Li essa semana na mídia aracajuana a intenção de se homenagear uma pessoa pública nacional. Até ai tudo bem! Todavia, o que em impressionou foi o argumento para a homenagem. Segundo o que estava escrito na mídia seria porque essa pessoa tem coragem de dizer o que pensa, embora, segundo a mesma fonte, as idéias dessa pessoa não fossem dignas de elogio… Foi ai que me lembrei de uma entrevista de um famoso antropólogo brasileiro que foi apresentada recentemente no programa Fantástico, o qual explicava o que estava acontecendo no programa BBB 5. Ou seja, um grupo entrou – segundo eles – para ganhar. Para eles tudo valia, só não “matar e roubar”. E, continuando nesse jogo de se conceder poder – esse grupo – se auto-intitulou “donos” do poder, da força, da inteligência e partiu para luta. Considerando-se o fato de que os mesmos eram maioria e seguindo-se a lógica normal tudo indicava que o jogo estava garantido e ganho, pois eles acreditavam que poderiam “mexer as peças” e colocar para fora quem eles quisessem. Acredito, que para minimizar o caso e proteger um pouco os jovens que estavam nessa disputa, elegante e sabiamente, o referido antropólogo, explicou que aquele seria um comportamento resultante do isolamento em que as pessoas estavam submetidas e que um programa desse é na verdade um laboratório de experiências sobre o comportamento humano. A afirmação me pareceu intrigante e, por esse motivo, parti para a observação. Aquilo me interessou… Então comecei a acompanhar, sempre que podia, aquele fenômeno denominado por Pedro Bial como “a casa mais vista do Brasil”. Ao observar e constatar os fatos acontecidos comecei a fazer paralelos, conexões e questionamentos e, o mais interessar, trazer desse laboratório explicito, muitas coisas que constato no dia a dia, nas empresas e nas pessoas. Uma das primeiras lembranças que tive foi a do “Grande Irmão” (do livro 1984, Orwell), aquele que: “tudo vê, tudo julga e tudo observa…” Como sou fascinado em estratégia comecei a analisar as estratégias das pessoas e destaquei três tipos principais: uma que parecia um “trator numa loja de loucas”, uma outra intermediária, e finalmente uma terceira, a qual aparentemente parecia inócua e fraca, mas que se revelou – ao final – a mais poderosa. A mais truculenta estava fundamentada no poder, arrogância e a pretensa inteligência de um indivíduo, teoricamente o mais “preparado” de todos, que definia as regras e um grupo que o seguia fielmente. Ai lembrei das três estratégias magistralmente definidas do Lynch (A Estratégia do Golfinho, 1988), nesse livro ele fala da “estratégia do tubarão” aquela que passa por cima de tudo, não analisa os resultados e conseqüências e, geralmente, tem ao seu lado indivíduos que se utilizam de pessoas ou instituições que usam a “estratégia das carpas”, ou seja, pessoas medrosas e que não sabem pensar e por esse motivo elegem um “líder” que abra as portas para elas. E, o que víamos o tempo todo nas decisões eram os pretensos “tubarões e carpas seguidoras” querendo “acabar e trucidar” com dois ou três concorrentes considerados como os “fracos” por eles. Esse tipo de estratégia é muito comum no mundo organizacional onde muitas vezes as pessoas (os tubarões) acreditam que podem ter tudo o que querem desde que passem por cima das outras sem consideração, apenas por uma questão de ter poder e força. Acredito que esse tipo de estratégia que teve sucesso por muitos e muitos anos, mas que hoje em dia, cada vez se torna menos eficiente e eficaz porque, hoje em dia, as pessoas estão rapidamente aprendendo a definir o “joio do trigo”. Percebemos, cada vez mais, que, principalmente, os jovens brasileiros estão levantando e revolvendo questões que seriam um grande tabu no passado, mas que hoje em dia são inadmissíveis, a cada vez maior exigência dos clientes, do eleitor jovem etc. Logo, o que constatamos é que, apesar de tudo, o mundo está mudando, e como era de se esperar a nação brasileira também está se transformando. Muito bem, além da estratégia do tubarão e das carpas, claramente explicitada no BBB-5, apareceu uma outra estratégia que o Lynch denominou ”estratégia do golfinho”. E, a tônica essencial dessa estratégia não está na força, mas principalmente na elegância de caráter, de respeito, de transparência, de persistência, de não se dar por vencido e de dizer a verdade. “Os golfinhos não se opõem a vencer. Se houver pouca coisa em jogo ou se puderem aprender com isso alguma coisa significativa, eles também não se opõem a perder. Eles não relutam em se render, não hesitam em firmar compromissos e não se importam com o calor do conflito, nem com os sacrifícios impostos pela luta – se isto realmente fizer sentido. Se fizer sentido de forma elegante!” Dudley Lynch (Estratégia dos Golfinhos) E, como o desenvolver do programa constatamos que o “Grande Irmão” que foi o público expectador não aprovou a “estratégia do tubarão” definida dentro da casa. E a cada paredão em que os tubarões (primeiro eles e depois as carpas) iam sendo eliminados se comprovava quanto, muitas vezes, não estamos percebendo o que está acontecendo claramente à nossa volta. A cada eliminação que batia recordes de rejeição aqueles que estavam adotando a “estratégia do tubarão” sequer paravam para analisar que a sua estratégia