Quando analiso os pleitos eleitorais, não vejo o resultado apenas sob o contexto dos meus preferidos. Vejo, porém que o resultado é sempre uma lição da vida, com a vitória sorrindo para os mais novos, sobretudo quando há um envelhecimento das teses e de seus defensores. O eleitorado do Governador Marcelo Deda, por exemplo, não se exauriu ainda. Seu novo mandato que o diga, com a mesma exibição de preferência majoritária! Manteve seu percentual eleitoral, é verdade! Mas na capital foi derrotado; rejeição manifestada, não pela inserção de uma novidade, mas pela saudade de um tempo já passado. Um sinal a refletir, afinal houve uma preferência renovada por algo que já se pensava esquecido e superado, mas que está vivo, ensejando uma aura positiva de saudade. E o Governador não ficou indiferente à lição recebida, mesmo quando afirmou entre sorrisos televisivos que isto não o preocupava. Incomodado estaria, disse ele, se fosse um pretendente à prefeitura de Aracaju. Risos e sisos à parte, esta rejeição de Aracaju e de sua circundância está a sinalizar uma exaustão de seu discurso, cansaço que pode crescer como onda irrefreável, mesmo com o seu desempenho incomparável nos debates da TV. Será um iniciar de repulsa, uma espécie premonitória de decepção frente à sua facilidade no verbo e no gesto? Eis um dado a refletir, exigindo-lhe humildade, sobretudo porque um segundo mandato sempre começa, mantidos os vícios, com equipes gastas e cansadas, já desmotivadas e sem despertar a mesma esperança. Sem falar que o apoio federal dificilmente será o mesmo. Quanto ao seu contendor, o Ex-Governador João Alves, seja aplaudido sobremodo. Houve uma superação de expectativa, com Aracaju abraçando-o significativamente, após décadas de afastamento. Por outro lado, ninguém poderá negar-lhe a firmeza na luta e a liderança oposicionista perante tantos claudicantes e fugidios. João Alves sai da recente contenda como um Davi agigantado, sobretudo porque ninguém queria segui-lo ao desabrigo. Todos queriam ser agasalhados na árvore frondosa do poder, amparando-se nos índices positivos do Presidente Lula, em flertes repelidos e adesões recusadas. E o povo reconheceu e repeliu esses acenos e enganos. Se há uma lição, o grande recado desta eleição foi a sua opção pelo novo. O resultado mostrou mais uma vez que, em curto ou longo prazo, o jovem sempre supera o longevo. E neste particular, sabedoria do homem é saber-se superável, e já ultrapassado. O que é difícil! Mesmo sabendo que os nossos passos restam tardos, com músculos lassos, e a mente tergiversando em lapsos de retardos. Quanto é difícil reconhecermos isso; a sabedoria da senilidade, em reconhecimento da nossa própria fugacidade. Aquilo que os atletas devem possuir; a astúcia de sair do campo antes dos apelos da arquibancada e dos apupos das gerais. “O que foi não é nada”, repete sempre Fernando Pessoa louvando o passar das aves sem rastro ao léu, e sem sonhos de legar mausoléu. Porque as gerações novas querem mudar o ontem, repaginar o hoje, e fazer o futuro acontecer. E isso não é mais que a essência da vida; criar, recriar, jamais recapitular. Ao velho deve restar boa memória para contar sua boa história, jamais regredi-la a seu favor. E quem não reconhecer assim, será atropelado pela colossal manada em desembesto da vida. Que diga então a tempestade incontrolável desta última eleição; o tsunami desenfreado que revolveu a história sergipana, produzindo a ascensão de um novo sol refulgente, vencendo tudo, desbancando todos, derrubando e revolvendo o ontem, como um porvir que já se fez por vir. Sem ninguém esperar e trazendo a surpresa dos que trabalham em silêncio, e sem temer a crítica e os óbices, eis o Senador Eduardo Amorim como o novo preferido do eleitorado, ultrapassando até a votação do Governador Deda, em feito notável e inusitado. Como será este jovem Senador que se prenuncia como um homem do sim? Sergipe o observa em reverência de espanto como novo herói, gladiador brilhante que se impõe e propõe na arena dos embates políticos. Por tal feito admirável ei-lo no centro do debate, como o político a ser bem comparado e analisado, em sucesso ou fiasco, da nova fornada vitoriosa E nesta avaliação discursiva, desnecessário dizer que não lhe faltarão as escaramuças dos que nele já percebem um conflito, uma barreira aos seus comuns desejos. Concretamente, pode-se afirmar que no cenário eleitoral que se alevanta, o seu nome já está se firmando como uma provável opção dos jovens em substituição aos não mais tão jovens. E Amorim não é o único nesta renovação juvenil. Outros nomes podem ser citados também: Rogério Carvalho, Valadares Filho e todos os outros; todos jovens! Quanto aos da minha geração, os sessentões e mais um pouco, que conseguiram sobreviver nessa eleição, apenas o Senador Valadares, o Vice-Governador Jackson Barreto e poucos parlamentares, na Câmara e na Assembléia. Não há, todavia, qualquer outra explicação para uma renovação tão significativa, porque os derrotados, todos sem exceção, tem os seus méritos, em história exitosa anterior. Ninguém lhes dirá o contrário. Mas é a lei da vida que se impõe! Uma lei mais que necessária! Se o cemitério já nos chama em apelos de sereia, não seria muito pior e bem mais terrível se a regra fosse dos velhos usurparem o lugar dos novos? Assim, a eleição repete a vida, e o que se vê é o renovar da história com a necessária substituição dos atores. Se ao vencedor cabem as batatas machadianas, que aos vencidos não sejam lançadas as cascas das batatas e os apupos descabeçados. Aos que não lograram sucesso, seja-lhes dado o aplauso, o respeito e a admiração de um trabalho não feito em vão. No mais, vale-nos a velha lição do poeta comparando o vôo das aves em ascensos vitoriosos e em declínios já vencidos. “Passa, ave, passa, e ‘ajuda-nos’ a passar.”
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