Como descrever a figura do saudoso médico ANTÔNIO GARCIA FILHO?
Não é tarefa fácil, pois sua importância no contexto da vida médica do Estado é
extraordinária e qualquer relato, por mais apurado que seja, pode não representar com fidelidade a sua história. A propósito, urge que algum memorialista de estirpe investigue com entusiasmo a saga dos “Garcias” e sua importância transcendental na história recente de Sergipe e do Brasil. Refiro-me em especial aos homens, Robério, Luiz, Carlos, Antonio, José Garcia e descendentes, que juntos deram ao país 3 governadores, parlamentares, reitor de Universidade, escritores e poetas. Mas detenho a minha análise em Antonio, pela convivência mais íntima e fraterna, como meu professor, sogro, amigo e exemplo de vida. ANTONIO GARCIA FILHO
Garcia se destacou na medicina, na política e na área cultural, nas suas múltiplas manifestações. Foi um homem que viveu permanente e intensamente o seu tempo, muitas vezes até se antecipando a ele, realizando coisas absolutamente fantásticas, típicas dos visionários.
Em meados da década de 50, médicos ilustres tentaram fundar uma escola médica
Na realização da reabilitação física foi pioneiro, com a criação do Centro de Reabilitação Ninota Garcia, que durante anos prestou inestimáveis serviços à coletividade até a sua “privatização”, ocorrida mais recentemente. Fruto da sua experiência na área escreveu o livro “A Reabilitação em Sergipe”. Foi o primeiro diretor da Faculdade de Medicina e também o primeiro professor de bioquímica na recém fundada escola médica. A lógica apontava ser ele o catedrático da clínica médica ou outra disciplina mais adequada. Mas quem lecionaria bioquímica, biofísica, matérias básicas nas quais os colegas eram pouco familiarizados? Só poderia ser… Antonio Garcia! Assim, viajou para Recife juntamente com Lourival Bomfim, para reciclar conhecimentos na disciplina, ele na bioquímica e Bomfim na biofísica. Exemplos vivos de abnegação e altruísmo.
Quando os jovens médicos funcionários do Estado, reunidos em assembléia geral no antigo auditório completamente lotado da SOMESE, nos idos de 1984, resolveram entrar em greve em protesto pelos baixos salários recebidos e realizar manifestações de rua, se depararam com a figura de Antonio Garcia que, com um manifesto nas mãos, adentrou ao recinto emprestando aos colegas grevistas a solidariedade dos médicos “mais antigos”, a turma da “velha-guarda”.
Em outra oportunidade, a Prefeitura de Aracaju, comandada pelo médico Cleovansóstenes Aguiar, promoveu concurso público para escolher o hino oficial da cidade, com o resultado final apontando como vencedora a canção “ARACAJU, UMA ESTRELA”, de autoria de Antonio Garcia. Seria um presságio? O ex-prefeito Marcelo Deda teria feito uma grande justiça à história se oficializasse a música como canção oficial de Aracaju. Infelizmente, não percebeu a oportunidade histórica.
Autor de muitas melodias, muitas letras, muitas poesias, contos e encantos, serestas, hinos ( compôs o Hino do 28º Batalhão de Caçadores), solidariedade e afeto. Coração enorme de bondade e sede permanente de justiça social. Orador fluente e inovador. Na abertura do 1º Encontro Cultural de Laranjeiras fez discurso antológico, sempre lembrado pelo ministro e imortal Carlos Ayres de Brito, “Acorda, Laranjeiras”…
Socialista convicto, católico, uma vida inteira ao lado de Waldete Conde Garcia, sua esposa, com quem teve 4 filhos, Eduardo, Sérgio, Renato e Cristina e 9 netos.
O “número
Na Academia Sergipana de Letras ocupou a cadeira de número 1, que tem como patrono Tobias Barreto. Da sua mente criativa e inovadora, surgiu o MAC – Movimento de Apoio Cultural, contestado inicialmente por alguns imortais mas que depois foi amplamente aceito e entendido como uma forma inteligente de “democratizar” a Academia, tirando-a de um certo marasmo cultural, já comentado por Garcia Moreno em artigo publicado no jornal “A Cruzada” nos idos de 1959. Foi membro fundador da Academia Sergipana de Medicina. Representou a Fundação Joaquim Nabuco
Sergipe tem uma dívida de gratidão com esse ilustre filho de Rosário do Catete. Por isso, a sua lembrança deverá ser sempre evocada pelos poderes públicos, em sinal de reconhecimento e justiça por tudo que ele fez pelo engrandecimento do nosso Estado.
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