estava estrondosamente errada, nem mesmo quando com a sua habilidade magistral o apresentador Pedro Bial os questiona, mesmo assim, na maioria das vezes, levantavam hipóteses muito pouco realistas e sem consistência, sempre fundamentadas na “maldade dos outros”, justamente porque eles não conseguiam olhar o essencial (já disto dito há muitos anos por Saint-Exupéry que: “o essencial é invisível aos olhos”): para eles mesmos, para os valores que estavam sendo solapados, para a esperteza desenfreada que estavam aplicando e para a falta de caráter que estava explicita. Voltando a fazer um paralelo com o mundo organizacional, quantas e quantas empresas quebram porque não percebem os indicadores que os seus clientes estão lhes revelando? Quantas e quantas vezes executivos acreditam que o seu “maior problema é o cliente” quando o cliente é na verdade a sua maior “solução”? Quantas e quantas vezes grandes executivos “afundam” porque acreditam que a sua estratégia é vencedora e só escutam nas suas empresas aqueles “chefes carpas amedrontadas” que só lhes dizem – exatamente – aquilo o que eles querem ouvir, que filtram informações preciosas, mas que podem desagradar, que não têm coragem de lhes chamar atenção em momentos cruciais, e muito menos que não lhes dizem “olho no olho” que eles estão errados, utilizando como argumentos substâncias essenciais como: fatos, dados e resultados. E isso acontece justamente porque o “chefe tubarão”, via de regra, adora ficar rodeado de “carpas amedrontadas” que se calam quando ele fala, que esperam que ele fale para concordar ou simplesmente repetir tudo o que o chefe tubarão quer, deseja e gosta de ouvir. Na minha profissional trabalhei com muitos chefes: tubarões, chefes “carpas amedrontadas”, mas tive o prazer de por muitos anos trabalhar com um grande executivo, preparado profissionalmente e sobretudo profundamente espiritualizado, que a meu ver ainda hoje é um exemplo magnífico de um “golfinho”, que além da saber receber críticas duras, pedia o tempo todo para que não fosse poupado dessas críticas, pois só assim ele poderia crescer com profissional e pessoa. E não deu outra, num lago imenso cheio de tubarões e de carpas amedrontadas ele brilhou e brilha – intensamente – até hoje, ao lado de outros golfinhos que souberam e sabem com sabedoria como e quando “fazer a diferença”. Acredito e posso até estar errado, mas esse último BBB poderá servir de lições para empresários, educadores e políticos que ainda estão adotando o estilo tubarão nas suas carreiras, negócios e empreendimentos. O Grande Irmão (aquele que tudo vê, tudo julga e tudo observa), que a meu ver foi magistralmente representado pela população brasileira que observa o BBB, não escolheu, como até pouco tempo teria sido feito: o mais pobre, o mais bonito, o mais bonzinho, o mais “burrinho”, o mais charmoso; dessa vez sabiamente a grande escolha foi direcionada para pessoas que estavam jogando limpo e honestamente, os quais se valiam dos valores humanos, da sua educação familiar simples e verdadeira como fonte de decisão e, principalmente, sabiam se defender no momento certo. Trabalho com pessoas há muitos anos, e acredito que dificilmente outro padrão desse, observado no BBB-5, se repetirá, pois houve uma situação estabelecida que não foi criada como tática do programa, como mídia, nem como uma regra estabelecida. Tal qual aconteceu comigo, espero que executivos, empresários, políticos e educadores tenham observado esse fenômeno, bem como aqueles que investiram no seu tempo e dinheiro para fazer as suas escolhas (expectadores) entendam o quando exercitaram, talvez apenas até por brincadeira, o poder das escolhas baseadas em critérios bem delineados e fundamentadas em princípios essenciais. E, ao fazer isso comecem e aprender com elas e a observar quais táticas, cada um aplica para a sua vida quer pessoal quer profissional: a do tubarão, a das carpas oprimidas e medrosas ou aquela dos golfinhos que utilizam magistralmente a atitude do ganha-ganha. Se você acredita que é um “tubarão vencedor” reveja rapidamente os seus valores pessoais, olhe para dentro de si e saiba que os “tempos de tubarão” estão ficando cada vez mais com os dias contados. Se você se vê como uma pobre “carpa amedrontada”, olhe para dentro de si, sei que é difícil, mas procure buscar os seus talentos internos, o que você faz de bom que lhe agrada, que lhe dá satisfação em fazer e comece a enfrentar os tubarões da sua vida e aprender com os golfinhos. Se você por sua vez, se sente que já adota a estratégia do golfinho, lembre-se que nada está perfeito, que a vida é uma constante mudança e para continuar golfinho você precisa continuamente alinhar os seus valores, aprender – até mesmo com as carpas e os tubarões – a ouvir e manter a humildade e a percepção atuantes na sua vida. Para finalizar, embora eu não seja um sergipano de nascimento, espero verdadeiramente que o político que quer homenagear essa figura nacional reveja essa indicação e a utilize para homenagear talvez pessoas muito mais simples, até do povo, mas que sejam indivíduos que realmente orgulhem os sergipanos. (*) Fernando Viana é diretor presidente da FBC
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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