Água, cuide desse Tesouro

Elisabeth Rambo é Engenheira Ambiental e trabalha na Ambientec Consultoria, nesta cidade. 
 

Uma mudança de hábito requer entendimento sobre o nosso papel nesse sistema, como e porque consumimos de forma inconsequente. O que falta muitas vezes é percepção, nos tornar sensíveis e abertos a essa percepção.Quem defende o uso sustentável da água deve estar atento para as questões mais íntimas desse sistema tão complexo e frágil. Não se pode levantar uma bandeira por levantar, sem refletir, sem sentir a nossa realidade interligada a realidade do mundo. Somos incrivelmente sortudos, com mais de doze mil rios escorrendo por nosso território, com aquíferos enterrados em nosso subsolo, um verdadeiro contraste com a realidade árida de vários lugares do mundo. Deveríamos cuidar do nosso tesouro, ser gratos pela forma perfeita como a natureza se revela e supre as nossas necessidades.

Os laços da água vão além do que podemos imaginar, as conexões são intermináveis e para qualquer ação insustentável praticada, existe uma consequência que explode em algum ponto e atinge a princípio os mais pobres, como quase tudo nesse sistema desorganizado.

Se iniciarmos uma reflexão sobre crescimento populacional, perceberemos que isso implica num aumento da demanda por alimentos e consequentemente no aumento da produtividade agrícola. Questões hoje em pauta, sobre as alterações no código florestal, mostram a tendência em se admitir crimes ambientais em prol dessa demanda, “pois se a população tem fome é preciso plantar mais, mesmo que seja em uma área de preservação ambiental”. Bom, sem querer entrar em outras questões, de interesses particulares de ruralistas e admitindo com ingenuidade que essa seja mesmo a preocupação deles, como justificar essa ação sem pesar as consequências implícitas? Ao desmatar uma mata ciliar, por exemplo, os nossos rios ficam fragilizados, assoreados e consequentemente poderão não dar conta da demanda hídrica necessária para a irrigação desses cultivos, afinal, 2/3 de nossa água são utilizados no cultivo de alimentos. Mas isso é coisa pra peixe grande.

Nós, peixes pequenos, precisamos observar esses exemplos maiores pra entender a nossa participação no todo. Desperdício é a palavra chave. Se não desperdiçarmos alimentos, nem água, estaríamos contribuindo pra reduzir essas demandas. Paralelamente reduziríamos outras demandas, como a de aterros sanitários para suportar a nossa geração de resíduos sólidos, composta 60% de matéria orgânica. Já seria um grande passo!

Enfim, intensificar a agricultura sustentável, mudar a forma de como comemos, reduzindo o desperdício e promovendo dietas mais saudáveis não representam nem a ponta do iceberg.

Continuar com o desperdício consciente é o nosso crime ambiental mais íntimo, que nos torna hipócritas para julgar grandes decisões.

Algumas opiniões dos leitores:

Ranyere Lucena 

De fato as consequências devem ser entendidas como causa do que hoje fazemos, é ponto, é simples! água é vida, e é a nossa vida que está em jogo não é a do planeta. Temos que agir mais, a nossa caminhada é lenta e as vezes frustrante, mais vai ser por meio dela que as correções serão realizadas. Sejamos exemplos em ações como reduzir, reciclar, reutilizar, e principalmente, temos que auxiliar as pessoas a repensar (aprender) sobre conservação e preservação ambiental.
Somos peixes-pequenos, na verdade somos peixes-grandes, somos o reflexo da nossa realidade. Nós ditamos o ritmo. “A educação não muda o mundo, a educação muda as pessoas, as pessoas mudam o mundo”.

Luiz Solon Souza Barreto

Vale frisar que aqui em Floripa acontece separação do lixo orgânico do inorgânico em todas residências, e ainda em alguns edifícios como no meu, separam vidro também. Um bom manejo dos resíduos sólidos evita consequências também em nossa água. e como, arriscaria até dizer que quase "diretamente". Uma boa participação singular (consciente) se integra a cultura e consequentemente em "ações imensas" como um todo.

