A política de Segurança Pública do governo de Marcelo Déda, esbarra em critérios éticos, constitucionais, e, sobretudo destoa do histórico do governador, que vem de um campo de batalhas de desigualdades e lutas, que de uma certa forma o fez chegar onde está. É claro que o governador tem sido voraz em não compactuar com abusos, nem falas, nem nenhum tipo de ação criminosa que permeia o exercício da pasta em todas as esferas que a envolve. Em seus pronunciamentos tem sido contundente, pedido punição severa e arbitrado a favor da legalidade. Mas nada disso tem sido suficiente.
A quantidade de rubrica que se libera para a pasta é impactante e ainda gera controvérsias no quesito prioridade. Que tipo de segurança nós queremos e esperamos? O CIOSP melhorou muito, – é eficiente, embora lento, mas carros, viaturas andam sem licenciamento e sofrem todo tipo de ausência de uma inspeção de qualidade, não há um núcleo para isso, verificar pneus, efetivo real na ativa e etc. O que se vê é uma ausência de tabela para as rondas nos bairros, isso sem falar das equipes que param para abordar condutores de veículos, serviço que cabe ao CPTRAN, numa total inversão de papéis, enquanto a “ronda” fica suprimida da pauta. A quem cobrar?
No interior, a situação é mais grave e catastrófica. Tem delegacias que não tem viatura para um simples translado, sem falar nas condições sub-humanas a que são amontoados os presos, como se fossem bichos. Não dá para visitar aqui em Aracaju e 8ª e a 5ª delegacia,por exemplo. Tem presos há nove meses dentro do cubículo, sem uma audiência, sem advogado. O Estado faz olhos grossos a uma situação inadmissível, – o preso apodrecerá ali?
Outra deficiência mais grave, contrastando com o caminhão comprado para o corpo de bombeiros última geração, é a falta de cursos, workshops e treinamentos ao efetivo da polícia. Para que serve o GETAM? Qual o papel deste agrupamento tático no seio da comunidade? Por que nossos policiais não são beneficiados com cursos de atualização e modernização com profissionais contratados? Que relatório o governador tem em mãos sobre o serviço desempenhado por todo o seu efetivo? Nenhum.O governador nem sabia, antes da visita das juízas do CNJ, que mais de quatro milhões foram devolvidos, porque não foi apresentado um projeto para as melhoras das condições do CENAM, coordenado pela Fundação Renascer.
Mas o motivo deste artigo não é nada disso. A razão é a abordagem policial e a pobreza. Recentemente, patrulhas/motos do GETAM, em plena cinco horas da tarde, colocavam pretos, pobres e mal vestidos, com as mãos na cabeça, no bairro 13 de julho, em situação vexatória e humilhante para ver o que eles tinham entre as calças. Passado a cena de horror, a olhos nus de quem passava, os “moleques” foram liberados e o GETAM saiu em comboio nas motos, super-armados como se ali estivessem apenas para defender os ricos da 13 de julho, e oprimir os pobres miseráveis que ali esperavam o ônibus. Mais adiante, no bairro Coroa do Meio, o mesmo grupo tático, parava dois magricelos, vindo com restos da marmita do trabalho , e o encostavam na parede, buscando algo que ali pudesse condená-los. Nenhum de cor branca, carro do ano, ou de moto chique? Não, negros, trabalhadores braçais, – sempre suspeitos.
O que nos faz pensar que a pobreza é um mal latente. Insulta a autoridade policial em agir assim. Mais atrás, na orlinha do bairro Industrial, o GETAM, colocava dois meninos e uma shineray deitada no chão, enquanto mandava o preto calar a boca. Passado os minutos de pânico, barbárie psicológica, dispensaram os garotos e um disse: “não olhe para trás, não”. Um dos meninos soluçando grafava na fala Intumescida o seguinte: “sou trabalhador, não sou ladrão”. E foi sem olhar para trás.
Um governo que não preza com civilidade pelos seus cidadãos que já vivem à margem, precisa repensar, – e com urgência, que tipo de sociedade está construindo, que tipo de abordagem é feita e porque tem sido assim sempre. O que esperamos do monsieur Déda é apenas uma atitude: o fim dos apartheids significativos de fórum coletivo, próprio dos governos ditatoriais, – o que não deve ser o caso, para quem o conhece, do governador Déda.