Ariel Sharon (1928-2014)

Cândido Luiz S. Maynard

Graduado em História
Integrante do Grupo de Pesquisa GPDAS  (CNPq/UFS)
Email: candido@maynardlearning.com

“Um obituário deve ser um exercício de história contemporânea, não uma oração fúnebre,” disse Peter Utley, jornalista inglês e Editor de Obituário, The Times. Neste sentido, é árduo o esforço de sintetizar, em poucas palavras, o que foi a vida de alguém. O que se deve de um itinerário ficar para que lembremos dos atos, das conquistas e dos ensinamentos de um ser humano. O que podemos dizer de um dos mais conhecidos políticos israelenses nas últimas décadas?

Conforme órgãos oficiais do Governo de Israel, o ex-primeiro ministro Ariel Sharon  morreu aos 85 anos no último sábado, dia 11 de janeiro. Ariel Scheinermann, nasceu em 26 de fevereiro de 1928, em Kfar Malal, uma pequena cidade ao norte de Israel. Era filho de Deborah e Shmuel Scheinermann, mas manteve-se afastado da agricultura exercida pelo pai, apesar de sua ficha no kinesset (Parlamento Israelense) chamá-lo de agricultor. Sharon, como ficou mais conhecido em Israel, era formado em Direito, Leis & Estudos do Oriente Médio da Universidade Hebraica de Jerusalém, instituição onde também chegou a tentar a cátedra de história.

Casado e viúvo por duas vezes, suas duas esposas eram também irmãs. A primeira delas foi Margalit, com a qual teve o filho Gur. Ambos, mulher e filho de Sharon, acabaram mortos de forma trágica. Margalit morreu em um acidente automobilístico, em 1962, e Gur em foi vítima fatal de um disparo acidental realizado com um rifle do próprio Sharon em 1967.  A segunda esposa foi Lily, mãe de dois outros filhos: Omrí e Guil´ád. Lily Sharon morreu de câncer em 2000.

Ariel Sharon foi integrante do partido MAPAI (1940 a 1950) também conhecido como Partido dos Trabalhadores de Israel, um partido sionista (não marxista) que fora fundado em 1930 e entre os seus integrantes estava Bem-Gurion, aquele que seria o primeiro presidente do novo Estado judaico. Sharom também foi um dos criadores do LIKUD (grupo da direita nacionalista) em setembro de 1973 e, por fim, do partido KADIMA, em 2005, quando renunciou à presidência do Likud, por conta dos desgastes sofridos e a resistência do partido em o apoiar.  Ele é considerado herói para uma parte da população de Israel e como imprudente e agressivo, dentre outros adjetivos nada louváveis, para outra parte seu próprio povo.

De um lado, “Arik” foi visto como herói, pois desde seus primeiros dias como militar lutou por um Israel independente e autônomo, livre das ameaças e internas e externas. Para esse fim ingressou na Gadna (1942), uma guerrilha formada por jovens judeus e, mais tarde, no Haganá, outro grupo guerrilheiro que lutava pelo fim da administração britânica no território de Israel (naquele momento a parte ocupada era identificada como Palestina).

Em 1948 Sharon já liderava a divisão de alexandrina, onde sofreu um ferimento em combate que o afastou do campo de batalha por alguns meses. Logo depois, em 1949, foi promovido e passou a liderar o grupo de paraquedistas 101, a primeira equipe de forças especiais de Israel. Pouco tempo depois, em 1953, a sua imagem sofre um duro golpe com o massacre de Qibya, onde mais de sessenta civis árabes-palestinos foram mortos. Existem relatos que o próprio Ariel dinamitou casas com pessoas em seu interior.

Na Guerra dos Seis Dias (1967) a Divisão 38, sob sua liderança, realizou feitos históricos adotando ações de estratégia estudadas em algumas academias militares no mundo todo, quando Sharon venceu 16 mil soldados egípcios com um contingente 50% inferior. Na guerra de Yon Kipur (1973) ele concorria ao Kinesset  pelo partido Likud, venceu, mas logo depois renunciou.

Sempre controverso, Sharon também foi o responsável pela utilização das forças israelenses contra o próprio povo judeu, quando da desocupação dos territórios ocupados em Yamit (Operação Pomba Vermelha), houve uma retirada de parte dos territórios árabes-palestinos ocupados e a evacuação de 8.000 colonos com a demolições de casas de Judeus que se recusavam a deixar a região, mas a área foi totalmente desocupada apesar do clamor da população e da pressão midiática local.

Politico, Militar, Nacionalista. Existe muito a contar sobre Ariel Sharon. Seu trabalho ao lado de Ben-Gurion e Yitzhak Rabin. O velho general foi ministro em diversas áreas, agricultura, infraestrutura e defesa de um dos menores países em extensão territorial do mundo, o lugar chamado ironicamente de “quinquagésimo primeiro estado americano”.

Morre um dos homens que com certeza marcam a história do povo judeu, dos árabes-palestinos. Segundo informações do hospital Shiba-Tel HaShomer, próximo a Tel Aviv, onde esteve internado desde o seu último derrame, os filhos de Ariel Sharon, Omrí e Guil´ád, estiveram todo o tempo ao lado do  seu leito. Nos primeiros dias de 2014, o polêmico “leão” (eis o significado de Ariel em hebraico) travou a sua última batalha.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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