Alô, quem fala? Esta era uma frase que muito me irritava. Alguém ligava para meu telefone e, sem se identificar, já “tascava” a célebre, irritante e, a meu ver, até então, mal educada inquirição: “quem está falando?” Mas, pior ainda, eu acredito, era, e ainda é, quando ligam a cobrar e, antes de se identificar, como recomenda a mensagem gravada: “depois do sinal, diga o seu nome e a cidade de onde está falando”; a pessoa após o bendito sinal já emenda: “quem está falando?” Ou “alô quem fala?” Esta era, até bem pouco tempo, para mim, uma senha maldita; eu me aborrecia, ficava bravo e, por mais triste que, no momento atual, possa parecer, eu respondia com grosseria, ou “desligava na cara”. Daqui eu peço desculpas pelos atos indevidos que pratiquei e, mesmo continuando a achar incorreto uma pessoa ligar a cobrar e fazer aquela irritante pergunta, hoje não mais pratico aquelas indelicadezas: sou mais tolerante e mais amável, identifico-me e, se for o caso, converso um pouco, despeço-me e desligo. Nada mais de querer pagar o que considerava uma descortesia com outra. Por que agora ajo assim? Porque descobri, da pior maneira possível, que estava agindo errado. Existem pessoas que não sabiam, nem sabem, e tampouco tinham ou têm obrigação de saber que eu era averso a tais colocações. Sou eu, e mais ninguém, que devo conscientizar-me de que as pessoas são e agem diferentemente daquilo que gosto e quero. Não estão adstritas ou obrigadas a respeitar as minhas manias nem os meus “princípios”. Sou eu quem deve mudar e não pretender mudar as outras pessoas. As minhas manias, os meus princípios, os meus gostos e tudo o que faz parte do meu comportamento cabe somente a mim gerenciar. Eu não tenho o direito de exigir que os meus semelhantes mudem e ajam como eu gosto. Tenho, a obrigação isto sim, de tentar mudar primeiro a mim mesmo e, mudando a mim mesmo, quiçá, um dia mudarei os outros. Sim, por que mudei? Como já disse, da pior maneira possível, provei do veneno da minha insensatez. Voltava de Salvador, quando o telefone tocou, Mesmo dirigindo, – o que é também um erro, atendi e a pessoa, por não ter reconhecido a minha voz, disse: quem está falando? Pronto. Foi o suficiente para que me irritasse e desligasse, sem muita conversa. Simplesmente “desliguei na cara”, como se diz. A pessoa voltou a ligar novamente. Atendi e de novo, e a mesma pergunta.Desta vez falei, disse: “ora, se você está ligando, deveria saber para quem, aliás, por que você não se identifica primeiro?” Ela disse: “não, é porque ligaram deste número para mim e eu estou retornando”. Eu estava tão irritado que perdi todo o bom senso. Olhei para o visor do meu telefone para saber se era alguém conhecido. Só que não aparecia número, e sim a expressão “número restrito”, o que aumentou a minha exaltação. Aí disse: “como é que ligaram pra senhora ao menos o seu número aparece no meu visor?” E desliguei. Não falei mais nada. Ocorre que minha interlocutora, descobri por dedução após desligar, era uma grande amiga que, por não ter reconhecido a minha voz, bem como o número do meu novo telefone, perguntava “quem estava falando” e eu de fato havia ligado para o seu celular, pois ela é gerente de um banco e eu necessitava fazer a liberação de uma importância, o que já havia resolvido, com ela mesma, através do telefone fixo. Porém, como eu havia antes tentado ligar para seu celular, meu número ficou gravado mas ela não sabia e, por isto, estava gentilmente apenas retornando uma ligação recebida e não atendida. Imaginem a enrascada, avaliem o quanto fiquei preocupado. Tentei por várias vezes retornar a ligação e não conseguia, ora por estar em área sem sinal, ora por estar o seu telefone ocupado e estava claro que ela, a esta altura do campeonato, jamais iria retornar ligação para “aquele grosso e mal educado”. No que, convenhamos, estava coberta de razão. Amigos, contei este pequeno episódio, inclusive expondo-me a ridículo, com a intenção sincera de que o meu exemplo possa contribuir para mudar certos comportamentos equivocadamente adotados como corretos, mas, com efeito, degeneram a nossa convivência, enquanto seres criados para viver em harmonia.
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