Arnaldo Rollemberg Garcez, um político de muitos mandatos

Arnaldo Rollemberg Garcez, filho de João Sobral Garcez e de Alzira Barreto Garcez (o nome da família materna era Barreto, mas ganhou o Rollemberg por conta de ter sido amparado, em sua criação, por Adolfo de Faro Rollemberg, do Engenho Escurial), nasceu em Itaporanga (SE) em 19 de janeiro de 1911. Viveu infância típica de menino de engenho, recebendo as primeiras lições da professora Técia Rios, que dava aulas na fazenda Camaçari, completando o curso primário no Grêmio Escolar, de Aracaju (na praça Olimpio Campos, local onde mais tarde foi instalado o Colégio Jackson de Figueiredo), dirigido pelo professor e magistrado Evagelino de Faro, onde também cursou humanidades, fazendo exames completares no Ateneu.

 

Os afazeres da fazenda, conciliados com os estudos, não permitiram a formação superior. Filho único, alternava sua presença semanal em Aracaju com os finais de semana em Itaporanga. Mas, mesmo assim, estudou na Escola de Comércio Conselheiro Orlando e alimentou a idéia de ir para Salvador estudar Direito, mas foi vencido pela imposição da realidade.

 

Orientado pelo seu tio e sogro Silvio Garcez, pai do escritor José Augusto Garcez, Arnaldo Rollemberg Garcez ingressou na política local, filiando-se à União República, partido liderado pelo médico Augusto César Leite. A lógica dominante na família era a de que, quem tivesse condição de administrar seus próprios bens, poderia entrar na política e representar os interesses públicos.

 

Filiado em 1932 entre os unionistas, Arnaldo Garcez participou da campanha de 1933 e candidatou-se para a Assembléia Estadual Constituinte de 1934, presidida por Pedro Diniz Gonçalves Filho, o Pedrinho do Brejo, encarregada da elaboração da Carta Constitucional de Sergipe. Participaram da Assembléia e assinaram o novo texto constitucional, Manuel de Carvalho Barroso, Luiz Garcia, Orlando de Calasans Ribeiro, Manuel de Carvalho Nobre, Francisco Carneiro Nobre de Lacerda Filho, Manuel Dias Rollemberg, Adroaldo Campos, o Dudu da Capela, José Barreto Filho, Octávio Brandão, Cônego Miguel Monteiro Barbosa, professora Quintina Diniz de Oliveira Ribeiro, Otoniel da Fonseca Dória, Alfredo Rollemberg Leite, José Ribeiro do Bonfim, Luiz Simões de Oliveira e Moacyr Sobral Barreto. Foram também constituintes, mas não assinaram o texto da Constituição, Francisco Lite Neto, Manuel d´Ávila Nabuco, Teófilo Barreto, Nelson de Freitas Garcez, Carlos Correia, José Sebrão de Carvalho e o ex presidente do Estado, José Rodrigues da Costa Dória.

 

Passado o período de constitucionalização do país, a União Republicana elegeu, para a legislatura ordinária, Augusto Leite senador, Amando Fontes e José Barreto Filho, deputados federais e, ainda, o capitão médico Eronídes Carvalho para o governo do Estado. O golpe do Estado Novo, de 10 de novembro de 1937, interrompeu o processo de normalização política do Brasil, levando Augusto Leite a afastar-se da política. As funções parlamentares foram encerradas, mas a política permaneceu no sangue de Arnaldo Rollemberg Garcez.

 

A redemocratização de 1945, conseqüência do fim da II Guerra Mundial, ensejou a criação de partidos políticos, nacionais. Em Sergipe, foram formados dois blocos partidários grandes – UDN (União Democrática Nacional) e PSD (Partido Social Democrático) e outras agremiações menores: PR – Partido Republicano, PTB – Partido Trabalhista Brasileiro, PSB – Partido Socialista Brasileiro, antes Esquerda Democrática, além do PCB – Partido Comunista Brasileiro, e de outros menores. Unionistas, como Júlio Leite, Amando Fontes e Armando Rollemberg ingressaram no PR, Arnaldo Rollemberg Garcez preferiu o PSD, formando ao lado de Leite Neto, José Rollemberg Leite, e outros influentes políticos da transição entre o regime das Interventorias e a redemocratização do Brasil. O PSD e o PR, no entanto, estabeleceram uma coligação nas eleições ao governo do Estado, em janeiro de 1947, vitoriosa com o nome de José Rollemberg Leite, repetida nas eleições seguintes de 1950, 1954, 1958 e 1962, ainda que nesta última eleição o candidato fosse recrutado das bases udenistas, o deputado federal Seixas Dória.

