Alcides Raupp em Sergipe – Luiz Antônio Barreto

Alcides Feijó Raupp
José Luiz Coelho e Campos, nascido no engenho Mata Verde, então pertencente ao município de Divina Pastora e depois ao de Siriri, em 4 de fevereiro de 1853, foi político, com 32 anos de mandato de deputado provincial, deputado geral e senador, foi Promotor da Capela, proprietário rural na Capela, casado com uma filha do comendador Francisco Correia Dantas (pai do presidente Manoel Correia Dantas), era também senhor do engenho Palmeira, e de 1913 a 1919 foi ministro do Supremo Tribunal Federal.  Ao morrer, no Rio de Janeiro, em 13 de outubro de 1919, Coelho e Campos deixou, em seu Testamento, a quantia de 300 contos de reis para a instalação de um Liceu de Artes e Ofícios, ou um Instituto de Ensino Profissional.

O presidente Pereira Lobo (1918-1922) tomou a iniciativa de cumprir o Testamento de Coelho e Campos, definindo que o Estado arcaria com as responsabilidades de construir e instalar um Instituto de Ensino Profissional, e para tanto buscou, nos Estados Unidos, pessoal e assessoramento. Lobo não teve tempo para completar sua obra, deixando com o Governo seguinte, de Graccho Cardoso (1922-1926) a tarefa de concretizar a vontade do ilustre morto. E assim foi feito, a começar pelo recrutamento do pessoal técnico, no Rio Grande do Sul. Era o tempo das Escolas de Aprendizes de Artífices, criadas pelo presidente Nilo Peçanha, em 1909, e espalhadas pelo País.

Graccho Cardoso trouxe a Sergipe, para orientar a instalação e dirigir o Instituto Profissional Coelho e Campos – este o nome da nova escola –o engenheiro Alcides Raupp, cedido pela Comissão de Remodelação do Ensino Profissional e Técnico, do Ministério da Agricultura. Nascido em São Leopoldo, em 8 de março de 1901, filho de Antonio Raupp e Amélia Feijó, Alcides Feijó Raupp, conhecido na família como Doca, chegou em Sergipe em 1922 – o documento de cessão é de 18 de outubro de 1922 – e já em 4 de julho de 1923 assume a direção do projeto, projetando sua imagem de técnico. 

Alcides Raupp viveu em Sergipe alguns anos, casou-se em 1922, com Eunice Dulce Cardoso de Campos, a Dona Nicinha, da família do presidente Graccho Cardoso, nascida em Aracaju, em 25 de novembro de 1896, e com ela teve três filhos: Maria Aparecida Raupp, que morreu no mesmo dia em que nasceu, em Aracaju, em 8 de março de 1924; Maurício Graccho Cardoso Raupp, também nascido em Aracaju, em 8 de julho de 1925 (aeroviário, casado com Liryss Itaqui Viana, pai de três filhos,falecido no Rio de Janeiro em 7 de abril de 1998); e Maria de Nazareth Raupp, nascida em 5 de janeiro de 1937.

Eunice Dulce Cardoso de Campos
Na Revolta tenentista de 1924, o presidente Graccho Cardoso se valeu de Alcides Raupp, como do militar e médico Eronídes de Carvalho, para manter contatos e enviar mensagens ao presidente da República, uma vez que o telégrafo estava sob controle dos revolucionários. No Relatório que apresentou à Assembléia Legislativa do Estado, o presidente Graccho Cardoso citou a participação de Alcides Raupp, denotando ser ele um homem da sua mais íntima confiança, ou não seria encarregado de missão tão importante. Diz Graccho Cardoso: “Tomado o telégrafo nacional, onde os rebeldes,anteriormente, ao que parece, já contavam com adeptos, para estabelecer dúvidas sobre as notícias oficiais recebidas pelo governo sobre os acontecimentos de São Paulo, a única providência que se lhe impunha era enviar próprios de confiança a outros pontos de Sergipe com despachos seus ao Sr. Presidente da República. Além de outros, foram incumbidos dessa difícil missão os Drs. Eronides de Carvalho, 2º Tenente médico do Exército, e Alcides Raupp, diretor do Instituto Profissional Coelho e Campos, os quais, burlando a vigilância dos rebeldes, partiram aos respectivos destinos, antes de romper o dia.” 

Graccho Cardoso exultava, em suas comunicações, com o sucesso do Instituto Profissional Coelho e Campos, pela produção de suas máquinas e técnicos, atendendo a encomendas do próprio Governo do Estado, das Intendências Municipais e de outras demandas, enquanto oferecia um ensino de formação profissional. Ao fim do Governo Graccho Cardoso, o Instituto oferecia os cursos de Funilaria e Calderaria de cobre, Forja e Cutelaria, Serralheira Mecânica e Artística, Fundição em ferro e metais, Montadores, Eletricistas e Mecânica Prática, preparando jovens para o sistema produtivo.  Durante muitos anos aquela escola fez as duas coisas: ensinou e produziu, guardando o modelo implantado por Alcides Raupp. Anos depois, o Governo do Estado passou o Instituto para o SENAI – Serviço de Aprendizagem Industrial, mantido pelo sistema CNI.

Com o fim do Governo Graccho Cardoso, em outubro de 1926, Alcides Raupp mudou-se, com a família, para Natal, no Rio Grande do Norte, onde assumiu, em 22 de março de 1927, a direção da Escola de Aprendizes Artífices (hoje CEFET), permanecendo no cargo até 14 de outubro de 1930. Alcides Raupp morreu em São Paulo, em 27 de maio de 1957.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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