Felipe Herminio Oliveira Souza

As corporações tomaram o mundo para si de tal forma que não se vive mais nem capitalismo nem comunismo, nem qualquer outra doutrina. Vivemos o corporacionismo. E eles não se importam com nada a não ser aumentar suas margens de lucro a qualquer custo. Se as empresas se tornam "sustentáveis" é apenas para fidelizar seus clientes tornando a demanda ainda mais inelástica, e fisgar a fatia de mercado dita verde, obtendo ainda mais consumidores. A verdade mesmo é que a única saída atual é amenizar o peso na consciência de cada um de nós. Fazer o possível para que ao deitar a cabeça no travesseiro venhamos a pensar: – É, ao menos eu contribuí um pouco menos para o caos em que vivemos. Porque o simples fato de existir no mundo atual significa que somos agentes ativos, em maior ou menor grau, para o colapso do ecossistema como o conhecemos. Somos todos parte de um super organismo, que no momento só se importa em crescer e crescer. Quando a guerra pela água eclodir é melhor estar a margem da sociedade para ter uma chance plausível de sobrevivência.

Ingrid Baracho

Muito bom ler esses textos de vocês e fazer essa reflexão! Discutir esse assunto nos faz atentar para o nosso comportamento, nossos hábitos, posturas e mudanças, a fim de nos questionar o nosso envolvimento nas "pequenas questões" que solucionadas individualmente, acabam tornando-se uma atitude conjunta e consciente, convergindo para um só interesse e produzindo um bom e imenso efeito. Fala-se sempre em sustentabilidade, mas ao meu ver, referindo-se a um âmbito maior, questionando-se apenas uma ampla atuação, a disponibilização e aplicação efetiva de políticas públicas, as grandes atitudes… O que, claro, realmente, merece ser questionado e cobrado… Entretanto, essa temática não é só algo amplo e aparentemente impalpável no individual, grande engano, a verdadeira sustentabilidade tem as suas raízes, a sua base nas atitudes individuais, no compromisso de cada um, na maneira em que são utilizados os nossos recursos naturais, preservados, na redução do desperdício, na escolha correta dos produtos utilizados, dentre inúmeras outras coisas que poderiam ser citadas… O problema é que falta consciência porque não há conhecimento, falta o "saber" que provoca o olhar para si e para o seu redor, falta entendimento, qu desinteresse em entender e conhecer… E o pior é que não é só isso, na minoria, parcela que entende e "tem" consciência, há aquele velho e conhecido descaso, tendo em vista os também famosos interesses. Para quê pensar em solucionar questões que seriam boas para o todo se posso continuar usufruindo de uma maneira que me satisfaz, me dá lucro e não me despende muitos esforços? Nessa desarmonia, é mais do que necessária uma reflexão, um olhar para os seus atos e para as necessidades do mundo, é preciso compreender que são, sim, das pequenas atitudes que surgem as grandes. É preciso uma reeducação ambiental, uma reeducação estrutural, uma reeducação de um modo geral, para que, desse modo, tente-se desenvolver novas consciências e delas extrair novas posturas… Porque enquanto se continuar pensando no individual, nos próprios interesses, em detrimento do coletivo, será preciso chegar a um estado gravíssimo para forçadamente haver os corretos comportamentos!
Deve-se pensar no individual objetivando o "fazer a sua parte", começar da sua casa, dar o primeiro passo, porque o "individual" se restringirá a termo, a denominação de uma única pessoa estar agindo naquele seu espaço particular, porque são esses primeiros passos, essas posturas individuais que criam/criarão a coletividade e que são as pequenas atitudes que conjuntamente se transformarão nas grandes mudanças!
Que reflitamos sobre as nossas posturas e as contribuições que temos dado ao meio ambiente, aos cidadãos, ao mundo! É com o primeiro passo que consegue-se trilhar uma longa estrada!

Alexandre Amaro

"Hoje temos uma ferramenta importantíssima, que é a internet (especialmente o facebook), que ao meu ver está "catalisando" mobilizações quanto a temas diversos, entre eles o meio ambiente. No dia mundial da água, por que não pensarmos em uma mobilização para brigar pela qualidade das águas? Por que não brigar pelo manancial que dá nome ao nosso querido estado? Muita mobilização já foi feita por muito menos… Quem não gostaria de poder dar uma corrida no calçadão da 13 e antes de ir pra casa dar um mergulho na praia formosa? Quem ja procurou se informar sobre o tema sabe que com a atual capacidade de autodepuração, levaria aproximadamente 2 anos (apenas sem jogar esgoto, não necessitaria de qualquer tipo de tratamento) para que o rio ficasse revitalizado. Será que mesmo com toda nossa capacidade de mobilização proporcionada pela internet, ainda assim teremos de ver algum desastre ambiental para começar a pensar nisso? Ou o sumiço dos caranguejos, orgulho dos sergipanos, não é suficiente? E se pararmos de jogar esgoto, será que será suficiente? Provavelmente não é o único problema. Alguém fiscaliza os efluentes da carcinicultura (criação de camarão) e de outras culturas que é despejado no rio Sergipe?

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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