A poesia, com sua síntese, tem o encanto de oferecer, ao alcance de qualquer ouvido, a palavra bem talhada, o verso espesso, o conjunto harmonioso, para servir, mais do que ao deleite, ao compromisso pessoal com a beleza. Os antigos povos utilizaram a poesia para catalogar seus feitos, exaltar heroísmos, tornar-se mais coeso em suas aventuras. O tempo não injuriou a importância dos poetas, como cantores do belo, a dar contornos estéticos ao viver comum e incessante das pessoas, qualquer que seja a língua de expressão cultural, qualquer que seja a crença religiosa, qualquer que seja o estágio de felicidade diante da vida. O modo acelerado de vida social, que vai soltando as amarras de cada um, e até relaxa a vigência dos valores morais, não afeta a poesia, ela permanece íntegra em sua função lúdica, sobrevivendo como medida de sensibilidade, identificando certo e determinado condicionamento humano, permanente, diferenciando o modo de viver e de sentir o fluido da existência, ainda que a solidão ontológica, aquela dor inaugural que o ser chora com ela ao deixar o útero, e como marca fatal carrega, entre risos e choros, até que a escuridão cerre os olhos do mundo, refletidos no temor ceifante da morte, que tudo acaba. Jackson da Silva Lima, que apresenta o livro, do alto de sua oficina crítica como inventariante e historiador da literatura sergipana, diz que “ Telma desnuda o coração e a alma, põe aos nossos olhos a magnitude dos seus sentimentos e o campo alargado de sua imaginação, deixando á solta – sua forma introspectiva de ser em toda a plenitude subjetiva, e à mostra – uma alma encantadoramente ingênua, jugulada por fortes reminiscências, que a povoam desde a infância até hoje.” Além das Flores é uma expressão de beleza, cativante, um mimo de uma artista que comparece ao público para revelar, com todas as palavras da sua alma, a poesia com a qual lança seu olhar sobre a vida. Uma estréia auspiciosa, digna de todos os aplausos, tanto pela força lírica dos poemas, como pela opção de ser poeta, com a Leveza de ser: “ Não se acolhe o rancor se a alma flutua, Não se escolhe o orgulho Se a alma reluz. Não se abraça a tristeza Se a alma confia, Não se aceita a angústia Se a alma perdoa. Se a alma é serena Modela a argila Dos nossos instintos Acende a estrela Clareia o deserto Dos nossos sentidos.” 
A poesia tem resistido a tudo, ainda que estejam rareando os poetas, senhores da linguagem bela, sensíveis diante da realidade, fazendo de cada dor um poema, como queria Goethe. Há quem descreia na poesia como expressão de sentimento, e de pensamento, retirando-lhe o poder de antídoto diante da banalização da vida. Mas, felizmente, existem os que poetizam o cotidiano real, domando-o, para deleite da alma, nunca pequena. A poesia, em todas as suas formas de apresentação, tem sido moldura recorrente na história dos povos, como a aplacar as angústias, consolar as tristezas, reaver a esperança na condição humana.
Telma Maria Santos exerce a sua competência poética em Além das Flores (Aracaju: Fundação Oviêdo Teixeira, 2005, com capa reproduzindo arte de Cândido Aragonêz de Faria, sergipano de Laranjeiras, consagrado em Paris) livro de amor ao ser, ao outro ser, à vida, e a tudo o que a cerca. Apesar de datado de 2005, e até de ser anterior a 2005, o livro começou a circular há poucos dias, lançado em evento jurídico, no qual a autora exercita a sua cidadania profissional, como magistrada da Justiça Federal em Sergipe. São 42 poemas, articulados pela mesma temática, embora cada um tenha sua força própria, na mensagem que escorre pelas páginas, para calar no íntimo dos leitores. 
Telma Maria Santos
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