Árias e Esperança

A poesia tem sido, nas histórias literárias do mundo, expressão sentimental dos povos, não raro associada a música para o encantamento da leitura. Linguagem por excelência, a poesia é uma síntese estética, sobre as realidades tristes, injustas, sobre as incertezas, sobre o cotidiano amargurado e sem rumo dos que sofrem. Arma lírica, a poesia tece o amor em cantos que embalam as esperanças, como instrumento perene de beleza, sacudindo a poeira triste que pesa sobre a humanidade.

Ser e assumir-se poeta é tomar um lugar de onde possa, com palavras, versos, poemas, aliar-se aos que amam, lançar olhares próximos sobre estrelas longínquas, fixadas no tapete luminoso do passado incerto, e é revestir com a couraça das cores a realidade nua e crua que marca a construção da história. Porque o poeta e a poesia, sujeito e objeto, têm poderes que apascentam os desgarrados, confortando-os com o ritmo e a cadência dos versos.

Telma Maria Santos apresenta-se, novamente, com sua armaria sentencial, contida no novo livro Árias e esperança (Aracaju: Fundação Oviêdo Teixeira, 2008). São poemas, que a exemplo daqueles que compõem o livro de estréia, Além das flores, devem ser lidos como fragmentos de sensibilidade, que universalizam a condição pessoal, perante o mundo e a vida, tendo-os próximos como cenário e realidade, indissolúveis.


Bióloga, Telma Maria Santos sabe, mais que os outros, que a biologia é a fatalidade humana. Jurista, magistrada federal, conhece o direito como fenômeno da vida social. E para além da formação e da experiência, tem consciência de que a poesia, eternizada pelo uso, age como um bálsamo que acalma e regenera as dores do mundo. Fazer poesia, escrever e publicar versos, é exercer uma ação solidária, essencialmente instrumentalizada como ofício humano.

Cientistas e filósofos, homens de reflexões, têm feito, muitos deles, da poesia um acréscimo, um complemento, um “acabamento” de suas obras, porque os versos têm competência verbal para atravessar, válidos, o tempo. Miguel Reale, jurista e pensador, manejou a poesia como instrumento de afirmação de sua visão do mundo. Na Justiça sergipana, homens como Homero de Oliveira, Carvalho Neto, Enock Santiago, conciliaram a técnica de suas decisões, com a leveza inspirada da poética. E quando não apenas a poesia, outros homens e mulheres  do campo do Direito romperam a fronteira do fazer intelectual, e se transformam mestres das palavras, como Artur Oscar de Oliveira Deda, Luiz Carlos Fontes de Alencar, Clara Leite de Rezende, na justiça estadual, Vladimir Souza Carvalho, Telma Maria Santos, na justiça federal, abrindo caminho a outros letrados, cuja sensibilidade projetam seus nomes, como José Anderson Nascimento, José Anselmo Oliveira, Carlos Augusto Machado, Evânio Moura, Netônio Machado, José Artêmio Barreto, ou Carlos Rebelo, José de Castro Meira, Ronivon Aragão, para citar os que adquiriram, nas cátedras e nas discussões públicas, visibilidade intelectual.


O livro de Telma Maria Santos atesta sua presença intelectual na vida sergipana, como uma contribuição à história literária. Árias e esperança é um novo degrau, na caminhada que apresenta a autora aos leitores, com o valor intrínseco dos seus versos. Ela mesma parece resumir essa polaridade, na segunda estrofe de Reflexos:

                   “E a lição de humildade

                   da lua que se derrama,

                   após o dia de espera,

                   tomando emprestado do sol

                   o brilho do qual se reveste,

                   para reluzir sobre a terra.”
 

A leitura do novo livro de Maria Telma Santos, com apresentação de Margarida Cantarelli, desembargadora federal em Pernambuco,lançado nas dependências da Seção Judiciária Federal, em Aracaju, mais do que recomendada, é um exercício pessoal de adesão a poesia, como ato político, ideológico, que revoluciona sem perder o lirismo, que eleva sem abrir mão da leveza, sem descurar com o sotaque local, universalizado nos sentimentos e sensações presentes na alma humana.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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