Aracaju 150 anos + 3

Catedral Metropolitana em 1907
Aracaju, no dizer do eminente e saudoso professor Fernando Porto, foi uma vitória da geografia. Áreas baixas, alagadas, inóspitas à vida humana, que sequer pouparam o Presidente da Província – Dr. INÁCIO JOAQUIM BARBOSA -, que fundou a cidade e a fez capital por uma mesma Resolução, a de nº 413, de 17 de março de 1855, foram transformadas num canteiro de obras, graças a atuação de engenheiros militares, servindo à Província, a começar por Pirro, que morava, de alguns anos, na Barra dos Coqueiros, e conhecia os problemas principais da Província.

Em 1855 Aracaju era uma região dividida em poucas partes: Tramanday, para o sul, fixava os limites na área da atual Praia 13 de Julho; Olaria, equivalente hoje ao centro,  banhada pelo rio Sergipe, e cercada de dunas, a oeste;  e Massaranduba e Santo Antonio, ao norte, regiões distintas, uma, junto ao rio Sergipe, tomou, mais tarde, dois nomes: Praia do Tecido, em alusão à Fábrica Sergipe Industrial, e Chica Chaves, zona de chácaras, a outra, mais antiga, tinha núcleo na colina de Santo Antonio, onde uma igrejinha existia desde o século XVIII. Tais partes garantiram, em 150 anos + 3, os limites do desenvolvimento urbano da cidade.

A economia da Província indicava que a riqueza açucareira estava concentrada na produção dos engenhos dos vales dos rios Cotinguiba e Sergipe, exigindo um porto para movimentar as cargas de exportação do açúcar e de importação dos gêneros necessários ao abastecimento da população sergipana. A Alfândega, repartição que anotava o movimento econômico provincial, já estava as margens do estuário do rio Sergipe, antecipando os fatos. Aracaju, então, é também uma vitória da economia, como atestaria a sua capacidade de adaptação aos ciclos produtivos.

Embora a Resolução da mudança da capital estabelecesse que núcleo fundante da nova cidade fosse o Povoado do Santo Antonio, os engenheiros que projetaram  Aracaju, chefiados pelo capitão Sebastião Basílio Pirro, escolheram a área da Olaria para traçar praças e ruas, construir todos os equipamentos necessários ao ordenamento da vida urbana, estabelecendo os espaços para as repartições públicas, igrejas, casario residencial, prédios comerciais, enfim edificar um burgos que nascia destinada a servir de ponto de convergência de toda a Província.    Um conjunto de obras fundamentais deu a Aracaju uma planta, construções militares e civis, praças e ruas em quadras simétricas, com feição de um tabuleiro de jogo de dama ou de xadrez, fontes, moradias, serviços públicos, fazendo florescer um planejamento urbanístico, ainda hoje considerado no planejamento das administrações.

Nos primeiros anos as obras de Aracaju eram custeadas pelo Império, com a participação, gradual, da Província. Com a Proclamação da República, em 1889, o Estado passou a arcar com a maior responsabilidade das obras públicas, contando com o apoio financeiro do Governo da União e com o esforço da Intendência Municipal.

A atual praça Fausto Cardoso, que já teve os nomes de Praça do Mercado, Praça do Palácio, Praça da República) serviu de peão de ordenamento para o levantamento da planta de construção da cidade de Aracaju. A idéia era, partindo da margem do rio Sergipe, traçar 10 quadras com trechos de 100 a 110 metros, nos três sentidos: norte, oeste e sul. E assim foi feito, salvo em direção oeste, por causa dos morros e dunas de areia, comuns e que foram, à época, intransponíveis. O exemplo foi o Morro do Bonfim, que esperou 100 anos, de 1855 a 1955, para ser desmontado, permitindo o agenciamento de uma área central.

A primeira das obras foi o Palácio provisório, construída na esquina da praça com a rua da Aurora, atual avenida Rio Branco, e que além de servir de sede do Governo provincial foi transformado, poucos anos depois, para servir de Paço Imperial e hospedar o Imperador Pedro II, a Imperatriz e comitiva, que visitaram Aracaju em janeiro de 1860. O imponente edifício ficou incorporado à cidade e conhecido como a sede da Delegacia Fiscal, repartição federal.

O Palácio do Governo, a Assembléia Legislativa e a Ponte do Imperador foram obras fundamentais na mesma praça. O Palácio, concluído na década seguinte e reformado em 1920, a Assembléia, edificada nos terrenos inicialmente destinados à Igreja Matriz, e a Ponte do Imperador, construída para ser o ancoradouro da visita imperial a Sergipe continuam, com algumas alterações, testemunhando o projeto de construção da cidade, como ícones referenciais.

Para o norte, três quadras surgiram entre as praças Fausto Cardoso e General Valadão (que antes chamou-se Praça da Cadeia e depois Praça 24 de Outubro), fazendo florescer a rua da Aurora, beirando o rio Sergipe e as ruas Laranjeiras e São Cristóvão, transversais que cresceram em direção oeste, abrigando casas comerciais e residências. Na praça General Valadão foram construídas a Cadeia Pública, hoje Palácio Serigy, sede da Secretaria da Saúde, e o Quartel da guarnição federal, que demolido cedeu terreno para as obras do Hotel Paláce de Aracaju, concluídas em 1962, e do Edifício Estado de Sergipe, inaugurado em 1969.

