O senador José Almeida Lima (PDT) foi vítima do seu estilo. Ao anunciar uma bomba que destruiria Brasília, criou uma perspectiva muito grande em todo o país e deixou em alta tensão os aliados do Governo. O próprio chefe da Casa Civil, José Dirceu (PT), não deve ter dormido e passou a noite tentando chegar a esses documentos fatais. Pode-se dizer que foi uma inexperiência de primeiro mandato. A sensação de que, enfim, chegou o momento de ser um dos destaques de uma ala forte do Senado Federal. Já no domingo, em Aracaju, Almeida Lima revelava que os documentos que tinha do envolvimento de José Dirceu com Waldomiro eram realmente “mais do que indícios veementes. Poderia dizer até que a partir de terça-feira é possível que José Dirceu já seria chamado de ex-ministro”. Durante a segunda-feira, o senador espalhou e-mails para todos os jornais e falou ao vivo para o âncora Boris Casoy, da TV Recordo, anunciando exatamente esse estardalhaço que faria na vida do Governo, com o seu pronunciamento e as provas cabais do comprometimento de José Dirceu com Waldomiro. Já na terça-feira pela manhã, dia marcado para a denuncia fatal, o senador Almeida Lima desfilou pelos corredores do Congresso, sem olhar para os pés. Nunca se viu tão assediado pela imprensa, com os flashs das máquinas explodindo e os holofotes das emissoras de televisão o seguindo. Lógico, era a gloria. No momento do seu discurso, havia tensão do bloco governista e a expectativa dos jornalistas pela bomba que poderia degolar José Dirceu. A explosão deu xabu, o que era tensão virou alívio e levantou a ira de todos. A imprensa, que lotou o plenário, saiu cabisbaixa. A reação do plenário era a que se esperava, já que partiu dos aliados do Governo, mas a repercussão negativa na imprensa tem conotações diferentes. É que os jornalistas se sentiram enganados e viram que a matéria não merecia o destaque que se deu em todos os veículos de comunicação do Brasil. Foi uma frustração generalizada. Qualquer cidadão dá para imaginar como deve ter se sentido o editor de primeira página do Jornal do Brasil, que deu manchete com a matéria. E isso se estendeu para os analistas políticos, editorialistas, enfim, todos aqueles que se sentiram usados para buscar uma informação que não merecia tamanha atenção. Daí a forma jocosa com que se tratou o fato e os adjetivos variados que se deu ao senador, maculando, indiretamente, a imagem de Sergipe. Entretanto, analisando friamente o que disse Almeida Lima, não se trata de uma denuncia tão vazia. Foi um discurso forte que o grupo de choque do Governo conseguiu desqualificar, aproveitando a publicidades enganosa que o autor fez sobre o teor da explosão. Realmente é preciso que se investigue tudo o que foi dito, porque a informação de que fora uma notinha extraída da internet e publicada no jornal O Dia e na revista IstoÉ, também é falha e serviu de álibi para desacreditar o senador Almeida Lima. Além disso, as pessoas utilizadas para desfazer o discurso do senador sergipano envergonham o PT, como é o caso de Antônio Carlos Magalhães (PFL), que não tem mais condições de falar grosso no Congresso, depois da alteração do placar eletrônico e da denuncia do seu envolvimento em grampos telefônicos. No caso do senador Almeida Lima, além de mostrar um estilo prepotente de aniquilar quem insurgir contra o Planalto, o Partido dos Trabalhadores revela que está amedrontado com a possibilidade de qualquer investigação sobre o caso de Waldomiro, porque sabe que atinge José Dirceu e põe abaixo toda a estrutura de transparência e seriedade do petismo. Se não tivesse medo da verdade, se não houvesse comprometimento, não haveria razões de tanto medo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, para que se mostrasse a verdadeira face de um partido que se