Não chegou a ser novidade o fato da transferência da Fundação Aperipê da Secretaria de Educação para a Secretaria de Cultura, dentro do pacote de medidas da reforma administrativa do Governador Jackson Barreto, ter sido pouco comentada e discutida nos ambientes de debate público de Sergipe (incluindo a imprensa), afinal comunicação pública é praticamente um não-assunto por essas bandas.
Minha preocupação principal aqui não é entrar no mérito sobre qual secretaria seria melhor estar abrigada a Fundação Aperipê, até porque o fundamental, em minha opinião, é observar qual o grau de autonomia editorial e financeira as rádios e TV públicas têm frente ao Estado e ao mercado e em que medida esses veículos estão cumprindo o seu caráter público.
E, nesse sentido, é lamentável que a Aperipê seja encarada como um corpo estranho na estrutura do Governo do Estado. Um corpo incômodo e dependente, que a cada gestão vê-se ameaçado de ir para um lado ou para outro, de ter um orçamento X ou Y.
Essa fragilidade institucional, importante destacar, é apenas parte da concepção de comunicação da ampla maioria dos gestores públicos do nosso país: a comunicação que deve ser investida é a do imediato, da propaganda, da publicidade das ações governamentais, a que ajuda a manter o governo com boa popularidade e que, assim, contribui na reeleição ou na eleição dos sucessores. A mídia pública, como não deve ter esse fim, fica em segundo plano.
Por conta dessa visão, que não se diferenciou muito nos sucessivos governos estaduais em Sergipe, a Aperipê acumulou ao longo dos anos uma série de problemas que impactam diretamente na sua natureza de comunicação efetivamente pública. Em resumo, esses problemas são: ausência de participação social (na estrutura administrativa da Fundap até existe um Conselho Deliberativo, mas que é composto em sua maioria por secretários de estado e membros da própria diretoria e tem apenas um representante dos trabalhadores); pouca transparência (pelo site da Fundap não é possível ter acesso a informações como o planejamento da empresa, o orçamento e as despesas e as atividades do Conselho Deliberativo); instabilidade financeira (com o orçamento variando a cada gestão); número elevado de cargos comissionados; trabalhadores com mais de 20 anos de emissora com salários baixos; e ausência de um Plano de Cargos, Carreiras e Salários que garanta estabilidade profissional para os seus servidores.
Diante disso, a notícia que circulou esses dias sobre a indicação de Messias Carvalho para a Presidência da Fundação Aperipê aponta para o caminho oposto ao que as rádios e TV públicas de Sergipe necessitam, sinaliza para um aprofundamento dos problemas da Aperipê.
Messias Carvalho ocupava até a semana passada a presidência do Sindicato das Empresas de Rádio, Televisão e Jornais de Sergipe (segundo informação do blog do jornalista Cláudio Nunes, Messias solicitou afastamento da presidência do sindicato patronal após receber o convite para a Fundap). Isso mesmo, um empresário está prestes a assumir a Presidência de uma fundação de comunicação pública. Empresário que, como representante de sua classe, sempre se negou a garantir condições dignas de trabalho e salário para os profissionais da comunicação em Sergipe.
Caso a indicação se confirme e caso Messias Carvalho aceite assumir a Fundap, o governo Jackson Barreto dará passo importante para o sucateamento e o início do processo de privatização da Fundação Aperipê. Espero, muito sinceramente, estar enganado.