AS FEIRAS SERGIPANAS

As feiras são tão velhas quanto a história e têm sobrevivido como um traço, que embora originário do passado é validado todas as semanas, no dia certo, como fundamento do comércio. Nem mesmo a dinâmica comercial, a multiplicação das ofertas, as facilidades criadas para o consumo, alteraram a forma clássica das feiras no interior sergipano, que reúnem milhares de pessoas, de todas as condições financeiras e posições sociais em torno da compra e da venda. Algumas feiras conservam o caráter de trocas, como herança medieval, e são organizadas em centros urbanos, nas capitais brasileiras, como no Recife, em Maceió, Aracaju, dentre outras. As feiras têm uma longa história no mundo, conotadas pelas proximidades ou abrigo, em dias festivos, da Igreja, ou feriados (do latim ferial, dia de repouso). No período central da Idade Média na Europa as feiras foram transformadas em grandes eventos regionais, nacionais, desdobrando-se, não raro, em eventos internacionais onde mercadores, cambistas, operadores financeiros estavam sempre reunidos. Muitas delas ganharam privilégios, poderes especiais, e ficaram famosas, especializadas em determinados produtos, comercializando cavalos, couros, vinhos, tecidos, peças de metalurgia, instrumentos agrícolas, e outros requeridos pela necessidade e pelo consumo. Muitas feiras européias tomaram nome de santos, honrando as origens religiosas, como a de São Bartolomeu, em Londres, a de São Gil, em Oxford, dentre muitas outras. Diversas feiras ganharam fama pela peculiaridade do que comercializavam, outras pelo tempo necessário para as vendas e as trocas, sendo, como verdadeiramente eram, pontos de convergência, locais de encontros regulares, em períodos previamente fixados, com dia certo para começar. Historiadores dizem que as feiras das encruzilhadas que vinham de Flandres, (região que incluía parte da França, da Holanda e da Bélgica), da Alemanha, da Itália, da Provença, (antiga província francesa) se converteram no mercado internacional da Europa, três ou quatro séculos antes dos descobrimentos da América e do Brasil. A lã inglesa, as especiarias e os corantes mediterrâneos, as peles e os linhos alemães, os artigos espanhóis de couro, formavam o estoque das mercadorias postas à troca. As feiras que duravam até 50 dias, que começavam com a chegada e exposição das mercadorias e terminavam com o acerto de contas, foram transformadas em centros financeiros importantes, movimentando somas fabulosas, regularmente. A partir do século XIII, contudo, registrou-se o declínio das feiras como centros bancários, cedendo lugar às comunicações marítimas estabelecidas entre o norte da Europa e o Mediterrâneo. As feiras chegaram ao Brasil com o Governo Geral de 1549. O Regimento dado pelo Rei ao governador Tomé de Souza, em 17 de dezembro de 1548, ordenava que nas vilas e povoações brasileiras fossem realizadas, em um dia certo da semana, ou mais, quando necessário, uma feira na qual os indígenas pudessem vender o que produziam, bem como adquirir dos colonizadores aquilo que precisassem. A Coroa portuguesa tomava, na acepção mais objetiva, a feira como ponto permanente de contato comercial, com regras definidas para os protagonistas, cada um com seu papel. A liberdade de negociar estava, assim, orientada para a satisfação básica das necessidades. Os colonos precisavam dos gêneros da terra, para a sobrevivência, antes de produzir suas lavouras, e tinham coisas que poderiam interessar aos indígenas. As regras da compra e da venda, diferentes das trocas, serviram de base para que as feiras proliferassem por toda a Colônia. Em Sergipe são vagas as notícias de feiras nos séculos XVII e XVIII, embora elas existissem, guardando as mesmas características dos tempos de Tomé de Souza, inclusive o rígido controle das datas, dos dias de realização do encontro semanal. A partir de certo tempo uma lei decidia que “toda reunião, a pretexto de feira, em outro qualquer dia, será considerada ajuntamento ilícito e pagará cada pessoa multa ou dois dias de prisão”. A partir de 1843 a legislação sergipana trata de feiras em vários locais da Província, começando por mudar, naquele ano, da Segunda feira para o Domingo, a feira de Capela. No mesmo ano a feira de Rosário era realizada no Largo da Praça, do meio dela para a rua da Preguiça. Em 1844 a feira de Propriá foi mudada para o Sábado, em Lagarto, no mesmo ano, a feira era realizada no lugar ou praça defronte da casa do finado Semião Correia Pimentel, e em Simão Dias no largo defronte à casa de Braz Correia, em terras de Senhora Santana, padroeira da Freguesia, na estrada que sai do povoado para as matas das Caraíbas. Já em 1848 a feira de Simão Dias está na rua de Baixo, caminho que segue para Tanque Novo. Em 1849 a feira de Socorro é feita no Porto Grande. Em 1870 a de Vila Nova, hoje Neópolis, às sextas feiras, era na rua da Praia, fronteira à rua das Flores. Em Arauá, em 1874, a feira era no Sábado. Em 1875 era revogada a postura municipal de Nossa Senhora das Dores, que proibia feira no dia de Domingo. Em Aquidabã as feiras são autorizadas, em 1877, “no dia que a Câmara designar” e começava na parte do Sobrado do Lima do Silvestre, em procura da lagoa da ponte. Em 1879 as feiras de Gerú e de Umbaúba eram realizadas no Domingo e a de Itabaianinha no Sábado. Em Aracaju as primeiras feiras eram realizadas à margem do rio Sergipe, onde havia uma banca de peixe, com a frente para a rua de Laranjeiras, perto da qual os feirantes se reuniam, com seus produtos, atraindo a população. Somente na década de 1920, no Governo Graccho Cardoso, é que foi construído o Mercado Modelo, denominado de Mercado Antonio Franco e que o povo chamou de Mercado Velho. A legislação não trata, evidentemente, de todas as feiras, nem estabelece uma cronologia. Mas, é de notar que os dias mais comuns das feiras sergipanas são Sábado, Domingo e Segunda-feira. As feiras sergipanas mudaram, é claro, de conceito, mas guardaram muitas semelhanças com as antigas feiras que serviram de base ao comércio e atenderam às necessidades humanas. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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