vulgarizou, depois que se empanturrou com as facilidades oferecidas pelo Poder, e começa a agir como os partidos que antes os seus militantes combatiam. É difícil de acreditar, mas o Partido dos Trabalhadores tem, hoje, ao seu lado figuras como Antônio Carlos Magalhães, que massacrou a bancada petista em toda a sua vida pública, desde quando servia a ditadura. O PT precisa andar de cabeça erguida neste país e, por ter chegado ao Planalto, não tem o direito de rasgar a sua história, sempre vinculada à austeridade, honestidade e transparência, mas que hoje se esconde por trás de uma fumaça negra, ensejando a suspeita de corrupção e suborno. DOCUMENTO A notícia vem de Brasília: quem teria entregue, a Almeida Lima (PDT), a documentação do processo contra Waldomiro na Polícia Federal, fora o senador Romeu Tuma (PFL). Como se trata de uma fonte forte, principalmente na área onde atuou, Almeida Lima levou adiante a denuncia, que provocou toda essa celeuma. REABERTURA Também de Brasília chega a informação de que o senador Romeu Tuma, preocupado com a repercussão negativa do discurso, está trabalhando a reabertura do processo. Está provado que realmente o processo contra Waldomiro foi interrompido em julho de 2003 e é possível que o Ministério Público procure reabri-lo. CONTINUA Ontem o senador José Almeida Lima disse que vai continuar as denuncias e relata: “não sou corrupto, não contratei ladrão e não tenho relacionamento com a contravenção”. Acrescenta: “ninguém pense que essas críticas que se voltam contra mim vão impedir que eu continue denunciando os corruptos”. ADVERTE Almeida Lima adverte que também vai continuar combatendo a corrupção que existe em Brasília e até em Sergipe. “Em momento algum vou calar, porque o Governo Federal armou uma tropa de choque para desqualificar as denuncias”, disse ele. GILMAR O deputado Venâncio Fonseca (PP) admitiu, ontem, que o seu colega Gilmar Carvalho (PV) está mais calmo no plenário da Assembléia e até no radio. Para Venâncio, isso é muito bom porque o parlamentar deve ter repensado e tem procurado modificar o seu estilo. AUTORIZAÇÃO Venâncio Fonseca também disse que o governador João Alves Filho (PFL) “está autorizado a dizer que algum deputado pediu a cabeça do radialista Gilmar Carvalho”. Segundo Venâncio, a senadora Maria do Carmo Alves disse, em entrevista, que não aprova o jeito de Gilmar Carvalho fazer política. HECTARE Sobre a presença de uma Força Tarefa a Sergipe para apurar a pistolagem, Venâncio aconselha que “mandem uma Força Hectare, que vale por três tarefas”. Venâncio diz que os Fonseca não temem qualquer investigação e concorda que se procure tudo para que todos os crimes sejam desvendados. ITABAIANA O governador João Alves Filho deverá levar o “Governo Itinerante”, dia 15, para Itabaiana e vai despachar com prefeitos do agreste sergipano. Nos despachos que faz quando monta o Governo Itinerante, João Alves Filho resolve uma série de problemas de municípios da região. CONVERSA O prefeito Marcelo Deda (PT) vai conversar com o PMDB, hoje aliado do Governo a nível federal, sobre sucessão municipal. Disse que terá um encontro com Benedito Figueiredo para ver a possibilidade de composição, inclusive em relação à capital. ENCONTRO Marcelo Deda já manteve contato com o presidente do diretório municipal do PT, Marcio Macedo, e com o presidente regional, Severino Bispo. Combinaram que depois das comemorações do aniversário da cidade, vão se reunir para discutir a sua candidatura à reeleição. DEFLAGRANDO O prefeito Marcelo Deda esteve com o deputado federal Heleno Silva (PL), com o senador Valadares (PSB) e com o vice Edvaldo Nogueira (PCdoB). Falta apenas Jackson Barreto. Com todos vem iniciando os contatos sobre a sucessão municipal, colocando em pratica a deflagração do que ele chama de