As comédias de hoje, as chanchadas e o cinema brasileiro

Andreza Maynard

Doutoranda em História UNESP

Integrante do GET/UFS/CNPq

Nas últimas duas décadas se tem falado de uma retomada do cinema nacional. Em parte isso tem sido atribuído ao sucesso da produção de filmes que seguem um gênero muito particular, a comédia. Apontada como um caminho certo em direção ao sucesso, as comédias parecem ser uma forma de garantir uma boa arrecadação nas bilheterias de todo o país. Enquanto muitos produtores e artistas comemoram os resultados, alguns críticos de cinema têm rejeitado as fórmulas óbvias das produções que fazem rir. Diante desse quadro é possível lembrar as discussões que se travavam em torno do cinema nacional nos anos 1940.

As chanchadas, gênero que misturava a comédia pastelão aos sucessos musicais do carnaval, não eram bem avaliados pelos críticos, mas sem dúvida alguma tinham grande apelo junto à população. O gênero surgiu na década de 1930, seguiu pelos anos 1940, mas explodiu no decênio seguinte. Os nomes de Oscarito e Grande Otelo estão atrelados às chanchadas, assim como as marchinhas de carnaval.

Como as músicas que apareciam nos filmes já haviam sido extensamente divulgadas através do rádio e das festas carnavalescas, o público facilmente reconhecia as letras e o ritmo. Essa operação gerava um sentimento de familiaridade no público frequentador dos cinemas. Além disso, os diálogos simples e as confusões que envolviam os personagens não exigiam uma reflexão profunda por parte da audiência. Acima de tudo, as chanchadas eram filmes para fazer rir.

No entanto a produção nacional não fazia sombra à produção norte-americana. Os filmes hollywoodianos predominavam nos cinemas brasileiros. As poucas fitas produzidas no Brasil ainda encontravam limitações para serem copiadas e distribuídas em quantidade suficiente para chegar aos quatro cantos do país. Nesse mesmo período, Getúlio Vargas criou várias leis para incentivar a produção e exibição de filmes nacionais de longa-metragem. Ainda assim, a competitividade com os filmes estrangeiros era extremamente desigual.

Uma das razões para as chanchadas alcançarem o sucesso foi o baixo custo dessas produções. Ainda assim, produtores e artistas continuavam solicitando que o governo federal oferecesse maiores subsídios à produção cinematográfica nacional.

Muitos artistas que atuavam nos filmes brasileiros eram recrutados no teatro, daí os excessos que muitos cometiam ao empregar nas telas a mesma expressão corporal e facial que servia aos palcos. A qualidade técnica era mais um aspecto que deixava os filmes nacionais em desvantagem. Comparada à produção norte-americana, a imagem e o som das fitas nacionais deixavam a desejar.

Atualmente os filmes brasileiros continuam a travar um árduo combate com os filmes estrangeiros. Seguindo o rastro dos sucessos de bilheteria e o gosto do público, as comédias continuam sendo uma das principais apostas. Personagens de telenovelas inspiram filmes inteiros, o emprego de fórmulas repetidas continua surtindo efeito positivo, bem como a cópia mal disfarçada das comédias norte-americanas.

O famoso cineasta Cacá Diegues defende o gênero, pois segundo ele “Quem dita o sucesso é o público”. Mas essa declaração não encerra a polêmica em torno da produção atual das comédias. Ao que parece, aqueles que desejam protestar e os que se dispõem a rir, vão esperar ansiosamente pelas 13 comédias que o cinema nacional pretende lançar ainda este ano.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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