Água fétida e pão mofado.

Com gurgulho ou só entulho, li na imprensa local que o nosso pequenino Estado ferreteou, nas eleições de 2018, uma das maiores derrotas ao Presidente Bolsonaro, tanto no 1º turno como no 2º.

Curioso é que no 1º turno eu faltei por viagem, só votando no Mito no 2º, e mesmo assim, com o meu voto inútil, Bolsonaro caiu pior.

Ou seja: o meu voto de nada valera, o que não encerra nenhuma novidade.

Não é novidade também o nosso Sergipe, nessas escolhas, pensar divergente do resto do Brasil.

É, talvez, o audaz prestígio dos nossos políticos na esfera federal.

Ousar pousar do lado errado, no campo dos rejeitados.

Para quê se amalgamar no alarido cascão da tresloucada maioria?

Se nos negam tudo, até uma foto com o eventual inquilino do Alvorada, seja ele quem for? Ninguém poderá dizer que nossa bancada federal seja conviva ideal de churrasco nos pagos e mal pagos planaltinos, seja nas cavalariças do Torto, nas achegas do Alvorada, e até na Casa-da-Dinda, quando risos refestelaram tantos, rodeando o poder, enquanto não caídos, mas decaídos sempre!

Se tal bom papo, se faz e far-se-á sempre, com cerveja, cachaça ou jeropiga, exceção para gasosa, guaraná ou tubaína, por malsina ou rasa tolice, não nos vale nem a gabolice de se empostar superior, estar isento a tais esbórnias, porque na subida ou na descida, a tradição nossa é restar na rabeira e na rasteira, por final.

Seria por falta de prumo ideológico, uma inversão avessa do avesso, espécie de narcisismo tolo, equivocado?

Ou seria um simples repisar nulo, daquele mulo, bom de cangalha, hibridizado, filho da égua e do jerico, tudo consentido e bem curtido, com ideal onomatopeia por relinche?

Porque haja Ypissilone, e haja burrice, restando sempre na rabeira e se orgulhando sempre, desde os tempos antanhos.

Nas prévias da Revolução de 1930, por exemplo, o Poder Central queria Gilberto Amado como Governador da Província. Gilberto era um dos raros Sergipanos destacados na República.

Nesse tempo, as eleições se faziam ao bel prazer das oligarquias locais, com as atas eleitorais sendo fraudadas “a bico de pena”. E depois modificadas, em nível federal, por uma corte ardilosamente constituída.

Sergipe, glorioso e altaneiro, recusou a indicação de Gilberto, preferindo um outro nome da “copa e cozinha” do Palácio, hoje Museu, Olímpio Campos.

Como é pouco sabido, por convenientemente esquecido, a imprensa sulista, em palavras reverberadas amplamente, esculhambou, bugalhou, no pior sentido a escolha,: “Sergipe, no lugar de escolher para o Governo do Estado um notável intelectual poliglota, preferira um bronco, um ‘vendedor de pinico da Rua de Laranjeiras’”

Eram palavras que não nos serviam, mas, o que fazer?…se nos cabiam?

É-nos comum a escolha do pior do pior, embora se diga o contrário…

Se o comerciante de urinóis, entre miúdos e graúdos, não vingou, culpe-se não a corte de verificação, mas a um movimento revolucionário, que inflamou o país, derrubando todos os políticos daqui e os de lá de fora, via revolta tenentista, quinze anos se passando sob a tutela militar, com Getúlio Vargas, que por aqui nos visitou para inaugurar a Ponte de Pedra-Branca, sobre o Rio Sergipe-Cotinguiba.

Ponte que em desuso desabou, alguns anos passados, com um desfile de alguns cavalos distraídos.

Por similar distração, o Presidente Juscelino Kubistchek visitou Sergipe para inaugurar também outra ponte, a qual recebeu seu nome, recompondo a interrupção acontecida entre Aracaju e o Bairro Atalaia, então muito distante.

JK, o sorridente Presidente, inaugurou a Ponte, e voltou presto e ligeiro, sem visitar a cidade nem receber homenagem do Governador Leandro Maciel, prócer da UDN, União Democrática Nacional, partido minoritário que lhe fazia raivosa oposição, querendo lhe emplacar um  impeachment, apeá-lo do poder, como é bem costumeiro na nossa História Pátria.