pré-candidatura à sucessão. SILÊNCIO Com relação ao pronunciamento de José Almeida Lima (PDT), Marcelo Deda preferiu não fazer comentários. Considerou apenas “ruim para Sergipe”. Para Deda, “tem coisas que falam por si próprio e se tornam alto-explicativo”. Marcelo Deda está com uma forte gripe e suspendeu algumas atividades esta semana. PONTE Segundo uma alta fonte do Governo, a ponte que liga Aracaju à Barra dos Coqueiros sairá, nem que seja toda construída com recursos próprios. Revela, entretanto, que não haverá qualquer problema sobre recursos do BID, porque Sergipe está sem impedimento para adquirir empréstimos no exterior. Notas SUSANA O presidente do Partido Progressista, Venâncio Fonseca, disse ontem que o seu partido está seriamente inclinado em apoiar a deputada Susana Azevedo (PPS) para a Prefeitura de Aracaju. Acha que se trata de um bom nome, que trabalha bem e tem condições de administrar a Capital. Venâncio disse que o partido vai ouvir o governador João Alves Filho sobre isso. Acha que não haverá candidato único da coligação e só não ficara com Susana se o bloco fechar questão em torno de um só nome. COMITÊ O Ministério da Integração Nacional criou Comitê representativo nos Estados, para atuação principalmente em casos de emergência. Em Sergipe, o comando é do diretor da Codevasf, agrônomo Paulo Viana (PSB), que passará a ser o responsável pelo encaminhamento das ações para reconstruir os danos causados pelas chuvas. O Governo do Estado tem assento no Comitê através da Defesa Civil e as reivindicações dos municípios devem ser enviadas a Paulo Viana, para que as encaminhe ao Ministério da Integração. MACHADO O deputado federal José Carlos Machado (PFL) telefonou ontem para Paulo Viana e marcou um encontro para segunda-feira, a fim de discutir a forma como o Comitê vai atuar no Estado. Paulo é ligado ao senador Antônio Carlos Valadares e é um cidadão capaz de conduzir um trabalho complexo no Estado. Machado, entretanto, desacredita na eficiência do Governo Federal em termos de liberação de recurso e acha que as casas destruídas em Simão Dias devem ser construídas em seis meses: “e olha que estou sendo otimista”. É fogo Os irmãos Cleonâncio Fonseca e Venâncio Fonseca vão estar em palanques diferentes na disputa pela Prefeitura de Arauá. O deputado Venâncio Fonseca vai apoiar a candidatura de Ana. O irmão Cleonâncio fica com Raimundo. O prefeito de São Cristóvão, Armando Batalha, não está preocupado com a sucessão municipal, mas sim em arrumar a casa para deixar tudo pronto para seu sucessor. Vários prefeitos que não poderão disputar a reeleição já preparam terreno para uma eleição estadual. O próprio Armando Batalha é um deles. O ex-governador Albano Franco continua em silêncio total sobre política, embora mantenha sempre uma conversa com Ulices Andrade e Bosco Costa. Os deputados federais José Carlos Machado e Mendonça Prado acompanharam o governador na audiência com o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes. Seis municípios de Sergipe ainda não enviaram o estado de emergência para o Ministério da Integração Nacional. A Executiva Nacional do PMDB, reunida em São Paulo, anunciou o apoio ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. O prefeito Marcelo Deda sabe que é difícil contar com o apoio do PMDB em Aracaju, por causa da vinculação do deputado Augusto Bezerra com o Governo. O ex-prefeito Jerônimo Reis está preocupado em Lagarto, porque o seu bloco político não aceita mais a candidatura de Zezé Rocha e está se dividindo. O grupo considera que tem melhores nomes para colocar e adverte que essa divisão pode favorecer aos adversários. O ex-prefeito José Raimundo Ribeiro (Cabo Zé) vem se mostrando bem nas pesquisas e pode ser o candidato do outro lado. Por Diógenes Brayner brayner@infonet.com.br