Sergipe perdeu, há poucos dias, Luiz Ouro, o Lourão, advogado de profissão, cantor por vocação e talento, um dos melhores talentos sergipanos, com presença de voz, a um tempo macia e potente, tanto no rádio, como nos clubes, na vida boemia, onde o seu irmão, Carlos Tirso, continua atraindo plateias. Luiz Ouro marcou uma geração, que no plano nacional reunia cantores como Nelson Gonçalves, e compositores como Adelino Moreira, na transição entre o samba-canção e a batida da bossa nova. Foi o tempo, também, do célebre concurso A VOZ DE OURO ABC, que revelava cantoras e cantores, muitos deles oriundos dos Estados.
Sergipe sempre teve sensibilidade musical, fosse para manter as suas raízes mais antigas, com os cantos folclóricos, fosse na projeção que o rádio, tanto em Aracaju, como fora do Estado promovia. Vozes como a de Raimundo Santos Prelelué, que imortalizou o Hino do Clube Esportivo Sergipe, e que revive no Estádio Lourival Baptista nos tempos do bom futebol. A fase atual não permite a vibração do público, quando Raimundo Santos liberta a voz: “50 anos de luta e de glória….” O futebol também responde pelo sucesso do Hino do Confiança “Quem é o campeão dos campeões…de autoria de José Silva.
João Melo, que cantou na velha Rádio Aperipê (antes Difusora) e se tornou, para o público, “ O Cantor Máximo de Sergipe.” Vilermando Orico, apenas um menino, empolgou Aracaju, na festa do Centenário (1955) com um dobrado de sua autoria: “Há cem anos passados/ surgiu em meu Brasil/um torrão abençoado/ cheio de encantos mil….” Nessa época, Luiz Ouro disputava com Antonio Teles a preferência do público. Duas belas vozes, dois bons repertórios, dois boêmios, dois artistas fantásticos. Antonio Teles morreu cedo, aos 52 anos, Lourão sobreviveu, experimentou outra profissão, mas continuou cantando, esbanjando talento e simpatia.
Anos depois, Edildecio Andrade, também um garoto, despontou para o extrelato, com uma voz bonita que o tempo conservou. Seu sucesso individual, no Trio Atalaia, abriu as portas para que ele fosse a voz e o violão do Trio Irakitã, e regravasse dezenas e dezenas de sucessos, até morrer, de repente, no Rio de Janeiro, ainda jovem. Edildécio Andrade vinha, com frequência, a Sergipe e cantava no Cariri e noutros lugares, fazendo uma trilha sonora de grandes boleros, que imortalizaram o Trio Irakitã. A morte do cantor, além de uma enorme surpresa, retirou da cena um artista que construiu, como poucos, uma carreira de brilho e de aplausos.
A morte de Luiz Ouro faz evocar a sua partiicipação no concurso radiofônico A VOZ DE OURO ABC, que contou com Lucinha Fontes, de Sergipe, boa intérprete, que ainda hoje canta, mantendo uma voa bonita, que fez sucesso no rádio sergipano. O concurso era, para os artistas, o que de melhor podia acontecer para coroar u8ma carreira musical. Vários artistas brasileiros passaram pela VOZ DE OURO ABC, como, por exemplo, Altemar Dutra, que teve em Lourão um forte concorrente. É certo que o Brasil ganhou um grande intérprete, que foi o Altemar Dutra, com grande sucesso a partir da década de 1960: “Maldito seja o amor…” Outros também fizeram carreira, apoiados peloa fama dada pelo concurso patrocinado pelos Rádios ABC.
Luiz Ouro deixa, portanto, uma lacuna e fecha um capítulo na história do rádio e da música popular brasileira em Sergipe. A melhor homenagem ao morto, não é chorar, com tristeza, a sua falta, mas exaltar, com justiça, o seu valor. A dor da morte e a saudade não devem prevalecer, mas as lembranças, os timbres, os sucessos, as reinterpretações que Lourão, mais do que qualquer outro, dominava. Calou A VOZ DE OURO ABC de Sergipe,viva Lourão. Que Sergipe guarde e zele pela sua memória, retribuindo as emoções que ele deixou, de sua voz e do romantismo das músicas que cantou.