Aracaju e as campanhas eleitorais

Quem acompanha o horário gratuito da propaganda política no rádio e da televisão, na campanha para Prefeito de Aracaju, fica surpreso com os discursos dirigidos para os moradores dos Bairros Santa Maria e Coqueiral, relativamente novos, onde residem poucos milhares de pessoas, e onde parece faltar tudo. O resto da cidade, com muito mais de quinhentos mil habitantes, perde o foco, esquecido dos candidatos, como se não existissem problemas clamando por soluções. Dos três bem colocados nas pesquisas – Edvaldo Nogueira, Almeida Lima e Mendonça Prado – o atual prefeito é quem mais diretamente fala para as duas comunidades citadas, como se elas fossem autônomas dentro da capital sergipana, muito embora existam ações da Prefeitura em outras partes da cidade.

O cromatismo das coligações partidárias mostra o predomínio do vermelho, representado por Edvaldo Nogueira, Vera Lúcia e Anderson Góes, seguido do azul de Mendonça Prado e o verde de Almeida Lima. Não há, então, confronto direto entre o encarnado e o azul (ou verde), embora a campanha tenha semelhança indisfarçável com o velho Reisado e com outras manifestações da cultura popular, o que remete para a radicalidade simbólica do bem e do mal, sacada invariavelmente nos períodos eleitorais. O PC do B abdicou do nome e, em certa medida, da cor, enquanto o PMDB trocou as suas cores originais,  por um verde que parece ser para visibilizar a coligação com o PV. Sobraram, nos dois casos, apenas os números, legalmente obrigatórios para a urna eletrônica.

O entusiasmo dos candidatos, prometendo o céu aos eleitores, banaliza a campanha, o que termina sendo uma oportunidade perdida de tratar dos problemas, que desde 1855 existem, em maior ou menor monta, na capital sergipana, e de muitos outros que vão sendo acumulados no curso do tempo. Dos candidatos, dois já conhecem a máquina e sabem, de ciência própria, o quanto é limitado o orçamento municipal para modernizar a cidade e oferecer serviços de qualidade. Há, portanto, um descompasso entre os dados disponíveis sobre Aracaju e a euforia messiânica dos candidatos.

A campanha faz evocar o Governo do general José de Siqueira Menezes, entre 1911 e 1914, e seu zelo especial com Aracaju, construindo Grupos Escolares, contratando o abastecimento de água e o esgotamento sanitário, criando o Horto Florestal e decretando um Código Florestal para o Estado. Foi no seu Governo que o trem fez sua primeira viagem, de Timbó, na Bahia, até Aracaju. Foi também com ele que Aracaju ganhou luz elétrica, padrão de civilidade que coroa a ação governativa do herói de Canudos, o “Jagunço Louro”, no dizer dos cronistas da época. A mulher de Siqueira Menezes, Donaninha, inspirava o povo a dizer:

                   “Donaninha, que é mulher de verdade, quando for embora, deixará muita saudade.” Ela cuidava, pessoalmente, do Jardim Olímpio Campos, entre os prédios do Palácio do Governo e o da Assembléia, inaugurado em 1907, pelo Presidente Guilherme de Souza Campos, em homenagem ao irmão, monsenhor e senador Olímpio de Souza Campos, assassinado, no Rio de Janeiro, em novembro de 1906, como epílogo da Revolução de Fausto Cardoso. Tito Lívio de Sant’Anna, sergipano de Pedra Mole, engenheiro de formação e político por vocação, foi vereador e presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, quando Capital Federal,  recorda no seu livro Os Produbrutantes (Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica Editora, 1979), que Donaninha mantinha “amplo e belo jardim, no qual variadas flores, especialmente rosas, como as quais usava o poeta Artur Fortes, resplandeciam nos cambiantes efeitos de luz de rica fonte luminosa.” E conclui, “Não havia, talvez, no País, jardim tão belo.”

A informação positiva não exclui, contudo, o drama que Aracaju enfrentava naquele tempo. O mesmo Tito Lívio de Sant’Anna recolhe, entre seus amigos sergipanos que moravam no Rio de Janeiro, uma quadrinha que anos depois serviu de mote a uma música carnavalesca, e que dizia:

                   “Aracaju, cidade menina,

                   tem encanto que seduz,

                   de dia, falta água,

                   de noite, falta luz.”


Tal quadra se transforma numa espécie de “plano de Governo”, pois o Presidente José de Siqueira
Menezes, ajudado por sua mulher Donaninha, resolveu os problemas diurnos e noturnos da capital sergipana.


O sucesso da administração do general republicano, organizador do Estado sergipano após o 15 de novembro de 1889, o levou ao Senado, em 1915, onde passou 9 anos. Na eleição de 1924, quando tentava a reeleição, perdeu para Lopes Gonçalves, político do Amazonas que o Presidente Graccho Cardoso patrocinou em Sergipe. Na mesma eleição que o também general Ivo do Prado, outro militar que esteve na Proclamação da República,  teve o nome preterido, morrendo de desgosto, logo depois.

 

É curioso, enfim, como as campanhas eleitorais sugerem aproximações e comparações.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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