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Acrísio Cruz |
Autodidata, enveredou pelos caminhos da educação, assumindo, aos 25 anos, a direção do Grupo Escolar General Siqueira, um dos mais antigos de Aracaju, construído pelo presidente do Estado José de Siqueira Menezes, à rua de Itabaiana, onde hoje está sediada a Polícia Militar, com seu Quartel central, passando, depois, para o Grupo Escolar Manoel Luiz, construído por Graccho Cardoso, na praça da Bandeira.
Estudioso da psicologia e das novas concepções pedagógicas, Acrísio Cruz apresenta-se na Segunda Reunião da Sociedade de Neurologia, Psiquiatria e Higiene Mental do Nordeste Brasileiro, realizada em Aracaju de 20 a 25 de outubro de 1940, com uma comunicação original, intitulada Personalidade infantil e escola, na qual mais do que mostrar atualização bibliográfica, discute um caso colhido na sua experiência como diretor do Grupo Escolar Manoel Luiz. Já em 1944, no número 2 da Revista de Aracaju, dá a conhecer aos sergipanos a Tese que apresentou no III Congresso de Neurobiologia, tratando de temática pedagógica, sob o título de Carência Lúdica e Escolaridade.
A carreira de administrador escolar e de técnico em educação, e suas reflexões pedagógicas, precedem a de professor de Língua Portuguesa, de Psicologia Infantil, de Pedagogia, e não impede sua presença no jornalismo sergipano, notadamente o jornalismo político, engajado partidariamente, muito menos na militância e no mandato por ela conquistado. Assim, além de Diretor de grupos escolares, Acrísio Cruz foi Assistente Técnico Geral do Departamento de Educação, em 1942, Técnico em Educação, em 1943, e por cinco vezes Diretor do Departamento de Educação, entre 1944, desde 11 de janeiro, data de sua primeira nomeação, até 1950, desde 9 de setembro quando foi nomeado pela última vez e até assumir, na Assembléia Legislativa do Estado, em 1951, seu mandato de deputado, eleito pela legenda do Partido Social Democrático.
Desenvolvendo intensa atividade laboral, Acrísio Cruz ocupou outros cargos, presidiu e integrou Comissões, representou o Estado junto a organismos nacionais e internacionais, e principalmente orientou e dirigiu os trabalhos do Departamento de Educação do Estado, durante o Governo de José Rollemberg Leite (1947-1951), que resultaram numa verdadeira revolução no ensino público primário, com a construção de mais de duas centenas de Escolas Rurais, da Escola Murilo Braga, de formação de professores, em Itabaiana, e da criação das duas primeiras escolas superiores – Química e Economia -, e ainda do apoio financeiro e material para a fundação de mais duas escolas, a de Direito e a de Filosofia. Acrísio Cruz colocou Sergipe, naquele período de Governo, como piloto das mais novas experiências pedagógicas, conduzidas no Ministério da Educação pelo professor Murilo Braga. A Escola Rural, por exemplo, juntava sala de aula, multi seriada, com a moradia da professora, em dois cômodos principais, enriquecidos com uma área entre eles, que servia para a recreação. Construída em pequeno terreno, a Escola permitia aos seus alunos um contato com a terra, a família da professora, pequenas plantações e animais de pequeno porte. A Escola Rural Murilo Braga, a primeira das escolas secundárias no interior do Estado, também representava uma novidade, que o correr do tempo desativou. Hoje o Colégio Murilo Braga, um dos maiores do Estado, cumpre seu papel de escola propedêutica, com os olhos lançados, anualmente, para o vestibular das universidades e faculdades. Deve-se, também, a Acrísio Cruz a construção de grupos escolares, na capital e no interior, democratizando o acesso das crianças e dos jovens à escola.
O prêmio pelo seu trabalho como Diretor do Departamento de Educação do Estado, cargo equivalente, hoje, a Secretaria de Estado da Educação, foi o mandato de deputado estadual, conquistado, em 1950, com 1855 votos, a maior votação entre os candidatos do seu partido, o PSD, a terceira entre todos os candidatos, de todos os partidos e coligações. Como deputado Acrísio Cruz teve a oportunidade de servir, política e tecnicamente, ao Governo de Arnaldo Rollemberg Garcez (1951-1955), inclusive como Secretário de Justiça, muito embora não tenha conseguido a reeleição para a Assembléia, na eleição de 1954. Com apenas 1427 votos, ficou na suplência. Nomeado para a COAP, depois SUNAB, órgão controlador de preços do Governo Federal, sabia que os novos tempos não eram favoráveis, afinal a UDN, liderada por Leandro Maciel, conquistava o Poder e se manteria no Palácio Olímpio Campos até 1963, quando Seixas Dória, retirado dos quadros udenistas e apoiado pela coligação PSD-PR, quebrou a seqüência que alternava Luiz Garcia e Leandro Maciel nas disputas ao Governo do Estado. Acrísio Cruz foi então, 1963, nomeado para compor o Conselho Estadual de Educação, figurando ao lado de outros notáveis professores, como Ofenísia Soares Freire e José Silvério Leite Fontes. Com o movimento militar de 1964 o governador Seixas Dória foi deposto e preso, e o Conselho Estadual de Educação sofreu intervenção.
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Acrísio Cruz e Rollenberg Leite |
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