Aracaju de Outrora (150 anos + 2)

Hotel Brazil, o primeiro hotel de Aracaju, no local do primeiro Palácio do Presidente da Província

Aracaju tem seus cronistas e historiadores, que avolumaram impressões e informações que hoje servem às novas gerações, como roteiros para o conhecimento sobre a cidade e capital, que completa 152 anos mostrando-se dinâmica e bela, fazendo do seu crescimento quase uma obra de arte, mesmo quando sua periferia sofre os atropelos de populações informais, nem sempre fixas, em busca de sobrevivência. Aracaju tem um encanto insuperável, com o qual sedimenta sua relação com seus habitantes e com todos os que, a negócio ou a passeio, trafegam pelas suas ruas, avenidas, praças, praias, áreas de comércio, locais livres.

 

Enock Santiago, Clodomir Silva, Manoel dos Passos de Oliveira Teles, Mário Cabral, José Calasans, Felte Bezerra, Fernando Porto, Corinto Mendonça, Bonifácio Fortes, Freire Ribeiro, Sebrão, sobrinho, dentre outros, deixaram em jornais, revistas e livros um punhado de louvores, alicerçados pelos fatos da história que exaltam a capital dos sergipanos. É uma pena que não haja, institucionalmente, um programa de reedições, para alimentar o universo dos leitores, carentes de saberes sobre a cidade fundada por Inácio Joaquim Barbosa.

 

Dá pena, também, que acervos magníficos tenham desaparecido, pela falta de espaços destinados ao cumprimento da tarefa de documentar a vida, que desde 1855, corre solta pelas ruas de Aracaju. É muito pouco, ainda que seja bom, celebrar-se Aracaju na data do seu aniversário. É preciso rotinizar os estudos, conhecer seus dilemas, formar uma consciência pedagógica, participativa, capaz de firmar uma solidariedade que perdure pelo tempo afora, independentemente dos discursos políticos.

 

É também penoso que textos essenciais tenham sido soterrados pelo esquecimento e pelo desinteresse, perdidos entre os mortos. Pedro S. (de Sotero) Machado, sergipano que viveu anos da vida na Bahia, anunciou nas páginas do Sergipe Jornal, onde colaborava freqüentemente, a confecção de um livro sob o título de História de Aracaju, composto de lembranças e anotações da Aracaju de Outrora, tendo como substância as informações fornecidas por Henrique José de Souza, um velho marinheiro, que nasceu por ocaso em Aracaju, em 15 de março de 1855, dois dias antes da Resolução que mudou a capital, então em São Cristóvão. Pedro S. Machado tinha outro livro “pronto”, intitulado Anciãos da minha terra, no qual destacava pessoas, de origens distintas, ligadas à vida aracajuana e sergipana. Tinha, ainda, outro livro: História do Protestantismo em Sergipe. O autor, em artigo de 1936, contava com a esperança de viver o suficiente para realizar a edição de suas produções, morreu três anos depois, em  sem reunir seus textos.

 

Henrique José de Souza, que ficou conhecido como Henrique Prático, foi embarcadiço e viajou pelo mundo, antes de fixar-se em Aracaju, onde nasceu e morreu de velho. Era filho do capitão de navio Francisco José de Souza e de Estacia Maria de Souza e nasceu às 4 horas e 45 minutos do dia 15 de março, dois antes do ato que legalizava a mudança da capital. Seus pais, residentes num sítio, nas proximidades do Limoeiro do Pau Grande, vieram para a praia, de carro de bois, por causa da mãe grávida, com três redes de pesca, e alguns escravos, e ocuparam um barracão, nas proximidades de um Trapiche de Nicolau José de Almeida, proprietário de uma olaria, na região onde hoje está o Hotel Pálace de Aracaju.

O fato de ter nascido em Aracaju fez de Henrique José de Souza uma testemunha valiosa da situação e do crescimento da capital sergipana. É ele quem informa a Pedro S. Machado, sobre as duas olarias, na parte central das terras do Aracaju, a de Nicolau, já citada, e a da família de Luiz Francisco das Chagas, situada na rua de Estância, com a rua da Aurora (atual avenida Ivo do Prado); sobre a instalação, na Ilha dos Bois (atual Iate Clube de Aracaju) do Depósito de Carvão, feita por José Augusto Ferraz, sócio da fábrica de tecidos Sergipe Industrial, instalada no Bairro Industrial desde 1884; sobre a festa de Bom Jesus dos Navegantes, realizada pela primeira com o fim da guerra do Paraguai e que foi o comandante português Miranda seu organizador, valendo-se de uma imagem antiga, depois substituída por uma nova, comprada pelos práticos que trabalhavam no estuário do rio Sergipe; sobre o primeiro palácio, também conhecido como Palácio Provisório, no terreno onde depois foi montado o Hotel Brasil, na esquina da Praça com a Rua da Aurora (onde hoje está a Assembléia Legislativa); sobre Chica Chaves, a vendedora de mingau que tinha um sítio, no local onde foi construída a Fábrica Confiança, na zona norte, e que deu nome ao bairro (atual Bairro Industrial); e sobre outras evocações que são subsídios importantes para a história desta cidade e capital de Sergipe.

 

Nascido em Maroim, em 13 de maio de 1885, Pedro S. Machado morreu na Bahia, em 29 de dezembro de 1939, aos 54 anos.

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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