Depois viriam outros golpes, mudanças constitucionais, experiências parlamentaristas, entronização dos militares, não mais tenentes, mas Generais.

Quando a democracia voltou derrubando os Generais, todos viram que Sergipe foi o único estado onde o MDB de Ulisses Guimarães e Tancredo Neves não se fez poder.

Sergipe elegeu Governador, não um emedebista, nem alguém que torcera pela derrubada do Regime Militar.

O eleito fora Antônio Carlos Valadares, antigo prócer Arenista e Pedessista, no lugar de José Carlos Teixeira, o histórico emedebista, por altiva liderança de João Alves Filho, notável Governador de então ao qual se juntou incompreensível “trahison des clercs”, só para utilizar o mote e a motivação, da bestificação e da covardia, por inspiração em Julien Benda, em sua famosa obra.

Valendo o trema e a trena, porque José Carlos Teixeira, um homem que animava a Cultura sergipana, despertando-a para o humanismo francês e a arte universal, tudo fizera para ilustrar Sergipe, liberando uma corrente de jovens, que idealistas não se fizeram tanto, como ele; ZéCarlos! Mas que não vingou.

Isso porém não vale, nem escrever, nem lembrar, porque feio não é trair: “feio é perder” como assim imortalizara um político paulista, Paulo Maluf, numa ironia que o alcançaria; também!

Mas, eu me afasto e me perco, Sergipe sempre se perdendo no final, em flertes divergentes do resto do país.

Salvando-se apenas porque Tancredo Neves virou Santo, assumindo Sarney, que fora Arenista, Pedessista e Pefelista de undécima hora.

Nestas prévias de Germinal, ouço na imprensa paroquial com vibração de alegria que não há em glebas surubis nenhum candidato ao governo que esteja apoiando o Presidente Bolsonaro, este que, contra a expectativa das pesquisas prévias eleitorais vai se reeleger sem os votos de Sergipe.

Dos muitos prováveis candidatos ao Governo do Estado, todos, sem exceção, fazem-lhe oposição.

Uns o fazem alucinadamente, parecendo merecer sedativos, outros fleumáticos, mas raivosos, querem incriminá-lo por incivil hediondez, sem mesmo lhe dar um mínimo de contradita, por libero exarado e já consumado por deferido.

Outros têm a desdita de falar pouco e convencer pior.

Ninguém sabe o que pensam nem o que planejam.

Não precisam! Já dominam a máquina; os Colégios eleitorais e seus cabos.

E até os menoscabos estão calados no pensamento opinativo.

Mas, no meu opinar de descrença, lembro que nos seus equívocos Sergipe se desafia a receber pão mofado e água fétida, só para usar o vezo comum destinado aos rejeitados em ruim  agrado.

Se Sergipe recebe pouco do Governo Federal, e ainda não vem comendo o pão mal amassado em brindes de água amarga, é bom relembrar que isso não enseja novidade.

Quem não lembra a visita do Presidente Lula a Sergipe em maio de 2003, quando aqui brindou com amplo apupo o discurso do então Governador João Alves Filho?

João só falara denunciando o secular sofrimento dos Estados do Nordeste, frente à reforma tributária que então se ensaiava, e onde mais uma vez, só o Sudeste lucraria, ampliando a nossa pobreza.

E de João poder-se-ia dizer tudo, politicamente, menos que fosse alguém despreparado, a merecer vaias endossadas pela sinistra “companheirada” do PT, com Marcelo Deda à frente, então Prefeito de Aracaju, e sua melhor garganta.

Tudo hoje é História, com todos mortos: João, Deda e ZéCarlos, por extensão.

E até Gilberto Amado, Embaixador na ONU em sua fundação, influenciando a escolha do Dia 24 de Outubro, Dia da ONU e também por sugestão implícita, por Dia de Sergipe.

João fez uma ponte notável, ligando Aracaju-Barra dos Coqueiros, embora se dissesse então “levar o nada a lugar algum”.

Gilberto Amado é também nome de ponte, cruzando o Rio Piauí, inaugurada por Marcelo Deda, com discurso da Presidente Dilma.

João restou muito acima da vaia, em superior valia, enquanto realizador, inigualável.!

O outro, o que vaiou, restou melhor tribuno.

Quanto a ZéCarlos, este caiu de pé, na planície, como os gigantes.

Sergipe é que não cresce, ao que parece.

Que nos poupem de água fedida e pão embolorado!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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