aquilo que denominamos de um chavismo de centro. Sendo assim, provavelmente, não assistiremos mais os discursos efusivos contra os Estados Unidos ou as longas falas em defesa do socialismo do século XXI. Assistiremos a um tom mais moderado nas relações com a oposição esquálida e uma diminuição do discurso anti-imperialista, direcionado aos Estados Unidos e Europa.

Nesse momento, talvez ainda sob o impacto da perda do seu maior líder, há uma unidade do PSUV em torno de Maduro. Possíveis divisões na busca pelo poder entre as principais lideranças do partido não apareceram. Isso, inegavelmente, possibilitará a continuidade do fenômeno chavista em médio prazo. O embalsamento de Chávez e a construção do mausoléu em sua memória representam não só a continuação do culto a sua personalidade, traço fundamental do chavismo, mas a própria possibilidade da imagem para sempre presente do “Comandante” evitar divisões futuras na burocracia pesuvista. O controle da memória de Chávez é chave para reforçar os argumentos do atual governo e das bases sociais do seu partido, que afirmaram que Chávez não morreu, mas apenas “desapareceu fisicamente”.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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