APOLÔNIO, O CENSURADO

 

 

Apolônio, o censurado

 

 

Lisboa, 15 de outubro de 2004

 

Caros amigos de Sergipe:

 

Alguns abichanados leitores andam mandando-me e-mails dizendo que eu só penso em sexo e que ultimamente só tenho escrito sacanagens. Imaginem os senhores, que calúnia monumental!

Eu, menino pudico, ex-sacristão convicto e adepto dos catecismos de Carlos Zéfiro, jamais poderia ser acusado de assédio lítero-sexual como querem insinuar os leitores frufru entusiastas dessa prosaica querela luso-brasileira.

Só porque comprei uma pichocha cibernética, andei merendando a Shirley Katiane e defendi a Shana sergipana nos últimos dias, não quer dizer que eu viva sonhando com montes de Vênus ou camisinhas oriundas daquele planetinha tão safado. Aliás, se não estivesse eu sob censura, poderia lhes relatar as incríveis peripércias de alcova dos venusianos.

Mas, parodiando os políticos, creio que ‘trata-se da mais vil campanha para se desestabilizar uma sólida coluna literária’.

O que ocorre de fato, é que ultimamente tenho dado mais sorte com as raparigas e os senhores sabem tão bem quanto eu, que não se deve contrariar os desígnios de Deus.

Se uma pichocha cai na vossa mão, amado leitor, diga-me, como recusar? Seria o caso de abichanar de vez? E ademais, pra que cometer essa descortesia com uma pobre irmã em Cristo? Por que fazer essa desfeita com os deuses do amor? Diga-me se for capaz?

Até porque sem o sexo, amigos, o que seria da humanidade? Que progressos esperar da raça humana, uma vez que não existiriam Einstein, Freud, Marx, Mané Prancha ou João Moamba, simplesmente porque nenhum desses expoentes da humanidade, seria sequer concebido no respectivo ventre da sua veneranda mamãezinha?

Sem o sexo talvez ainda estivéssemos no paraíso com Adão e Eva olhando um pra cara do outro e cantando ‘Il sole mio’ para espantar o tédio. A qualquer tentação da serpente, a voz do Senhor ecoando aos quatro cantos diria que era muito mais prudente ficar ali escutando o cantar dos bucólicos passarinhos, que entregar-se aos prazeres do pecado original.

Ou pior, estaríamos ainda no tempo das cavernas, se bem que duvido muito que entre um estalactite e outro não rolasse um sexo animal entre os nossos ancestrais.

Mas afim de satisfazer as idiossincrasias de tão assexuados leitores, hoje me absterei de falar no tal tema do sex…, os senhores sabem, aquela coisa suja, feia e cabeluda que fazem os casais a qualquer hora do dia ou da noite.  

Hoje falarei apenas de coisas leves e amenas como o poético flanar das gaivotas por sobre o Atlântico ou as dietas da Herbalife, tão adorada pelos modernos metrosexuais.

Ou quem sabe podemos também tecer interessantes comentários sobre a conformação anti-capilar daquele verdadeiro aeroporto de mosquitos que é a cabeça do nosso querido Augusto Bezerra ou ainda sobre a poesia de Jozailto Lima, o poeta de parcos chumaços capilares.

Enfim, como vêm a variedade de assuntos assexuados é imensa. Poderíamos estendê-la por horas a fio, mas tenho mais o que fazer. Vou rezar o terço no quarto da Sulamita, uma vez que na minha coluna os leitores abichanados podem até mandar, mas na minha grande verga mando eu. Com licença.       

 

 

Até semana que vem.

 

Um abraço do

 

Apolônio Lisboa

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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