Apolonio de Carvalho, em nome do pai Luiz Antônio Barreto

A morte do militante político Apolonio de Carvalho, aos 93 anos, põe em destaque a consciência ideológica como um patrimônio que bem pode ser formado a partir da casa, pelos exemplos dos pais. Nas entrevistas que concedeu ao longo da vida, Apolonio de Carvalho mencionou seu pai como o grande inspirador, aquele que encorajava à tomada de posição e estimulava atitudes. Guardava do pai o espírito republicano, progressista, anticolonialista e lembrava que, em 1890, ele foi para o Chile, lutar contra a invasão inglesa. Creditava, também, ao pai a sua formação e a formação do seu irmão mais velho, Deusdédit, nos valores da independência e da soberania.

 

Apolonio Pinto de Carvalho nasceu em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, em 1912, filho de pai sergipano, o militar (Capitão) Cândido Pinto de Carvalho Júnior e de mãe gaúcha, de Bagé. Queria ser médico, mas foi demovido pela mãe, que apontou a carreira militar como capaz de prover suas necessidades. Entrou para o Exército em 1930, participou da Aliança Nacional Libertadora e apoiou a chamada Intentona Comunista de 1935. Preso de 1935 a 1937, conseguiu fugir e foi para a Espanha, como voluntário das Brigadas Internacionais da Guerra Civil Espanhola (1937 a 1939). Com a vitória de Francisco Franco fugiu para a França, integrando-se à Resistência Francesa, na luta contra o nazismo, durante a II Guerra Mundial. Por ter servido, revolucionariamente, ao Brasil, a Espanha e a França, Apolonio de Carvalho foi nominado, por Jorge Amado, como o “herói de três pátrias.”

 

Com a redemocratização de 1945, Apolonio de Carvalho voltou ao Brasil, alistou-se no Partido Comunista Brasileiro, abriu mais tarde uma dissidência – o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário – PCBR, combateu o movimento militar de 1964, foi preso, trocado, em 1970, pelo embaixador alemão no Brasil, Enrenfield Theodor Ludwig Von Holleben, sequestrado pela VPR e pela ALN, exilando-se na Argélia e depois em Paris. Com a anista de 1979 regressou ao Brasil, e no ano seguinte ajudou a fundar o PT – Partido dos Trabalhadores, assinando a ficha nº 1.

 

Apolonio de Carvalho foi o mais completo exemplo de político e de revolucionário, sempre disposto a abraçar causas universais de independência, de construção da soberania e de garantia de um mundo melhor. Na França, em meio às lutas contra as forças nazistas, conheceu a ativista Renée France, com quem casou e teve filhos. Há pouco tempo, o nome de Apolonio de Carvalho esteve no noticiário da mídia, por conta da sua situação como militar, face o processo que requereu, para configurar a sua condição de anistiado, junto a uma Comissão Especial do Ministério da Justiça.

 

Com sua morte, depois de longa e atribulada vida, Apolonio de Carvalho deixa exemplos de sua capacidade de compreender a realidade e de formular alternativas com as quais os problemas deverão ser superados. Amigos, correligionários, admiradores são unânimes em reconhecer a figura emblemática do revolucionário, suave na interpretação dos fatos, disposto no enfrentamento da realidade.

 

A repercussão da morte de Apolonio de Carvalho consagra sua biografia e permite esclarecer, através de depoimentos pessoais que ficaram e que vão, com certeza, se juntar de agora por diante, suas posições revolucionárias, dedicadas às causas que desde cedo foram as principais motivações de sua vida. A herança paterna, tantas vezes sublinhada, dá a Sergipe a condição de uma pátria de homens marcados pelas lutas radicais, intelectuais e políticas, com as quais muitos sergipanos foram inseridos na história cultural e política do Brasil.

 

O Capitão Cândido Pinto de Carvalho Júnior, autor de dois livros didáticos publicados no Rio Grande Sul e destinados às Escolas Regimentais do Exército – Gramática Portuguesa e Compêndio de Aritmética (Bagé: Tipografia da Livraria A Popular, 1901), não é o único sergipano a deixar descendência ilustre. Joaquim Ribeiro, professor e crítico carioca, é filho do grande laranjeirense João Ribeiro; o ministro Enéias Galvão, do Supremo Tribunal Federal, também nascido no Rio de Janeiro, era filho do igualmente varão de Laranjeiras, Rufino Enéias da Fonseca Galvão, o visconde de Maracajú; Selenéh de Medeiros, poetisa e declamadora, nascida na Bahia, filha de Bernardino José de Souza, sergipano de Chapada dos Índios, hoje Cristinápolis; Vicente Barreto, professor e filósofo, coordenador da pós graduação da Faculdade Cândido Mendes, nascido no Rio de Janeiro, é filho do aracajuano José Barreto Filho, dentre muitos outros que tomaram o exemplo paterno e construíram vitoriosas biografias.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais