AS LIÇÕES DA VISITA DE PEDRO II

A Prefeitura de Aracaju está concluindo os trabalhos de reforma na Ponte do Imperador, prometendo entregar aquele equipamento ao público no aniversário da Cidade, 17 de março. Isto traz ao presente um fato marcante da vida sergipana e aracajuana, que foi a visita do Imperador Pedro II, à capital sergipana, em 1860. Uma visita histórica, a mais longa de um governante a Sergipe, repleta de benefícios e de lições que precisam ser conhecidas e consideradas, a começar com a construção do cais que leva, desde então, a denominação de Ponte do Imperador, cartão postal de Aracaju, o mais velho e mais bonito, com os pés de pedra fincados na areia do rio. Há quem reclame que a bela construção não seja, efetivamente, uma ponte, por não ligar as margens do rio. Na verdade ela é um ancoradouro, um cais de atracação, que no século XIX era reconhecido como ponte. A Ponte do Imperador não era única na Aracaju daqueles tempos. A Ponte do Lima, nas imediações da rua de São Cristovão, onde atracavam os navios das companhias nacionais, viveu sua glória, como outras que existiam junto aos trapiches, para facilidade do embarque do açúcar: a Ponte da Confiança, a ponte do Brown, a Ponte do Marégrafo, que enterneceram a juventude de Mário Cabral, como está no seu Espelho do Tempo. Quem chegava a Aracaju descia dos transportes nas costas dos escravos ou dos trabalhadores de cargas. A construção do cais para a descida do Imperador Pedro II, sua mulher e sua comitiva visou acabar com o constrangimento que seria para aquela autoridade, trajando seu uniforme de Almirante, carregado no lombo dos estivadores. Com a construção da Ponte do Imperador a capital sergipana ganhou o seu primeiro Porto, de onde saiam as lanchas da empresa fluvial de Bastos Coelho, depois de José Alcides Leite, dois dos maiores empreendedores sergipanos, para Laranjeiras, Riachuelo e Maroim. A visita de Pedro II a Sergipe não provocou a realização de obras apenas em Aracaju. Laranjeiras e Maroim também tiveram de construir seus portos (ou suas pontes) para receberem o ilustre visitante, porque também não havia, naquelas duas pequenas cidades, atracadouros que permitissem a chegada de barcos de passageiros. Mesmo com a construção dos dois portos, Pedro II não conseguiu entrar com um dos vapores da sua comitiva, deixando o “Pirajá” nas imediações e utilizando a galeota imperial para o resto da viagem, enquanto a comitiva ia de escaleres. Deve-se a Pedro II, portanto, esse melhoramento útil em Aracaju, em Laranjeiras e em Maroim. Na sua visita a São Cristovão, por conta das dificuldades da barra do Vaza Barrís, sua majestade teve de ir a cavalo, acompanhado de autoridades do Império e da Província. Para Estância, onde não houve necessidade de construção de um porto, ele desembarcou numa Ponte de um velho trapiche. O certo é que depois de 1860 a Ponte do Imperador passou a ser um porto para as pequenas embarcações, substituindo a única escada, que serviu a Pedro II, por duas escadas laterais, que garantiam a chegada dos barcos, independentemente do fluxo das correntes. A travessia do rio para a Barra dos Coqueiros, e o movimento dos saveiros, canoas, lanchas, para Santo Amaro, Maroim, Riachuelo, e Laranjeiras estavam apoiados na Ponte do Imperador. O tempo retirou da Ponte do Imperador o seu papel de porto, preservando, no entanto, o equipamento como um testemunho da cidade, nos seus anos iniciais de vida. Foram feitas muitas reformas, mudança de materiais, e até de nome, mas a Ponte do Imperador resistiu para contar sua história e para inspirar os cronistas da terra com sua leveza na beira do rio. Estácio Bahia Guimarães, que é poeta, Cleomar Brandi, que faz no jornalismo a sua literatura, Maria Nele Santos, que é historiadora, ao lado de muitos outros, fizeram do velho ícone da cidade inspiração para seus trabalhos. Seria bom que Aracaju pudesse recompor os traços de sua história, abrindo concursos de textos, crônicas ou não, sobre as marcas físicas do seu passado, e as relações com a vida da cidade, edificada, rua por rua, praça por praça, para ser a capital de Sergipe. Ali na sua velha imponência, na esquina da praça, está a Delegacia Fiscal, que serviu de Paço Imperial por alguns dias, a partir de 11 de agosto de 1860. Imaginar seu interior, decorado especialmente para as visitas, seus dias e suas noites engalanados para tornar agradável aos hóspedes as suas presenças. Ainda existem vários locais, ruas, praças, que viram passar o Imperador com sua curiosidade, a perguntar nas escolas porque o relógio estava adiantado, ou no cemitério porque roubavam a cerca para fazer lenha de cozinha, ouvindo atento as respostas sem convencimento. O interior também guarda lugares por onde passou Pedro II. Laranjeiras, Barra dos Coqueiros, Canal do Pomonga, Maroim, São Cristovão, Estância, Itaporanga, fazenda Escurial todos em 1860, e, na margem do rio São Francisco, quando foi visitar a Cachoeira de Paulo Afonso, no ano anterior, Neópolis, Propriá, Porto da Folha, com Ilha de São Pedro, onde conheceu frei Doroteu e os indígenas Xocó. Há muito o que aprender com tal visita, para formar uma idéia melhor do passado, e para inspirar ações que possam dar a Sergipe, na capital e no interior, um futuro melhor. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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