Mônica Porto Apenburg Trindade
Graduanda em História pela UFS.
Integrante do Grupo de Estudo do Tempo Presente.
Bolsista PIBIC do projeto "O Nordeste e a Segunda Guerra Mundial: Narrativas do Cotidiano", apoiado pelo CNPq
apenburg@getempo.org
Trabalho apoiado pelo projeto "Quando a Guerra chegou ao Brasil: Ataques submarinos e memórias nos mares de Sergipe e Bahia (1942-1945)", Edital Universal CNPq 2014.
Agosto de 1942. Esse mês marcou a história sergipana de uma forma trágica. Os torpedeamentos de navios brasileiros entre as costas da Bahia e Sergipe ceifaram a vida de centenas de pessoas, promovendo a experiência da guerra mundial (1939-1945), a segunda no século XX, como algo próximo e não mais observada apenas nos jornais e em filmes exibidos nos cinemas aracajuanos.
Em dezesseis de agosto do corrente ano, serão completados setenta e dois anos desde o acontecimento daquele triste episódio. Muito já se falou a respeito dele através da historiografia sergipana, mas ainda existem alguns aspectos a serem esclarecidos e personagens envolvidos que carecem de uma maior atenção.
Os estrangeiros, por exemplo, grupo pequeno e oriundo de várias nacionalidades, entre elas italianos e alemães, que residiam em Sergipe na década de 1940, foram alvo de suspeitas e perseguições por parte da polícia e até mesmo da população local. Acusados de espionagem e auxílio ao Eixo no caso dos torpedeamentos, esses indivíduos simplesmente sentiram sobre si o peso de residirem, talvez, no local certo, mas na hora inoportuna.
Era um período de combate ao nazismo e ao fascismo. Lutava-se contra os "súditos do Eixo", considerados como verdadeiro perigo à manutenção da ordem e paz dos cidadãos brasileiros e Sergipe, claro, não fugia à regra.
Diante disso, alguns estrangeiros residentes em Aracaju foram detidos a fim de prestarem depoimento, como está registrado no relatório do Chefe de Polícia Enoch Santiago (16/10/1942), ao Interventor Augusto Maynard Gomes (1886-1957). Mediante interrogatório, estes indivíduos eram inquiridos quanto ao tempo de residência no país, sobre o que pensavam em relação ao nazismo, se tinham estabelecido família no Brasil, entre outras perguntas. Contudo, por não terem sido encontradas provas concretas que confirmassem a relação dos estrangeiros presos com o Eixo e os torpedeamentos, a polícia se viu obrigada a libertá-los.
A Imprensa também colaborou para essa atmosfera de apreensão e constante vigilância em relação aos personagens citados. Jornais como O Globo, Correio de Aracaju e Folha da Manhã, exibiam em suas manchetes notas que ratificavam o papel atribuído aos estrangeiros como conspiradores e inimigos do país. Ainda em tais periódicos, encontramos também como resultantes do ambiente de conflito, notícias de transações comerciais desfeitas com firmas estrangeiras, o impedimento do público em adquirir qualquer mercadoria dos estabelecimentos comerciais dos "eixistas", demissões de indivíduos estrangeiros que trabalhavam em cargos públicos e o desejo, por parte do Governo, de forçá-los a trabalhar sem remuneração em obras públicas, como meio de uma "justa vingança" da população.
Como vimos, ainda existe muito a ser estudado no que se refere ao episódio de agosto de 1942. Os torpedeamentos deixaram um rastro de morte e medo entre a população sergipana, mas também geraram um clima de desconfiança e repúdio ante o outro, o desigual, principalmente aqueles que, longe da Alemanha e da Itália, acreditavam estar livres dos horrores da guerra.