Aracaju que tanto adoro
Nunca quis trabalhar em outro lugar
Quando me formei em medicina, pela UFS, e ingressei no serviço público, fiz uma escolha bem diferente do que normalmente um profissional de saúde faz: quero trabalhar em um bairro cuja população vive em situação de pobreza. Na época era o Bairro Santos Dumont. Por que esta escolha? Achava que ia poder ajudar mais a população. Meu consultório na UBS Dr. José Machado de Souza era lotado. Comecei a me envolver com a comunidade. Na época não existia o PSF – Programa de Saúde da Família, mas eu já realizava visitas domiciliares. Eu tinha um paciente que sempre fazia tratamento contra as parasitoses intestinais e ele sempre estava de volta com infestação de parasitas. Eu perguntei se podia ir até a casa dele. Cheguei lá vi a fonte de água próxima a fossa. Fui até a companhia de saneamento, para que ajudassem a instalar água encanada. Alguns colegas diziam “Dr. Almir, o Sr. vai fazer isso com a população toda do Bairro? Não, apenas vou tentar ajudar a quem me procura”.
Encontrei o primeiro desafio no território onde trabalhava: epidemia de poliomielite. Como gostava de saúde pública, fui convidado a coordenar umas das primeiras campanhas de imunização contra poliomielite e criei uma forma diferente de campanha de prevenção que foi adotada por todo estado de Sergipe e hoje todo mundo faz: campanha fora das UBS. Tradicionalmente, nas campanhas de imunização, os profissionais ficavam nas UBS esperando que os pais trouxessem os filhos para a vacinação. Eu comecei a tirar as equipes da unidade de saúde e ir a campo, para as favelas e vilas. Alguns profissionais reclamavam porque iam “sujar os sapatos”. Foi assim que Sergipe lançou ações extra muros contra a Poliomielite. Hoje eu vejo ações em shopping e locais de visitação pública. Fico contente por ter ajudar a mudar as campanhas.
Nessa procura por locais estratégicos para levar a vacinação contra a poliomielite, encontrei várias casas de prostituição. Iniciei um novo desafio: fazer ações de prevenção junto às profissionais do sexo. Foi assim que começou meu trabalho com relação às IST – Infecções Sexualmente Transmissíveis, principalmente com o surgimento do primeiro caso de infecção pelo HIV/Aids. Ai a história é longa e que depois contarei.
Criei campanhas educativas temáticas e regionalizadas em outros estados. No carnaval criei os “Blocos da Prevenção” lançados num congresso no Rio de Janeiro, e que se tornou uma estratégia de prevenção em várias capitais do nosso Brasil.
Com as ações diferentes que criava em Sergipe, fui ficando conhecido nacionalmente e aproveitava para divulgar para o Brasil a nossa Cidade de Aracaju e as ações consideradas “inovadoras” pelo Ministério da Saúde. Comecei a receber convites para trabalhar em outros estados, mas sempre aceitei como consultoria temporária pois minha adoração sempre foi morar em Aracaju.
Divulgando Aracaju com notícias positivas
Fico feliz quando vejo notícias boas sobre minha terra. Através do meu trabalho, eu procurei divulgar a cidade onde nasci, através de matérias na mídia nacional. A primeira matéria foi sobre minha vida média através de um programa que a TV Globo exibia denominado “Gente Que Faz”. Existia uma pesquisa em cada estado e em Sergipe eu fui uma das pessoas escolhidas. No Jornal Nacional, da Rede Globo, foi divulgada a criação do primeiro e único carro em forma de preservativo, “O Camisildo”. Essa criação levou ganhar alguns prêmios nacionais e internacionais. Um programa nacional denominado “Isto é Brasil” divulgou o primeiro Ônibus Educativo sobre HIV denominado “Ônibus Vermelho da Aids”, que foi destaque nacional. A TV Bandeirantes também divulgou o ônibus educativo e até a CNN Internacional. A maior matéria nacional e que trouxe mudanças de práticas educativas no Brasil, criada em Aracaju foi o Programa Fantástico, com a amiga Glória Maria, que passou uma semana em Aracaju, acompanhando o meu trabalho nos terreiros. Criei aqui em Aracaju, novas estratégias de trabalhar a prevenção ao HIV e outras IST nos terreiros de matriz africana. Essa matéria serviu de alerta para todo o Brasil, e a partir dela, os estados começaram a realizar ações educativas nos espaços de culto de religiões afro-brasileiras, como o candomblé, a umbanda.
Adoro Aracaju e, enquanto Deus me der saúde, quero lutar por minha querida terra onde nasci e poder ajudar a população. Parabéns querida Aracaju!