Imaginemos os homens sérios das Forças Armadas, principalmente do Exército, os verdadeiramente preocupados em limpar a imagem deixada após os 21 anos de ditadura militar, agora que retornaram ao poder para dar esse brilho às suas condecorações e se vendo comandados por um néscio.
À boca miúda, por questão de disciplina não podem se pronunciar, já devem prever que em quatro anos poderão sair tão mal com a opinião pública que melhor seria ter permanecido nos quartéis ao contrário de terem se metido nessa aventura liderada por um despreparado inconsequente.
Não há eleitor ingênuo ou inocente e nem oficial do Exército que não tivesse conhecimento sobre Jair Bolsonaro, como lembra Janio de Freitas, o “tenentinho desordeiro”, o político defensor da ditadura e das milícias, capaz de “atos qualificáveis, desde sempre, como molecagens, cafajestices, falta de decoro e educação”.
Que ninguém se diga surpreso com o presidente que publica um vídeo com cenas escatológicas com o intuito de se opor às estrondosas manifestações públicas contra ele no Carnaval e estupidamente acabe fazendo uma condenação, uma propaganda negativa da maior festa popular do Brasil, patrimônio nacional e motivo de orgulho do povo brasileiro.
E reforçando sua ignorância, depois ainda perguntou o que é “golden shower”, o fetiche de urinar no parceiro ao qual o vídeo se referia. Claro que as redes sociais não perderam a deixa e aproveitaram para escrachar mais um pouquinho o seu atrapalhado governo.
Como observa o jornalista e escritor espanhol Juan Arias, correspondente do El País, querer matar o Carnaval é um atentado à alma do Brasil.
Logo depois, em evento de aniversário do Corpo de Fuzileiros Navais, o presidente trapalhão afirmou em discurso que democracia e liberdade só existem quando as Forças Armadas querem.
Talvez ele tenha tido uma vaga lembrança sobre o papel das Forças Armadas descrito no artigo 142 da Constituição Federal: “As Forças Armadas (…), sob a autoridade suprema do Presidente da República, destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.
Mas ele sequer sabe falar, não consegue expressar nada além do que linguajares corriqueiros da caserna, daí ter provocado um alvoroço entre os generais que o cercam, que correram a corrigi-lo, que não foi bem isso que o presidente quis dizer, que ele pretendeu na verdade afirmar que as Forças Armadas “são guardiãs da democracia”.
No mesmo dia, fez uma “live”, uma transmissão ao vivo pelas redes sociais e pela TV Brasil (a “TV do Lula”, como já se referiu), misturando dez assuntos, desde a reforma da previdência a críticas à “indústria de multas” de trânsito e à importação de bananas do Equador.
Estava cercado por dois generais, Otávio Rêgo Barros, porta-voz da Presidência, e Augusto Heleno, chefe do GSI, que foi convidado a opinar sobre aquele discurso a respeito do papel das Forças Armadas. Seu principal conselheiro, o general tratou de amenizar.
Nada ameno foi o fato de o presidente da República aparecer numa transmissão oficial tutelado por dois generais. Correu uma piada que os oficiais teriam dado bico de coturno na canela dele toda que vez ameaçava falar alguma bobagem. Missão quase impossível.
Como era previsível, Bolsonaro é um presidente incapaz e suas trapalhadas já mexem com o humor do mercado e dos aliados políticos, não ajudando em nada na aprovação das reformas necessárias ao crescimento do país.
Resta saber, para o bem e para o mal, se o mercado, os aliados políticos e os militares o suportarão até 2022.
Maria do Carmo prevaricou?
Falar em incapaz, causou espanto a afirmação da senadora Maria do Carmo Alves (DEM) na semana passada, ao jornalista Narcizo Machado, da Fan FM, de que João Alves Filho (DEM), quando prefeito de Aracaju até 2016, assinou documentos sem nem saber o que estava fazendo, por conta do Alzheimer.
A pretexto de defender o marido das denúncias contra ele, que desde então já recebeu 20 notificações da Justiça, ela admite que João “não tem mais condições de responder a nada por conta da doença”. Aliás, desde a prefeitura.
“Vi ele fazer muita coisa errada, mas ele já não estava bem. A própria irmã dele e que era secretária de Governo, Marlene Calumby, levava documentos que ele assinava sem nem saber o que estava assinando”, disse Maria do Carmo, que é mulher do ex-prefeito. Marlene é irmã.
“Muitas vezes secretários levavam documentos para ele assinar e quando viam, ele estava dormindo. Aí o secretário avisava a nossa secretária para levar ele para dormir”, completou.
O Código Civil, no Artigo 4º, diz que são incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer, “aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade”. E incapazes são as pessoas que não podem praticar pessoalmente os atos ou negócios jurídicos. Portanto, são privadas por lei de exercer certas funções e direitos.
Não seria o caso de Maria do Carmo e Marlene Calumby admitirem isso à época que João era prefeito?