Almanaques de farmácia: a construção da nação e do cidadão brasileiro

Caroline de Lara

Mestre em História -Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR

Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET-UFS/CNPq)

Almanaque do Biotônico , 1939, contracapa. 

 

Presente em vários povos, como chineses, gregos, romanos e com etimologia incerta, a origem dos almanaques remonta ao século XV, dos antigos calendários ao livro de horas medieval. Nesse momento, em forma de manuscrito, eles tinham por finalidade instruir seus leitores sobre festas santas, feriados, calendário lunar e religioso.

Percorrendo os séculos e acolhido pela cultura popular, esse tipo de publicação contou com conteúdos diversificados: desde jogos de lazer, aos conselhos morais, de saúde e higiene, constituindo-se, assim, numa publicação ímpar, desde o século XV até a atualidade.

No Brasil, foi a partir do século XVIII que houve a disseminação desse tipo de material a partir dos chamados almanaques das cidades. Ao final do século XIX, mais precisamente em 1890, Machado de Assis (1839 – 1908) escreveu um conto chamado “Como se inventaram os almanaques”, publicado originalmente no “Almanaque das Fluminenses”, enfatizando a eficácia de um meio de informação diferenciado e diversificado. Nesse mesmo período, foram os almanaques de farmácia que passaram a ser os mais utilizados e consultados em território nacional.

Uma vez conhecidos e reconhecidos como meio de comunicação, foi principalmente durante as primeiras cinco décadas do século XX, que as discussões acerca da nacionalidade fizeram parte dos almanaques de farmácia. Tais publicações contaram com as propagandas para disseminação de noções de profilaxia e educação sanitária, visando à construção da nova nação republicana, bem como do novo cidadão brasileiro, refletindo tais perspectivas no imaginário social.

Assim, o projeto republicano de progresso da nação é impresso nos almanaques de farmácia e visualizado a partir de várias propagandas, como é o caso, por exemplo, do lavrador do campo, enfermo pela ancilostomose e personificado pela personagem de Jeca Tatu, de Monteiro Lobato (1882 – 1948).

Dessa forma, a ciência é forjada nos almanaques de farmácia, no sentido de propagar valores pertinentes e relacionados ao ideal de progresso da nação, com personagens que representavam valores éticos, morais, sociais e signos, como saúde, beleza e felicidade, idealizando assim o cidadão brasileiro, que continua em constante construção.

O texto faz parte da dissertação de Mestrado em História “Agora sou outro!”: propagandas e educação sanitária nos almanaques de farmácia (1900-1945) – UEPG – 2016.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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