As controvérsias que cercam Margaret Thatcher

Andreza Maynard

Doutoranda em História Unesp

Integrante do GET/UFS/CNPq

A notícia da morte de Margaret Thatcher, ocorrida no último dia 8 de abril, logo se tornou manchete em vários meios de comunicação. As ambiguidades que a cercavam se refletiram também nesse momento. Enquanto personalidades importantes da política internacional divulgavam notas de pesar lamentando o falecimento de Thatcher, alguns grupos organizaram manifestações públicas para comemorar o fato.

Conhecida como a “Dama de Ferro”, Margaret Hilda Thatcher, liderou o partido conservador entre 1975 e 1990. Ela ocupou o cargo de primeira-ministra do Reino Unido entre 1979 e 1990. Seu período de governo foi marcado pelo esforço de modernizar a Inglaterra a partir de uma ampla política de privatizações, que ficaram conhecidas como “um ingrediente crucial para o Thatcherismo”. Apontada como uma figura inflexível, seus críticos destacam que a força de suas convicções acabou se convertendo numa fraqueza.

No campo internacional, Thatcher se avizinhou do presidente Ronald Reagan, aproximando a Inglaterra dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que ajudou nos entendimentos entre americanos e soviéticos em plena Guerra Fria.

A disputa pela posse das Ilhas Malvinas (chamadas de Falklands pelos britânicos), em 1982, e o triunfo militar sobre os argentinos contribuiu para a vitória de Thatcher nas eleições de 1983. Apesar do custo humano das ações implementadas pela “Dama de Ferro”, o thacherismo mudou a maneira como os ingleses viam a economia, bem como colocou a Inglaterra numa posição de destaque na política internacional.

Em 1992 Thatcher foi agraciada com o título de Baronesa, uma honraria que recebeu, dentre as muitas homenagens que presenciou em vida. Existe um grande número de obras que tratam sobre a vida de Thatcher, sua experiência na política britânica e seu legado, que não se restringiu ao Reino Unido. Ela própria escreveu suas memórias, publicadas em dois volumes. E agora, diante da sua morte, o mercado editorial está movimentado. Sua autobiografia foi reeditada em um volume. Também estão sendo reeditados os livros “The Iron Lady” de John Campbell, e a novela “How I Killed Margareth Thatcher” de Anthony Cartwright.

Os editores britânicos tomaram a dianteira e estão preparando publicações inéditas. Logo após o funeral de Thatcher será lançado “Margaret Thatcher: The Authorised Biography, Volume One: Not for Turning”, escrito por Charles Moore. Desde 1997 Moore trabalha na confecção dessa biografia autorizada, tendo acesso a documentos particulares, ao mesmo tempo em que entrevistou a Thatcher, familiares e pessoas próximas a ela. Até o fim do mês de abril também deve ser lançado o livro “Not For Turning: The Life of Margaret Thatcher”, de Robin Harris, que durante anos escreveu discursos para a primeira-ministra e participou da confecção dos dois volumes de sua autobiografia.

Margaret Thatcher também está disponível em DVD. Em 2011 a BBC lançou “The Rise & Fall of Margaret Thatcher”, mas a produção não teve tanto sucesso quanto o filme “A Dama de Ferro” (2011), lançado no Brasil em 17 de fevereiro de 2012. A produção recebeu 2 Oscars, um deles pela atuação de  Meryl Streep. O filme retrata o drama pessoal de Thatcher, com aproximadamente 80 anos, que luta contra as limitações da idade e da saúde. Apesar de ter sido um sucesso entre os críticos, o filme teve um resultado de bilheteria modesto, nada que o colocasse entre os maiores sucessos de 2012. Em todo caso cabe destacar o apelo que os temas biográficos têm no cinema.

Há um significativo interesse do público em geral pelas histórias que narram os dramas da vida, sobretudo de figuras emblemáticas, como foi Thatcher. Atendendo às necessidades do mercado editorial, os livros e produções fílmicas exploram as dificuldades enfrentadas por uma mulher que decidiu se dedicar à vida pública e à política num Estado conservador. Vários autores afirmam que ela foi a maior Chefe do Governo britânico desde Winston Churchill. A despeito das muitas críticas, no dia 17 de abril Thatcher receberá  um funeral pomposo, com honras comparadas àquelas oferecidas a Churchill.

Num momento em que a Inglaterra passa por limitações financeiras, os gastos com a cerimônia de adeus a Thatcher divide opiniões. Manifestantes organizam encontros através da internet para protestarem contra o que consideram um desperdício de dinheiro público, já que boa parte do funeral será custeada pelo governo. Resta saber se estes protestos se dirigem apenas à polêmica Thatcher, ou se eles também se referem ao descontentamento dos ingleses diante das sucessivas crises políticas e econômicas que atravessam a Europa desses dias.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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