Pedro Carvalho Oliveira
Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe. Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/CNPq/UFS).
As eleições presidenciais de 2014 acirraram o debate público sobre quem seria o melhor candidato, o mais preparado para conduzir o poder do país, como poucas vezes se viu nos últimos anos. No primeiro e no segundo turno, cada um deles investiu em campanhas, receberam a adesão de milhares de militantes e de novos eleitores interessados em suas propostas. Mas a ampla utilização das redes sociais como espaço de discussão nesse processo chamou a atenção, sendo terreno para a militância e mesmo conflitos entre eleitores. Em meio a postagens e comentários, instaurou-se uma espécie de briga que não estávamos acostumados a ver.
Se olharmos bem, perceberemos como o desenvolvimento da Internet e o uso de redes sociais no Brasil propiciou este fato. Em 2006, estima-se que 36 milhões de brasileiros estavam conectados à rede. Em 2013, esse número teria aumentado para quase 86 milhões, segundo dados da PNAD (IBGE). De acordo com o Ibope, em outubro do último ano, o Brasil foi considerado o quinto país mais conectado do mundo. Para a Social Bakers, nosso país tem hoje quase 60 milhões de usuários no Facebook, a mais utilizada rede social entre os brasileiros, quase o triplo do que tinha em 2006. A conexão móvel, por meio de smatphones, contribuiu para esse crescimento.
Estando os brasileiros tão presentes nesta rede, é comum que temas diferentes figurem entre os milhares de “posts”. Nas manifestações de junho de 2013, houve grande comoção entre os usuários do Facebook, fossem eles militantes ou não dos movimentos em ação. Indignados, revoltados, pacíficos, indiferentes ou cansados dos comentários a respeito dos acontecimentos, os “muros” da rede social ficaram repletos de diferentes leituras sobre o que vinha ocorrendo, além de ter sido um espaço de organização para movimentos sociais organizados. O mesmo ocorreu nestas eleições.
Há, neste sentido, uma forte relação entre os dois momentos. Se as chamadas “Jornadas de Junho” questionavam, entre uma diversidade significativa de agendas, o nosso sistema político, a apoteose desse sistema veio a ganhar uma atenção mais dedicada do público. A revolta com o sistema político vigente, convertida em revolta a um político ou partido específico, inflamou manifestantes recém criados no ano passado e, neste ano, suas reivindicações, independentemente do nível de consciência, foram levadas a público, outra vez, de forma insistente.
O Facebook, como outras redes sociais, é terreno fértil para análises a respeito do comportamento eleitoral, da nossa cultura política. Como os debates são realizados? Quais recursos são os mais utilizados para empreender estes debates? De que região do país os eleitores de um candidato são mais atuantes? Nestas regiões, como vem ocorrendo o desenvolvimento dos recursos relacionado à informática? Eis aqui algumas sugestões de análise aos cientistas sociais e políticos que necessitem buscar junto aos novos meios sociais virtuais possíveis respostas às suas indagações.