A primeira igreja da capital sergipana foi a Casa de Oração São Salvador, construída na rua do mesmo nome, atual rua de Laranjeiras, na esquina com a rua do Barão (Barão de Maroim- João Gomes de Melo), depois Japaratuba e desde 1930 rua João Pessoa. Mandada construir por Inácio Barbosa, mas inaugurada pelo Presidente Salvador Correia de Sá e Benevides,que lhe deu o nome, a Casa de Oração serviu de Matriz por alguns anos, até a edificação da Matriz, hoje Catedral, na praça que hoje leva o nome do seu ex-vigário, o Monsenhor Olímpio Campos.Ao visitar Aracaju, Dom Pedro II fez um périplo de visita às muitas obras, demorando-se em ouvir relato sobre cada uma delas.

Na praça Olímpio Campos foi construída, também, a sede do Tribunal de Relação do Estado de Sergipe, terminada em 1894 e inaugurado em 1895, e que agora, nominado Palácio Silvio Romero, serve de sede ao Memorial do Poder Judiciário. Convém fixar que em tais locais houve aterros e florestamentos, que se prolongam ainda hoje, em outras áreas para onde a cidade cresceu.

Para o sul, pela mesma rua da Aurora, surgiram algumas edificações essenciais, como o Quartel da Polícia, onde mais tarde o Presidente Graqccho Cardoso construiu o prédfio do Ateneu Pedro II,  o Hospital de Caridade, e a Escola de Aprendizes Marinheiros, que décadas depois foi convertida em Capitania dos Portos. A Fundição, os clubes Sergipe e Cotinguiba, e o Depósito de Inflamáveis (onde está hoje o Iate Clube de Aracaju), além de outras construções, levaram Aracaju ao sul.

Na virada do século, iluminada a gás, ainda dependendo das fontes para o seu abastecimento, Aracaju começa a ser pavimentada, em suas ruas centrais, ganha um Teatro, o Carlos Gomes, situado na antiga rua Japaratuba (João Pessoa), transformado em Cine Teatro Rio Branco, e deixa de lado projetos de outras construções, com os quais sonhou nos seus primeiros cinqüenta anos de vida.

Aracaju recebeu diversos melhoramentos, que contribuíram para tornar-se uma cidade mais bonita, dinamizando a sua vida social. Os serviços de transporte fluvial ligando a capital a Laranjeiras, Riachuelo, Maroim e Santo Amaro, o transporte urbano, com os bondes à tração animal, percorrendo as ruas da cidade desde 1908, e a partir de 1926 bondes elétricos, unindo o centro aos bairros Industrial, Santo Antonio e Cirurgia, os trens, com sua estação na avenida Coelho e Campos, ligando Aracaju a Salvador em 1913, seguindo para Propriá, a partir de 1915, a Escola Normal, construída nos padrões mais modernos da pedagogia, contando com um Grupo Escolar anexo, o primeiro a ser construído na capital sergipana, a luz elétrica, iluminando as ruas, a partir de 1913.

O Governo de Siqueira Menezes, velho republicano, general de Canudos, aumentou o número de obras fundamentais, como o Horto Florestal, grupos escolares, um deles transformado no Quartel de Polícia, à rua Itabaiana,  o prédio da Biblioteca Pública, atual Câmara de Vereadores, e foi seguido por outras administrações empreendedoras, especialmente a de Graccho Cardoso, responsável pela construção de grupos escolares, do Instituto de Química, do Instituto Pareiras Horta, da Penitenciária Modelo, do Mercado Modelo, ou Antonio Franco, da Intendência (Prefeitura) Municipal, da Caixa d´Água, dentre outros.

Na década de 1930 surgiram outras obras fundamentais, como o prédio da Biblioteca Pública, na praça Fausto Cardoso, onde está sediado o Arquivo Público, o do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, onde foi instalada a Rádio Difusora, a Ponte sobre o rio Poxim, todas na gestão de Eronídes de Carvalho.

O Mercado Thales Ferraz, o Instituto de Tecnologia e Pesquisas de Sergipe, o novo prédio do Colégio Ateneu, a abertura da rua de Laranjeiras, unindo o centro de Aracaju ao bairro Siqueira Campos, a abertura da estrada Aracaju –Atalaia, pelo Raposo (Sementeira), ampliaram a cidade, sendo obras de grande valor, executadas pelo governador José Rollemberg Leite, que administrou o Estado de 1947 a 1951, auxiliado pelo prefeito Marcos Ferreira de Jesus.

O Parque de Exposições, o Conjunto residencial Agamenom Magalhães e o Auditório (Teatro) do Colégio Estadual Ateneu Sergipense, foram obras do Governo Arnaldo Garcez, que dotaram Aracaju de equipamentos necessários ao seu progresso como capital.

A cidade toma ares europeus, com os bangalôs construídos em várias ruas, pelo engenheiro alemão Altenech. Hotéis, bares, restaurantes, sorveterias, casas de espetáculos, dinamizam a vida social da capital sergipana. Ruas movimentadas, porto visitado, regularmente, por navios nacionais e estrangeiros, trens indo e vindo, aviões aportando nos flutuantes do rio Sergipe, ou na pista de barro do Campo de Aviação,  marinetes e ônibus facilitando o contato das populações interioranas, davam atestado de êxito ao projeto de construção de Aracaju, ao completar 100 anos. (continua)

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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