“De todas as criaturas da Terra, só os seres humanos podem modificar os seus padrões. A maior revolução da nossa geração é que os seres humanos modificando as suas atitudes internas de suas mentes podem modificar os aspectos exteriores das suas vidas”. (Willian James, 1902) As atitudes aqui abordadas estão associadas à nossa maneira de pensar, as quais podem ser trabalhadas, desenvolvidas e reformuladas, no entanto, para que isso aconteça, é importante que deixemos de lado a espera e passemos para a ação, para o desejo forte e decidido de trabalharmos, educarmos e conseqüentemente melhorarmos as nossas atitudes externas, as quais estarão profundamente baseadas nas nossas formas e estilos de pensar. Portanto, pode-se afirmar que esse é um processo de amadurecimento desejado, gradativo e contínuo, mas para que esse amadurecimento aconteça é necessário que passemos profundo processo de aprendizagem e que quebremos simultaneamente vários dos nossos paradigmas. Essas atitudes que estaremos falando agora atuam em nós como se nos “congelassem” e, como conseqüência impedindo a nossa ação ou nos fornecendo uma série infindável de álibis para justificar a nossa não participação. É importante frisar que os pensamentos atitudinais que impedem o desenvolvimento da cidadania são os mesmos que inibem o sentimento da criatividade. Com certeza muitas outras atitudes desmobilizadoras estão presentes no nosso cotidiano, todavia estaremos destacando algumas por serem mais fortes. “Agir como Expectador”: Para a maioria das pessoas o seu objetivo principal de vida é ter um emprego. Assim sendo quando essas pessoas chegam no mundo organizacional ao invés de tentarem introduzir novas idéias, novos pontos de vista, procuram apenas trabalhar sem se expor muito e procuram ficar dentro da linha do pensamento geral da organização, ou da cultura organizacional vigente. Quando convocados para solucionar problemas, ou para exporem as suas opiniões, ao invés de colaborar com o seu real ponto de vista, preferem ficar com os posicionamentos gerais que captaram ser o pensamento do grupo por se sentirem mais seguras dessa forma. Talvez seja essa a atitude mais forte e representativa das características do povo brasileiro. Provavelmente pelo fato de tanto “deixar para lá”, de tanto ver problemas sociais fortes serem representados como grande brincadeira na mídia do país, de tanto viver por delegação as façanhas de outros heróis com outro idioma, outros valores morais e outros aspectos físicos, talvez seja esse um dos motivos pelos quais o povo brasileiro tem tanta dificuldade em se mobilizar para a ação. Parece que não consegue viver os desafios do país, da cidade, do seu bairro e da sua profissão. Comporta-se como se fosse apenas um expectador, e, quando muito fica verbalmente indignado, fala muito, reclama muito no trabalho, na fila de ônibus, nas reuniões da comunidade, mas simplesmente não consegue compreender ou ver uma solução que modificar esse processo. Temos questionado e pesquisado com os grupos que trabalhamos acerca dos seus heróis da infância ou da adolescência. As respostas mais comuns que obtemos são: Super-Homem, Batman e Robin, Zorro, Durango Kid, dentre outros. Acreditamos que vem daí a espera de algum herói para nos tirar do despenhadeiro no qual vivemos, daí a inércia das pessoas, a falta de coragem, de ação. Intimamente, parece que estamos sempre a espera do “sinal do morcego no ar…”. Um exemplo real Há alguns anos atrás estava fazendo compras em um grande supermercado da cidade. Era véspera de um grande feriado e por esse motivo as filas estavam imensas. Quando terminei as compras me dirigi aos caixas e entrei em uma das imensas filas. Ao chegar a minha vez de ser atendido a caixa furiosa olhou para mim e disse: “Eu avisei ao senhor que estava à sua frente que ele seria o último a ser atendido e que ele avisasse aos que chegassem depois. E por esse motivo eu não lhe atendo mais”. Antes de eu falar qualquer coisa as pessoas que estavam atrás de mim praticamente correram para as outras filas como se fossem meninos “bons e educados” ou estivessem sendo “descobertos” fazendo um malfeito qualquer. Então eu falei: “Eu não ouvi a senhora avisar nada, o senhor que estava à minha frente também não me informou nada e eu não vou para outra fila começar tudo de novo”. Ela então me respondeu: ”Eu estou muito cansada, não atendo mais e vou chamar o supervisor para resolver isto”. Assim falando ela pediu que chamassem o supervisor. Alguns minutos depois chegou um jovem rapaz e perguntou o que estava acontecendo. A moça informou, evidentemente segundo o seu entendimento o que estava acontecendo. Então o supervisor, muito atencioso voltou-se para mim e disse: “Senhor, precisamos da sua compreensão, pois ela está cansada, já trabalhou muito etc e etc.”. Eu respondi: “Senhor, eu preciso da sua atenção: passei o dia todo no trabalho, estou voltando para casa agora, também trabalhei muito, estou com fome e já passeis quase três horas nesse supermercado”. O jovem supervisor estava com ar de pânico e a moça resmungava que estava cansada, que os clientes não entendiam, e falava pelos cotovelos. Eu por outro lado, entendia que estava com a razão e não queria agir apenas como um expectador bem educado que concorda com tudo, como fazemos na maioria das vezes, por não exigirmos os nossos direitos de cidadão. As pessoas nas outras filas me olhavam como se eu fosse um bandido. Alguns comentavam baixo e ouvi de uma senhora o seguinte comentário: “Que cara insensível! Só porque a moça é pobre ele está se portando assim”. Finalmente, num raio de “boa vontade” o supervisor olhou para a moça e disse: “Por favor, atenda o cliente, ele será o último e você pode ir embora”. Ela me atendeu indignada. Mas, naquele dia eu sai convicto que agira certo: Eu realmente não ouvira o seu “aviso”, por algum motivo ela não o repetiu, tanto que haviam algumas pessoas atrás de mim. Por outro lado, não fui grosseiro, não fui arrogante, não desfiz ninguém, apenas exigi os meus direitos de cidadão e não me comportei, como muitas vezes fazemos apenas como um “expectador” de muitos acontecimentos que afetam o nosso dia a dia. Muitas vezes acreditamos que são fatos banais, que não vale a pena serem enfrentados, quando na verdade são a mais pura expressão do nosso direito de ir e vir. E, por não exercita assiduamente esse direito tão importante e fundamental vamos esquecendo cada vez mais que devemos ser respeitados e, conseqüentemente, devemos respeitar também os outros, seja qual for a posição que ocupem, ou seja, a qual for a posição em que me encontro. Quantas e quantas vezes por essa conveniência da educação deixamos de dizer que alguma coisa nos incomoda, ou que não gostamos de alguma coisa que foi feito conosco? Isso pode acontecer em casa, com amigos, no trabalho e na comunidade. Se cada um de nós deixar de agir como expectador, muito mais cedo que acreditamos esse país chamado Brasil vai mudar muito e para melhor. * Fernando Viana é diretor presidente da Fundação Brasil Criativo presidente@fbcriativo.org.br