 

Arnaldo Rollemberg Garcez foi o candidato da coligação PSD-PR na eleição de 1950, vencendo ao candidato da UDN Leandro Maciel, com a pequeníssima vantagem de 22 votos, provocando disputa jurídica nos tribunais eleitorais.  A defesa da eleição limpa de Arnaldo Garcez foi feita por Amando Fontes, deputado federal eleito, naquele mesmo pleito, pelo PR. No governo, Arnaldo Garcez empenhou-se em realizar obras importantes, cercando-se de intelectuais, como Manuel Ribeiro, pai do escritor João Ubaldo Ribeiro, José Silvério Fontes, que foram auxiliares diretos, Maria Thetis Nunes, que dirigiu o Ateneu, dentre outros colaboradores. A construção do novo prédio do Instituto de Educação Rui Barbosa, na rua de Laranjeiras, do Auditório do Ateneu, hoje Teatro Ateneu Governador Arnaldo Garcez, o Conjunto Agamenom Magalhães, o Parque de Exposições João Cleofas, foram obras que marcaram a sua administração.

 

Foi também no seu governo que Sergipe despertou para a exploração dos seus minérios. Em 1954 instalava-se a empresa LIZ, para o comércio e beneficiamento do calcário, sob a direção de Walter Baptista, produzindo 10 mil toneladas anuais de Gesso cré e logo depois o médico Geraldo Majela começava a exploração de carbonato de calcio, 100% puro na jazida.

 

Ao construir o prédio novo e amplo do IERB, o governador dava os primeiros passos para a criação da Faculdade de Medicina, cedendo o velho prédio da Escola Normal, construído em 1910 pelo presidente Rodrigues Dória. A Faculdade de Medicina não saiu, mas a Escola de Serviço Social foi criada, com o apoio do governo e a participação da Igreja, então tendo como bispo Dom Fernando Gomes dos Santos. A parceria do governo com a Igreja resultou em diversas obras sociais e a criação, em 17 de janeiro de 1955, ao apagar das luzes da administração, da Organização das Voluntárias, sociedade civil de amparo às obras sociais.

 

Questionado em sua autoridade, o governador Arnaldo Rollemberg Garcez enfrentou a onda de agitação política e social quando do suicídio do presidente Getúlio Vargas, depois de turbulências que tomaram o país, protegendo a vida e os bens de Leandro Maciel e garantindo a ordem pública, no que contou, em parte, com as tropas federais aquarteladas em Aracaju. Os tumultos, que visavam atingir os udenistas, seus adversários, levaram à morte, Lídio Paixão, trucidado pela multidão enfurecida. 1954 foi também um ano eleitoral e a coligação formada pelo PSD-PR, que dominou o governo do Estado por oito anos, foi derrotada nas urnas. Por pouco mais de mil votos de diferença, Leandro Maciel derrotou o médico Edelzio Vieira de Melo, que tinha sido o vice governador de Arnaldo Garcez.

 

Político de muitos mandatos, Arnaldo Rollemberg Garcez foi eleito deputado federal em 1958, e reeleito em 1962, pela coligação Aliança Social Democrática, formada principalmente pelo PSD-PR, e em 1966, já pela Aliança Renovadora Nacional (Arena). Foi, também, por dois mandatos (1983/1987 e 1993/1997) prefeito de Itaporanga, realizando obras essenciais, como o desmonte do morro São Benedito, da entrada da cidade, agenciando a paisagem junto a BR e ao rio Vaza-Barrís, e a construção do Mercado e de outros prédios públicos, úteis à população itaporanguense.

 

Casado, desde 1937, com a prima, Maria Augusta Garcez, sem filhos, Arnaldo Rollemberg Garcez, aos 95 anos, continua residindo na fazenda Camaçari, no município de Itaporanga d’Ajuda, com rápidas visitas a Aracaju.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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